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Economia

O que o IBC-Br diz aponta sobre o agro

Indicador do BC dá pistas sobre a atividade econômica, mas não é ele que permite afirmar se o campo segue com “fôlego” para empurrar a economia

O que o IBC-Br diz aponta sobre o agro

Na segunda-feira, o Banco Central apresentou os dados do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) referentes a maio com um resultado que pouca gente esperava: uma queda de 2%, a mais acentuada desde março de 2021. Não se pode ignorar o que sugerem os números de um indicador que tem a alcunha de “prévia do PIB”, mas tampouco se pode pressupor que ele informe ou indique coisas que, na verdade, não são seu papel. Ainda assim, tão logo saiu o informe do Banco Central com os novos dados do IBC-Br, multiplicaram-se leituras enviesadas, que penderam para o lado que apontava o nariz ideológico do escriba. Uma das mais curiosas foi a de que o agronegócio, grande propulsor do Produto Interno Bruto do país no primeiro trimestre, não teria tido “fôlego” para ser mais uma vez o motor da expansão no trimestre seguinte, o que teria aparecido no IBC-Br com os dados referentes ao mês de maio. No intervalo entre janeiro e março, lembremos, o PIB geral cresceu 1,9% e o da agropecuária, estupendos 21,6%.

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O índice do BC captura indícios sobre a atividade econômica exclusivamente a partir do aspecto da oferta nos setores de serviços, indústria, varejo “e algo de produção agrícola”, explica Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos. Ao contrário do que ocorre na apuração do PIB, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IBC-Br não tem a “conciliação” dos dados da oferta com os de demanda e renda, as outras duas “óticas” por meio das quais se pode calcular o Produto Interno Bruto.

Na safra 2022/23, o Brasil teve uma colheita recorde de grãos – a produção chegará a 317,6 milhões de toneladas, segundo a estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A oferta, portanto, será alta como nunca. Além disso, em linhas gerais, a safra andou sem grandes contratempos, o que permitiu que a colheita de um ciclo que já se sabia que seria recorde ficasse ainda mais concentrada no primeiro trimestre, o que potencializou o resultado da agropecuária no período. Assim como virtualmente todos os indicadores econômicos, o IBC-Br é imperfeito. Ele tem, ainda assim, o mérito de ajudar a amenizar a penumbra sobre o andor da economia no intervalo entre uma divulgação de PIB e a seguinte. O indicador do BC não seria, com isso, capaz de captar se, em maio, o agro teve ou não “fôlego” para empurrar a economia para um salto que lembrasse o do primeiro trimestre. “Mas ele nos diz algo sobre a desaceleração da economia”, diz Gardimam. Ele ajuda a vislumbrar, por exemplo, o saldo de um ano e meio de aperto monetário.

Outro retrato do desempenho do agro aparece no Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), elaborado pelo Centro de Estudos do Agronegócio, da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro). Em maio, em seu melhor desempenho neste ano, a atividade da agroindústria cresceu 1,6%. Segundo os autores do estudo, a expansão da agroindústria “acompanhou a conjuntura macroeconômica do país”, com inflação mais moderada, “o que favoreceu o consumo das famílias e, consequentemente, a produção agroindustrial”.

A melhoria do quadro para a agroindústria ainda não se firmou: o segmento oscilou entre altas e baixas em todos os cinco primeiros meses de 2023. Na avaliação dos pesquisadores do FGV Agro, faltam condições para uma retomada mais firme – e na lista de empecilhos, os autores citam “a elevada taxa de juros e, naturalmente, o aumento do endividamento e inadimplência das famílias”.

André Diz, pesquisador do FGV Agro, também reconhece que o IBC-Br não é o indicador mais adequado para esmiuçar o estado geral dos diferentes setores da economia. Ainda assim, é possível encontrar pistas que, mais tarde, aparecerão no resultado do PIB.

No caso do agro, o pesquisador observa que o preço da saca de soja no Porto de Paranaguá (PR), que era de R$ 162 em março, estava em R$ 138 em maio, o que representou um declínio de 15%. No caso do milho, a queda foi ainda mais acentuada – o preço da saca do grão no terminal caiu cerca de 30% nesse período, para R$ 58. “Nos dois casos, principalmente no do milho, foi uma queda muito grande em um intervalo de apenas dois meses”, afirma. “Essa queda pode ser um fator de preocupação porque ela indicaria que nós podemos ter alguma dificuldade mais à frente”.