por MSc Humberto Vinícius Faria da Cunha, médico veterinário
As miopatias musculares em frangos de corte, como peito de madeira (wooden breast – WB), listras brancas (white striping – WS) e carne de espaguete (spaghetti meat – SM) estão emergindo como sérios desafios para a indústria avícola global.
A seleção artificial nos últimos 60 anos levou a taxas de crescimento rápidas e maior rendimento de carne em frangos de corte, mas também introduziu alguns desafios, como o aumento da ocorrência de anormalidades no músculo do peito relacionadas ao crescimento (ou seja, listras brancas, peito de madeira e carne de espaguete) (Barbut et al., 2024; Soglia et al., 2021).
Vários estudos realizados nos últimos 10 a 15 anos sugeriram uma possível conexão entre essas miopatias recém-surgidas e as altas taxas de crescimento dos frangos de corte modernos, que foram submetidos a uma intensa criação seletiva desde a década de 1950 (Velleman e Clark, 2015; Petracci et al., 2019; Soglia et al., 2021). Tais condições comprometem a qualidade da carne e geram impactos econômicos significativos.
Embora também exista incidência significativa de miopatia peitoral profunda (Deep Pectoral Myopathy – DPM), discutiremos aqui somente as três miopatias supracitas (WS, WB e SM), que atualmente são amplamente discutidas e estudadas pela comunidade científica, apresentando impactos econômicos na indústria avícola.
Wooden Breast (WB)
A miopatia Wooden Breast (WB) é caracterizada pelo endurecimento do músculo Pectoralis major, que apresenta áreas rígidas, pálidas e ocasionalmente com manchas hemorrágicas. Essa condição está associada a depósitos de tecido conjuntivo fibrilar e alterações na arquitetura muscular, incluindo a necrose de fibras e inflamação celular (OLIVEIRA et al., 2021). Além das alterações de aparência acima mencionadas, os músculos com miopatia WB também apresentam diminuição do conteúdo de proteínas, juntamente com aumento do conteúdo de colágeno e lipídios, baixa capacidade de retenção de água (CRA) e textura mais dura (Soglia et al., 2016; Li et al., 2023).
A ocorrência da miopatia WB em frangos de corte está associada ao rápido crescimento e desenvolvimento das aves, mas sua etiologia permanece desconhecida (MUDALAL et al., 2014; MUTRYN et al., 2015). A detecção de casos graves de WB pode ser realizada e determinada pela palpação do músculo Pectoralis major. A identificação e a caracterização da WB no abatedouro são baseadas na aparência e na dureza do peito do frango (SIHVO; IMMONEN; PUOLANNE, 2014) e dependem da sensibilidade, do treinamento e do conhecimento do avaliador. Também pode estar acompanhada por uma protuberância pálida e semelhante a uma crista caudal visível (Figura 1), e a superfície muscular é frequentemente coberta com líquido viscoso claro, especialmente em casos severos (SIHVO; IMMONEN; PUOLANNE, 2014).
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Figura 1 – Pectoralis major com miopatia WB. Destaque para a presença da crista caudal visível, tipicamente encontrada nessa miopatia.
White Striping (WS)
White Striping (WS) é uma miopatia associada à presença de estrias brancas paralelas às fibras musculares no Pectoralis major. Essas estrias refletem infiltrações de gordura intramuscular e perda da uniformidade das fibras (PETRACCI, M., CAVANI, C., 2012).
Um rápido ganho de peso corporal em frangos de corte resulta em um aumento notável do tamanho do músculo peitoral, o que pode levar a alterações histopatológicas drásticas, como necrose e lise das fibras, infiltração de células inflamatórias, degeneração vacuolar e hialina e substituição do músculo danificado por tecido conjuntivo (fibrose) e adipócitos (lipidose) (Baldi et al., 2018; Kuttappan et al., 2013). Como consequência, há uma perda de valor nutricional e tecnológico da carne de frango afetada pela miopatia da WS. Em comparação com a carne de animais não afetados pela miopatia, a carne WS geralmente contém maior teor de lipídios e menor teor de proteínas (Baldi et al., 2018; Soglia et al., 2016) e apresenta capacidade de retenção de água (CRA) prejudicada durante o cozimento (Alnahhas et al., 2016; Petracci et al., 2013).
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