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Agroindústrias

Analistas chamam atenção para endividamento da JBS

Especialistas elogiam dupla listagem de ações, mas disseram que o impacto do pagamento de mais de R$ 2 bilhões em dividendos sobre a alavancagem é um ponto de atenção

Analistas chamam atenção para endividamento da JBS

Os investidores reagiram positivamente ao anúncio da JBS sobre a dupla listagem de ações, impulsionando as ações ordinárias (ON) da empresa ao topo do Ibovespa durante o pregão de ontem.

No encerramento do dia, os papéis fecharam com um aumento de 9,05%, atingindo o valor de R$ 18,80. Os analistas avaliaram essa estratégia como favorável a longo prazo, mas destacaram a necessidade de se observar o impacto do pagamento de mais de R$ 2 bilhões em dividendos sobre a alavancagem da empresa.

Para a Moody’s Investor’s Service, considerando que a JBS financie o pagamento extra de dividendos usando dívida, a expectativa para o índice de alavancagem (dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, o Ebitda), em base pró-forma em 2023, “tenderia a níveis ligeiramente acima de 5 vezes”, conforme relatório. No fechamento do primeiro trimestre, a dívida líquida da empresa estava em R$ 83,7 bilhões, com uma alavancagem em reais de 3,14 vezes.

O endividamento já era considerado elevado. Ele refletia, entre outros elementos, o enfraquecido fluxo de caixa das operações, em comparação com 2021 e 2022, devido aos fundamentos do mercado no segmento de carne bovina dos Estados Unidos.

“Consideramos a dívida incremental para um pagamento de dividendos uma estratégia financeira agressiva do ponto de vista de crédito”, afirmaram, sobre o impacto de curto prazo, os especialistas da Moody’s Bárbara Mattos e Marcos Schmidt.

Na mesma linha, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembrou que o mercado já vinha questionando a JBS por seu alto patamar de dívidas, acrescido por pagamentos de juros.

“A empresa tem uma despesa financeira considerável (…) poderia ter deixado o acionista ganhar de outra forma, pelo capital mais valorizado da ação, por exemplo”, afirmou.

Por outro lado, ele acredita que a dupla listagem pode trazer condições melhores de captação de recursos em outros países, o que seria benéfico para melhorar o endividamento nos próximos anos. “A longo prazo, pode ser um fator positivo”, disse.

Os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, do Itaú BBA, ressaltaram em relatório que a proposta de dupla listagem no Brasil e Estados Unidos faz parte de uma discussão antiga, que veio à tona sete anos após a primeira tentativa e está “mais perto do que nunca” de se tornar realidade.

Entre os principais benefícios da estratégia estaria o fechamento de uma lacuna entre os investimentos em ações da JBS e nas de seus concorrentes listados globalmente, como a Tyson Foods. “A JBS também espera reduzir seu custo de capital, que atualmente está 1,5 ponto percentual acima da Tyson e representa despesas financeiras adicionais de US$ 170 milhões/ano”, disseram os analistas.

Thiago Duarte e Henrique Brustolin, analistas do BTG Pactual, comentaram que, como a J&F (controladora da JBS com 49% das ações) não terá direito de votar na assembleia que deve aprovar o negócio, o BNDES, que detém 41% do free float (ações em livre circulação), terá forte influência no resultado final. O banco foi contrário à listagem no exterior no passado.

“A nova proposta não muda as estruturas corporativas ou operacionais, nem implica direitos diferentes para diferentes acionistas. Mas significa que os acionistas controladores podem estar mais propensos a aceitar a diluição do interesse econômico sem abrir mão do direito de voto”, pontuaram os analistas.