Na segunda-feira, 10 de junho de 2024, a manchete dos principais jornais do mundo destacava os resultados das eleições para o Parlamento da União Europeia. A ascensão da extrema direita e a derrota dos partidos verdes marcaram um ponto de virada, especialmente para o setor rural, que desde 2022 vem protestando contra os planos de sustentabilidade ambiental da UE e as restrições burocráticas à produção agropecuária.
Um estudo do Insper Agro Global, lançado na terça-feira, 11 de junho de 2024, intitulado “Tempos de Crise: Uma Análise das Manifestações Agrícolas na Europa”, explica a tensão entre os burocratas da UE e os agricultores desde a aprovação do European Green Deal em 2019. O estudo, de autoria de Lorena Liz Giusti e Santos e Paulo Henrique Carrer Ribeiro, supervisionado por Camila Dias de Sá e Leandro Giulio, traça um panorama da política agrícola na UE desde a Segunda Guerra Mundial até as manifestações de 2024.
O European Green Deal, com sua estratégia “Farm to Fork”, visa tornar os sistemas alimentares mais justos, saudáveis e ecológicos, impondo diversas restrições à produção rural. Em fevereiro de 2024, agricultores bloquearam rodovias para Paris e montaram acampamentos pelo interior da França, repetindo os protestos em vários países. A insatisfação não se limita às restrições impostas, mas também à crescente entrada de produtos ucranianos no mercado europeu.
Diante da escalada dos protestos, a UE decidiu abrandar algumas políticas, como a redução do uso de defensivos agrícolas. No entanto, o desfecho dessa interação entre interesses econômicos e ambientais permanece incerto. À medida que a UE busca conciliar essas demandas, o futuro do setor agrícola europeu e o compromisso com a sustentabilidade ambiental estão em jogo.
Os agricultores enfrentam pressões econômicas e demandas dos consumidores por sustentabilidade. Eles exigem subsídios para se manterem competitivos, enquanto a UE impõe elevados padrões de proteção ambiental. Marcos Jank, coordenador do centro agro do Insper, explica que os subsídios são cruciais para garantir a estabilidade e competitividade do setor, mas os recentes resultados da produtividade agrícola têm sido decepcionantes devido ao excesso de restrições ambientais, dificuldades na adoção de novas tecnologias e falta de políticas de incentivo à inovação.
Esses fatores contribuíram para a desaceleração da produtividade, resultando em distorções de mercado e danos ambientais. Como resultado, a produtividade agrícola da UE diminuiu na última década, deixando o bloco atrás de outros grandes produtores globais. Além disso, o alto nível de subvenção impacta as negociações internacionais, criando distorções no mercado e dificultando o acesso a produtos de outras regiões, como o Mercosul.
A Europa, berço da 2ª Revolução Agrícola no século 19, agora enfrenta o risco de problemas sérios de segurança alimentar no futuro. A busca por um equilíbrio entre sustentabilidade ambiental e viabilidade econômica continua sendo um desafio complexo para a União Europeia.
Fonte: Poder360