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ESG

Biogás pode ser extraído de aterros ou de resíduos do agronegócio

Contratos de longo prazo são atrelados à inflação

Biogás pode ser extraído de aterros ou de resíduos do agronegócio

Em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, o aterro sanitário municipal produz 90 mil metros cúbicos de biogás por dia. Extraído do lixo, esse combustível passa por um processo de purificação antes de ser injetado na rede de gasodutos da Companhia de Gás do Ceará (Cegás). Idêntico ao gás natural de origem fóssil, o gás do aterro responde por 20% do fornecimento.

Do Aterro Dois Arcos, da cidade de São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro, são extraídos diariamente 15 mil metros cúbicos de biogás. Em Caieiras, na região metropolitana de São Paulo, a partir do ano que vem, a produção poderá chegar a 100 mil metros cúbicos, produção que será distribuída pelos gasodutos paulistas da Congás.

“O preço está cada vez mais competitivo”, afirma Manuela Kayath, CEO do Grupo MDC, responsável pelos três projetos. “Agora com a guerra na Ucrânia, ainda mais.”

A indústria do biogás iniciou o ano otimista. A COP26, Conferência do Clima da ONU realizada em novembro passado, trouxe a perspectiva de uma avalanche de investimentos, graças ao compromisso do Brasil de reduzir em 30% a emissão de gás metano, um movimento global. “Foi uma surpresa muito positiva”,  diz Kayath. O biogás é obtido a partir do metano gerado pela biodigestão de resíduos orgânicos, processo que ocorre naturalmente em aterros.

Com a volatilidade do preço dos combustíveis fósseis, o setor busca se posicionar, também, como uma alternativa à dependência das importações de petróleo e gás. “A matéria prima é nacional e, exceto por alguns bens de capital, a cadeia não é dolarizada”, explica a CEO. “Contratos de 10 anos são indexados à inflação.”

O biogás pode substituir o gás natural?

Dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) apontam que o potencial brasileiro de produção do combustível, considerando quatro setores com potencial de exploração (sucroenergético, proteína animal, produção agrícola e saneamento), é de 121 milhões de metros cúbicos diários. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a produção nacional de gás natural gira em torno de 130 milhões de metros cúbicos.

“Temos mais de 600 plantas de biogás em produção no Brasil, mas aproveitamos pouco nossa capacidade”, disse Gabriel Kropsch, vice-presidente da Abiogás, em fevereiro, por ocasião do lançamento de um fundo garantidor para novos projetos. “Hoje, temos uma produção de 500 mil metros cúbicos por dia, mas, com o potencial atual, teríamos uma produção superior a 30 milhões de metros cúbicos. É metade do consumo de gás natural do Brasil.”

O biogás também pode se utilizado para produzir o biodiesel, usado como combustível em caminhões. As possibilidades são muitas, mas há a questão da distribuição. A rede de gasodutos brasileira está concentrada no litoral e nas regiões próximas. Há pouca capilaridade no interior do país.

O biogás é competitivo num raio de 300 km

Kayath, da MDC, afirma que os números da Abiogás estão corretos, porém, será muito difícil aproveitar o potencial brasileiro em sua plenitude. Além disso, não há gasodutos suficientes para transportar o combustível para todo o país.

“É impensável construir uma rede de gás no oeste do Brasil, mesmo nas próximas cinco décadas”, afirma a CEO. “Hoje,  os projetos servem para atender a uma economia circular”. O que pode funcionar são projetos locais, que aproveitem os resíduos de aterro ou industriais para abastecer frotas, redes locais de gás e, transformado em GLP ou biodiesel, distribuir o combustível num raio de até 300 km, distância que, segundo Kayath, o custo de transporte por caminhão não impacta no preço.

Há um movimento de grandes empresas, que inclui Suzano, Ambev, Klabin e outras, para substituir o gás natural pelo similar renovável. A pressão internacional pela descarbonização e, agora, a ruptura da cadeia de petróleo em função da guerra, devem acelerar esses planos.

Kayath, no entanto, prefere não antagonizar o setor de gás natural. “A transição energética vai acontecer, mas ainda leva algum tempo. Além disso, temos o pré-sal”, diz ela. “Não somos um nicho, porém, a ideia não é substituir o combustível fóssil”. Mas que seria bom, seria.