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Energia limpa

O desafio de gerar energia limpa

<p>Demanda energética será maior nos países em desenvolvimento. Coordenador do Programa de Bioenergia da FAO defendeu a inserção dos pequenos produtores neste processo em debate sobre o tema na USP.</p>

O crescimento da demanda energética no mundo estará concentrado nos países em desenvolvimento nas próximas décadas. Nos países desenvolvidos esta demanda já está estável. Hoje, 80% da necessidade energética mundial é atendida por combustíveis de origem fóssil. Dados apresentados pelas Organizações das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que, até 2020, 50% desta demanda energética poderia ser atendida apenas com a melhoria de eficiência dos atuais sistemas de geração, atrelada à economia de uso. Especificamente em relação ao combustível para transporte, 30% das emissões de CO2 poderiam ser reduzidas com a aplicação de tecnologias já disponíveis. No entanto, em 2050, a demanda deverá ser o dobro da existente hoje.

O atendimento deste déficit energético passa pelos governos e suas políticas para o setor, obrigados a lidar com novas variáveis, como o impacto ambiental que a sua geração e uso irá causar. Atrelado a isto, há o que se chama “pobreza energética”: 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo sem acesso a qualquer tipo de energia. Como atender a esta necessidade futura com o menor impacto possível ao meio ambiente disponibilizando, ao mesmo tempo, fontes de energia para as pessoas sem acesso no mundo? Para a FAO, não se deve apostar em uma única alternativa, principalmente aos combustíveis fósseis, assim como os pequenos produtores rurais devem ser inseridos em cadeias produtivas ou se utilizarem da biomassa para a geração de energia em pequena escala, atendendo as necessidades de uma propriedade ou pequena região.

“É possível inserir pequenos agricultores na produção de matérias-primas para empresas de grande escala”, afirma Olivier Dubois, coordenador do Programa de Bioenergia da FAO. Dubois debateu o tema dentro do GP de Ciências Ambientais realizado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA), da Universidade de São Paulo (USP), na última sexta-feira (04/09). Na opinião de Dubois, os governos ainda têm muitas dificuldades em direcionar e orientar os sistemas produtivos a adotarem iniciativas sustentáveis de produção. O grande desafio está em integrar a produção de alimentos e de energia. Uma alternativa é o uso dos resíduos da produção para fins energéticos e outros, como adubagem. “Resíduos gerados no campo devem ficar no campo”, afirma.

Gargalo – Para o coordenador do Programa de Bioenergia da FAO, seria importante que cadeias agroindustriais ou governos criassem uma empresa ou um departamento específico para a área energética visando orientar os produtores. “O produtor não precisa se especializar em energia, ele precisa compreender como fazer, os benefícios e que terá apoio neste processo”, acredita Dubois. O principal gargalo a ser enfrentado é a logística. O desafio está em transportar a biomassa até os locais de geração, quando feita em uma usina ou utilizada por uma empresa agroindustrial para alimentar alguns de seus processos.

Escolher uma variedade vegetal não utilizada em alimentação humana ou animal também nem sempre é a solução mais indicada para a geração energética. Dubois cita o exemplo da Tanzânia. O país africano desenvolveu um projeto para produção de biodiesel a partir da jatropha, conhecida por aqui como pinhão-manso. Hoje, ele afirma, o produto apodrece nas mãos dos produtores, que viram o preço cair e o mercado encolher. “Veja, se fosse um cultivo alimentar ou com outra finalidade, o produtor teria uma alternativa de comercialização que agora não tem”, ressalta.

Dubois afirma que questões como esta deve envolver todos os elos da cadeia, assim como governo e sociedade. E defende o fim de posições radicais, favoráveis ou contrárias, aos biocombustíveis. Para ele, elas impedem o avanço das discussões e a busca por soluções viáveis. “Para problemas complexos não há soluções simples ou fáceis; tem que se sentar e discutir sobre os mais diferentes ângulos do problema”, sentencia o coordenador.