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Comentário Suíno

O melhoramento genético e o bem estar animal - Por Gilberto Silber Schmidt

A seleção para características fenotípicas, visando o bem estar dos animais, é apenas uma questão de equalização destas com o desempenho produtivo. Leia artigo do pesquisador Gilberto Silber Schmidt.

Chefe-Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Suínos e Aves
Chefe-Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Suínos e Aves

Os diversos indicadores de produtividade tem sido tradicionalmente utilizados como base de avaliação e seleção das espécies explorada comercialmente, gerando resultados expressivos do ponto de ganho genético.

O rendimento individual tem experimentado avanços surpreendentes, mas atingir estes limites tem o seu preço – o bem estar dos animais – que para muitos pesquisadores tem deixado a desejar. As aves bicam suas companheiras até a morte, os leitões mastigam as caudas um dos outros e os bovinos de dupla musculatiura só parem através de cezariana. Estes são alguns dos efeitos colaterais observado em algumas espécies submetidas a intensa seleção com base nos indicadores de produtividade.

As práticas de manejo utilizadas para amenizar estes efeitos colateriais tem sido amplamente criticada pela sociedade, que não admite sofrimento aos animais, em todos os elos da cadeia. Esta nova onda conduz os programas de melhoramento a repensar as estratégias de seleção, que passa pela inclusão de indicadores de bem estar nos modelos de predição do valor genético, na expectativa de reduzir práticas de manejo que levam o animal ao sofrimento.

Um exemplo simples da aplicação de indicadores que podem ser importante para o bem estar animal é do comprimento da calda em ovelhas, que esta ligada a incidência de lesões cutaneas causadas pelas larvas de môscas, principalmente no verão. Considerando que a característica é hereditária, a sua inclusão nos indices de seleção ira reduzi-la, atenuando o problema , consequentemente, o sofrimento dos animais.

No caso de bovinos a produção de linhagens mochas também tem sido um desafio, pois a descornea é uma intervenção cirurgica dolorosa e que na maioria dos casos é realizada sem o uso de anestésico, causando dores excessivas ao bezerro. No caso da dupla musculatura os desafios são maiores, pois a necessidade de cesariana esta ligada as deficiências na estrutura óssea, responsável pela sustentação da carga muscular, mas insuficente para possibilitar um parto normal. O grande desafio é encontrar a combinação adequada entre os fatores ligados a produção e a reprodução.

A seleção para características fenotípicas, visando o bem estar dos animais, é apenas uma questão de equalização destas com o desempenho produtivo, teoricamente um desafio simples, comparado a necessidade de inclusão de indicadores de comportamento social.

A produção intensiva de suínos e aves tem encontrado sérios desafios para reduzir o canibalismo, com práticas de manejo que estão na pauta de serem proibidas. As aves de postura têm seus bicos cortados ao nascimento e os leitões o cauda cortada, como práticas para reduzir a ocorrência de canibalismo.

Em ambas as espécies, em condições normais de manejo, se trata de um comportamento social, que estressa as aves e afeta a produtividade. O grande desafio é a definição dos indicadores “sociais” e os modelos de seleção a serem utilizados, com vista a balancear estes com os indicadores de desempenho. Seria impossível crir um mecanismo de medição individual de comportamento para efeito de seleção, assim, a idéia é buscar um indicador que possa estar correlacionado e de fácil medição.

A viabilidade individual e familiar é um candidato, pois envolve, segundo pesquisadores da Universidade de Wageningen, a dois componentes genéticos a capacidade individual e familiar de sobrevivência. Estes componentes estão muito ligados ao comportamento social que tem forte componente genético. Famílias onde a mortalidade é mais acelerada, corresponde comportamento anti-social, e devem ser descartadas. Os pesquisadores buscam identificar os genes envolvidos, acreditando na possibilidade de reduzir a taxa de mortalidade de 3 a 4% por geração utilizando animais mais sociáveis.

Na teoria as perspectivas são relativamente boas, mas na prática existem dificuldades de explorar o potencial máximo destes possíveis beneficios. A inclusão de medidas de bem estar nos programas de melhoramento reduz a intensidade de seleção em características de maior interesse econômico. Existe um indicativo de que as aves mais sociáveis são mais tardias, reduzindo a longevidade produtiva, característica que não interessa ao produtor, que prefere cortar os bicos.

A expectativa de mudanças no processo de definição das características a serem incorporadas no melhoramento esta diretamente ligada as mudanças no cenário imposto pelo mercado, que depende basicamente de pressões e diretrizes impostas pelo consumidor. Novos modelos de sistemas de produção, por exemplo a criação no chão, advindo da proibição do uso de gaiolas na produção de ovos, cria a necessidade de investimentos por parte das empresas de melhoramento em linhagens mais sociáveis.

Porém, por um bom tempo, as questões relacionadas ao bem estar animal vão estar voltadas ao desenvolvimento de praticas de manejo mais humanitárias, visando um menor estresse dos animais. Existem muitos gargalos a serem superados antes da incorporação de indicadores de bem estar nos programas de melhoramento genético das raças comercialmente exploradas.

Gilberto Silber Schmidt
Coordenador do Labex Korea – Suwon, Republic of Korea
[email protected]

Visite: http://labexkorea.wordpress.com/