Por mais de duas décadas defendendo esse conceito, ainda, encontro técnicos e avicultores dando menor importância à qualidade e à quantidade de água do que dão para a ração. Porém, fatos e dados encontram-se na literatura e campo atestando que esse cuidado deve ser intensificado, já que problemas de desempenho são atribuídos ao componente nutricional esquecido.
Em várias regiões do mundo, a disponibilidade de água é fator limitante para a produção avícola. Entretanto, em outras regiões, a água está disponível, mas sua qualidade é que limita o desempenho da atividade. Assim, de nada adianta a água estar à disposição se não há consciência da importância da manutenção de sua qualidade. Os efeitos da má qualidade são os mais variados e complexos, lembrando a relação direta que existe entre o consumo de água e o consumo de alimento, tendo essa restrição de água e ração em consequência de perda de produtividade dos animais.
Preservar a quantidade de água e a sua qualidade é fundamental, se o objetivo é obter desempenho adequado e economicamente conveniente. Águas de superfície são mais difíceis de manter a qualidade do que de poços artesianos e, às vezes, a fonte de água é boa e a qualidade é perdida pelo mau armazenamento, no qual são empregados reservatórios sujos, não cobertos, passíveis de serem alcançados por pássaros, ratos, raios solares e outros animais ou, mais facilmente, contaminados pelo ar. A qualidade também pode ser comprometida pelo sistema de encanamento empregado em que resíduos de minerais e micro-organismos estão presentes. Portanto, proteger reservatórios e os encanamentos é um procedimento indispensável.
Somente a determinação da presença de micro-organismos na água de bebida na produção animal não é suficiente. A quantidade em que eles se encontram na água é que deve ser avaliada. A água de bebida dos animais deverá ter menos que 5.000 coliformes totais/100 ml, mas, isso só serve como um guia de recomendação. Além de Escherichia coli, na água também podem ser encontrados Salmonella spp, Vibrio cholerae, Leptospira spp, protozoários e vermes. Com relação aos coliformes, eles são classificados em total e fecal. Coliformes totais são bactérias encontradas na vegetação, em resíduos de animais e no solo. Já coliformes fecais são as bactérias provenientes de intestino de animais. Estas bactérias têm vida curta quando fora do corpo do animal e sua presença como contaminante indica uma contaminação recente.
Cloração de água, dentre outros métodos de desinfecção, serve como procedimento para tal, eliminando enterobactérias. Porém, protozoários e enterovírus são menos afetados pelo cloro. É importante lembrar que substâncias como nitrito, ferro, hidrogênio, amônia e matéria orgânica diminuem a ação do cloro. A matéria orgânica transforma cloro em cloramina, que tem menos ação desinfetante. Quanto maior o nível do pH da água, aumenta a necessidade de cloro como desinfetante. Entretanto, excessiva cloração pode comprometer o seu consumo e o desempenho dos frangos. Existem trabalhos demonstrando que a adição de 5 ppm de cloro na água de bebida diminuiu o consumo e o ganho de peso. Outros benefícios dessa prática como redução de sintomatologias respiratórias e condenações na indústria, tendo sua eficácia garantida através de checagem sistemática na borda ou chupeta do nipple pelo avicultor e/ou na visita do supervisor Técnico. Pesquisas mostram, extraídas de um artigo do Prof. Mario Penz (URGS), que as bactérias diminuíram com a inclusão do cloro na água como mostram as tabelas abaixo:
Efeito da cloração – Hipoclorito de Sódio – da água no consumo de água e no ganho de peso dos frangos de corte.
1 a 28 dias | 29 a 49 dias | 1 a 49 dias | ||||
Cons. Água | GPeso | Cons. Água | GPeso | Cons. Água | Gpeso | |
ml | g | ml | g | ml | g | |
Sem Cl | 3480 a | 908 a | 7053 a | 1350 a | 10526 a | 2258 a |
Com Cl | 3317 a | 918 a | 6359 b | 1398 a | 9686 b | 2316 b |
Consumo de água = ml/ave/período
Ganho de peso = g/ave/período
Adaptado de Meirelles et al., 1995 P<0,01
Efeito da cloração da água – 2 a 3 ppm – na redução da sua contaminação bacteriana.
Tempo (horas) | Bactérias (UFC/ml) | |
Água com Cloro | Água sem Cloro | |
8 | 3 x 102 | 117 x 105 |
11 | 11 x 104 | 156 x 105 |
14 | 65 x 104 | 110 x 106 |
17 | 215 x 104 | 163 x 106 |
Adaptado de Macari, 1996.
Efeito do tipo do bebedouro na contaminação bacteriológica da água (micro-organismos/ ml de amostra).
Microorganismos | Nipple | Pendular | ||
Entrada | Saída | Entrada | Saída | |
Coliformes Totais | 640 | 3.300 | 1.600 | 1.700.000.000 |
Coliformes Fecais | 130 | 230 | 1.000 | 80.000.000 |
| Escherichia coli | 110 | 900 | 900 | 66.000.000 |
Estreptococos fecais | 55 | 1.200 | 2.000 | 36.000.000 |
Microorganismos mesófilos | 24.000 | 700.000.000 | 86.000 | 1.400.000.000 |
Entrada – significa no bebedouro de entrada de água no galpão.
Saída – significa no bebedouro no final do galpão.
Micro-organismos mesófilos – contagem total de micro-organismos saprófitos e patogênicos.
A água não foi tratada.
Adaptado de Macari e Amaral, 1997.
Por Valter Bampi, médico veterinário e diretor do Grupo Big Frango.











