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Santa Catarina

"Não acreditamos em lucro neste ano dentro da propriedade da forma como está o mercado"

O presidente da ACCS, Losivanio Luiz de Lorenzi, analisa a atual crise vivida pela suinocultura e seus efeitos ao longo de 2022

"Não acreditamos em lucro neste ano dentro da propriedade da forma como está o mercado"

O Brasil segue batendo recordes de exportação de carne suína, mas o suinocultor atravessa um dos piores momentos dentro da atividade. O alto custo de produção e a queda na remuneração paga pelo quilo do suíno vivo massacram qualquer perspectiva de lucro. Muitos criadores de excelência, que há décadas estão no mercado, cogitam abandonar a suinocultura caso o cenário não melhore em um curto espaço de tempo.

Conforme números da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), produtores independentes estão tendo prejuízo entre R$ 300 e R$ 400 por animal comercializado. Em entrevista ping-pong, o presidente da ACCS, Losivanio Luiz de Lorenzi, faz um panorama geral da suinocultura.

O primeiro mês de 2022 foi de quedas nos preços tanto mercado independente como integração. A que se deve essa redução?

Infelizmente nós tivemos uma queda muito forte no mês de janeiro, como jamais foi vista na suinocultura. Se nós avaliarmos em 21 dias nós perdemos R$ 0,50 em quilo no preço base. O cenário realmente é desesperador para o produtor. Por um lado a remuneração está em baixa e por outro os insumos como milho e farelo de soja não param de subir. Sem contar ainda toda a linha de nutrição e farmácia, que tem aumentado muito porque tudo é baseado em dólar. O ano passado nós já tivemos uma crise forte no setor, fazendo com que perdêssemos R$ 110 por animal comercializado no mercado independente. No atual momento o quilo do suíno vivo está na casa dos R$ 4 com um custo de R$ 8. A tendência é preocupante porque a seca tem implicado muito na produção e que acaba se revertendo em preços mais altos para a produção de proteína animal.

A tendência é que os custos se mantenham em elevação?

Sim. Além da seca que está afetando a produção dos principais estados produtores de cereais, o Brasil está exportando um volume muito forte de grãos. A Argentina e o Paraguai, que são dos grandes produtores de cereais também foram afetados pela estiagem. O próprio produtor de grãos está sofrendo com o aumento de valor dos insumos e fertilizantes. Nós não teremos um cenário tão positivo de preços que possam agregar na produção de proteína animal. Infelizmente o governo não tem feito nada para nos auxiliar neste momento. A questão do Pronaf somente alguns agricultores conseguem se enquadrar para conseguir milho da Conab. Mas o próprio órgão regulador só tem duas mil toneladas para Santa Catarina, sendo que vão remover mais 11 mil toneladas para o Estado. Mas a Conab ainda não tem previsão de quando farão a licitação de frete. Então não resta nenhuma esperança de milho Conab ao suinocultor. Se alguém precisar disso para se salvar infelizmente vai acabar fechando as portas. Vender suínos a R$ 4 com custo de R$ 8 não há quem suporte.

A que valor deveria estar o suíno para cobrir os custos e pode dar lucro ao produtor?

A suinocultura é uma atividade que exige 365 dias de dedicação do produtor, ele precisa estar atento 24 horas dentro da propriedade para ter um produto de excelência. Para ele cobrir os custos e ter lucro o quilo do animal vivo deveria estar entre R$ 9,50 a R$ 10. A gente sabe do todos os investimentos necessários dentro da granja. Como Santa Catarina é o berço da suinocultura nacional, ainda temos muitas granjas antigas que precisam aplicar recursos em adequação para acompanhar o mercado.

Existe alguma expectativa otimista daqui em diante?

A gente precisa olhar o cenário de forma realista. Não acreditamos em lucro neste ano dentro da propriedade da forma como está o mercado. Ele está saturado de suínos pelo crescimento forte incentivado por indústrias e cooperativas. A empresas estão colocando seus animais no mercado de independentes, já que também estão com dificuldades. Hoje estamos perdendo de R$ 300 a R$ 400 por animal comercializado. Não há como aguentar. Dia 12 de janeiro a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, esteve em Chapecó e nós entregamos uma pauta de reivindicações. Recentemente, todas as associações estaduais e a ABCS participaram de uma videoconferência com a ministra, mas a demora política é muito grande. Para falar a verdade, em nenhuma crise os governos não resolveram os problemas do setor. Precisamos diminuir bastante a produção para poder ter uma expectativa mais positiva.

Qual o conselho para os suinocultores suportarem esse momento?

A gente sempre aconselhou manter a produção estável, melhorar a produtividade sem aumentar o plantel. Mas por pressão ou vontade própria o produtor cresceu e agora a conta está aí para todos pagarem. É difícil a ACCS falar para o produtor não crescer na atividade porque ele acha que falamos sem ter os números em mãos. Quando a China foi afetada pela Peste Suína Africana o mundo inteiro elevou a produção com o foco de conquistar o mercado asiático. Agora vemos uma produção grande e difícil de resolver. O conselho que eu daria para os suinocultores é deixar na granja apenas metade do volume de leitões que nascem e descartar o resto. Só assim em seis meses teremos uma redução de plantel, controle da produção e melhora na remuneração. Nós não vamos resolver essa crise com políticas do governo. Vamos ter que fazer pelas nossas próprias mãos. A única saída é essa. Todos nós somos responsáveis por essa crise: indústria, cooperativas e produtores independentes. E só a gente pode dar um jeito nessa situação. Assim vamos dar uma solução a curto prazo e depois os órgãos governamentais, a própria ABCS, precisam adotar uma política de garantia de preço. Não podemos proibir o crescimento da atividade porque o mercado é livre, mas podemos ter algum dispositivo que responsabilize quem cresceu e ocasionou a crise.

Como avalia as recentes quedas de preço no preço base?

Vemos que as exportações de carne suína estão atingindo recordes, mas o produtor está minguando. No ano passado exportamos mais um milhão de toneladas. No passado a gente imaginava que quando o Brasil exportasse 500 mil toneladas iríamos ganhar dinheiro. Estamos exportando mais que o dobro e o suinocultor não vê o resultado financeiro merecido. Acredito que houve um erro estratégico de planejamento, de crescimento e por isso esse mercado está caminhando para trás. Quem paga a conta são aqueles que acreditaram, que investiram porque alguém pediu. É lamentável a recente queda de R$ 0,20 na integração. Nós sofremos quando vemos essa situação porque também temos granja. Todos os mini integradores, produtores independentes que compram leitões de outros produtores pagam conforme a referência Aurora. Muitos produtores me ligam para saber qual a saída, mas infelizmente com o excedente de produção não temos uma perspectiva nada agradável. Quem conseguir trabalhar em 2022 para pagar as contas tem que agradecer. Muitos não vão suportar.  

Como manter a qualidade na produção sem renda?

Como muitos suinocultores já não conseguem mais crédito e não tem oportunidades na atividade, começam a tocar o negócio de qualquer jeito. Tratando com qualquer tipo de ração, não fazendo as medicações necessárias dentre outras medidas que envolvem dinheiro. Isso é um risco sanitário muito grande para Santa Catarina. O nosso governo do Estado não olhou para os suinocultores. Nós tentamos conversar com a Secretaria de Estado da Fazenda para zerar o imposto final da carne com o objetivo de diminuir o preço para o consumidor, mas não tivemos o pleito atendido. Tem políticos que usam o microfone para dizer que Santa Catarina é um Estado de excelência, mas a qual preço? Do produtor que está perdendo dinheiro na atividade para manter regalias de políticos.