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Perspectivas

Agregar valor - as estratégias para o Brasil continuar crescendo na avicultura

O olhar para o futuro é de otimismo e os investimentos para a cadeia permanecem como o planejado

Agregar valor - as estratégias para o Brasil continuar crescendo na avicultura

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Por Anderson Oliveira

Mais da metade do ano de 2018 se passou e o setor da avicultura brasileira ainda não tem motivos para comemorar. Nos últimos anos o Brasil se consolidou como o segundo maior produtor de carne de frango e o maior exportador deste produto no mundo. Diferentes reveses, no entanto, podem afetar a trajetória de crescimento do setor. Somente nos seis primeiros meses do ano, a União Europeia estabeleceu embargos para frigoríficos, a greve dos caminhoneiros trouxe fortes impactos na produção e no corte de aves, a Arábia Saudita determinou mudanças no abate brasileiro e a China, por fim, impôs taxas antidumping à carne de frango do País.

Mas ainda que as notícias não tenham sido boas neste ano, o setor da avicultura não está pessimista. O olhar para o futuro é de otimismo e os investimentos para a cadeia permanecem como o planejado, segundo presidentes de cooperativas e de entidades representativas. 

Os entraves enfrentados pelos maiores produtores de carne de frango brasileiros neste ano, na verdade, estimulam uma visão mais aguçada sobre como manter a força em um momento de incerteza. A resposta que parece emergir de situações adversas tem sido uma: agregar valor ao bem produzido.

Foi assim já no passado, quando o cenário econômico do Paraná na década de 1980, conta Robson Mafioletti, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), era de produção de grãos como milho. A distância de até 700 quilômetros entre a região Oeste – onde o insumo era produzido – e o Porto de Paranaguá levou os produtores e cooperativas a observar que a rentabilidade de se produzir milho era pequena devido aos custos do frete. Era preciso agregar valor. “Então, em vez de vender a proteína vegetal, a estratégia estudada foi transformar esse produto em proteína animal”, ressalta Mafioletti, acrescentando que a medida deu certo.

“Enquanto hoje se venderia uma tonelada de milho por US$ 160, por exemplo, a tonelada de frango sai em torno de US$ 2 mil se pensarmos na média. Ou seja, mais de dez vezes a mais. Essa foi a visão que os dirigentes tiveram lá atrás”, comenta o superintendente. Nesse sentido, há uma agregação de valor muito maior com a produção de frangos. Mafioletti lembra que a primeira cooperativa a iniciar esse processo foi a Copacol, em 1982. Atualmente, são oito as cooperativas agroindustriais voltadas ao setor avícola que abatem 2,3 milhões de aves por dia. Desse montante, em torno de 50% são destinados ao mercado externo.

O fechamento de mercados externos importantes, dessa forma, são sentidos pela avicultura, que precisam adotar novas medidas para continuar crescendo. “Todas essas questões impactam nosso mercado”, reconhece o superintendente da Ocepar. Segundo ele, algumas das cooperativas agroindustriais estão arcando com tarifas de quase 30% para continuar as vendas para a China. “Tudo isso parece muito mais uma retaliação comercial pelo crescimento do Brasil nesse setor”, afirma.

A mesma avaliação faz o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins. “Entendemos esses embargos como bloqueios comerciais. Por isso trata-se de um cenário momentâneo, até pela qualidade reconhecida de nossos produtos”, avalia. O otimismo é compartilhado também pelo presidente da Coopavel, Dilvo Grolli. Ele entende que a carne de frango tem dado sinais de que irá se recuperar apesar dos importantes reveses deste ano. “O mercado de frango teve recuperação boa já porque tivemos incremento de preço, embora tenha sofrido muito nesses meses, motivado pelo excesso de oferta e valores dos grãos que aumentaram os custos de produção”, considera.

No entendimento do empresário Roberto Kaefer, diretor-presidente da Globoaves, o fechamento de mercados externos, a retração no consumo interno e o excesso de oferta da carne de frango é um problema a ser resolvido com a nova estratégia. “Não podemos crescer mais em volumes, porque temos perdido mercados, como Europa, e nosso consumo interno não é o mesmo de dez anos atrás”, analisa.

Agregar valor e continuar a crescer

O forte crescimento do Brasil no setor da avicultura nas últimas décadas e que hoje encontra barreiras no mercado externo pode levar a uma mudança na estratégia dos empresários. O próprio Roberto Kaefer indica que os investimentos em aumento da produtividade estão com os dias contados. “Terminamos uma câmara nova para duas mil posições. Esse é o último investimento que realizamos em Cascavel”, comenta.

O presidente da C Vale, Alfredo Lang, também aponta que a cooperativa tinha planos de investir na ampliação da produção de frangos de 530 mil para 600 mil aves por dia. “Com o baixo nível de consumo no mercado interno e os problemas externos resolvemos nos ajustar e crescer bem mais lentamente”, conta. O empresário lamenta que os juros para investimentos também estejam altos, o que inviabilizam medidas como esta.

Para Roberto Kaefer, todas as empresas de aves e suínos vão andar com cautela se vale a pena investir. “Muitas empresas vão repensar estratégias de investimento nesse setor, de forma que determinem nova estratégia de parada de crescimento de volume por algum tempo para ganhar muito mais no rendimento do produto que se tem hoje”, aponta. O diretor-presidente da Globoaves avalia que é necessário crescer em preços para que se continue a ter viabilidade econômica.

A avicultura do Brasil evoluiu muito nas últimas décadas e os avanços devem continuar. A afirmação é de Alfredo Lang, presidente da C Vale. “Temos que avançar ainda mais apostando na agregação de valor à carne, ou seja, transformando a carne em produtos mais nobres, que gerem maior rentabilidade”, comenta, ressaltando que o desafio do setor é produzir o que o mercado pede. A cooperativa até o momento comercializa apenas carne in natura, mas este cenário pode mudar. “Temos planos de colocar no mercado produtos prontos para consumo”, adianta Lang.

Os investimentos para crescimento em volumes anteriormente programados permanecem, afirma Robson Mafioletti, superintendente da Ocepar. As cooperativas do Paraná têm investido ao longo da última década cerca de R$ 2,5 bilhões por ano, em sistemas de automação, armazenagem e tecnologia da informação. Desse montante em 2018, R$ 875 milhões são do setor de proteína animal. Apenas para a avicultura são R$ 375 milhões. No entanto, o mercado precisa e vai se reestruturar em termos de preço diante de um novo cenário, ele acrescenta. Isso passa por atender às necessidades do consumidor.

Direto para a mesa

Dentre as alternativas do setor para agregar mais valor à carne de frango estão aqueles produtos que saem dos supermercados e vão quase que diretamente à mesa do consumidor. “As cooperativas pensam em cortes prontos, pratos pré-processados, pré-cozidos. A gente produz para atender o mercado consumidor, se há a demanda”, acredita Robson Mafioletti.

Outro ponto, nas palavras do presidente do Sindiavipar, Domingos Martins, é investir ainda mais na diversificação da linha de produção, ofertando produtos que têm concorrência menor no mercado. “Como, por exemplo, os produtos temperados para o mercado interno, além da ampliação dos produtos exportados para os principais parceiros”, cita.

Para Alfredo Lang, agregar valor à carne para atender ao mercado consumidor não é mais uma alternativa. “Já é uma das principais fontes de receita”, diz. “As pessoas têm cada vez menos tempo para preparar as refeições, então a demanda por pratos prontos só vai crescer. Quem não se ajustar a isso, vai perder mercado.”

De qualquer modo, há sempre espaço para o mercado avícola crescer. “No mercado interno, é a proteína mais consumida pelo custo beneficio, pois o frango é muito favorável para o brasileiro de renda baixa e média. O frango jamais vai perder parcela de mercado”, aponta Mafioletti.

O olhar para os próximos anos é de crescimento, para Dilvo Grolli. “O Brasil vai entrar em um bom período, porque a América do Sul é o continente com maiores condições de produção de alimentos. O Brasil é o País com mais áreas disponíveis, melhor rendimento, mão de obra”, acredita. Enquanto a população cresce em todo o planeta, é a produção agropecuária brasileira que avança para alimentar o mundo.

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