
Grandes projetos de compostagem estão se tornando mais comuns para o tratamento dos resíduos da avicultura, tanto da cama de frango quanto do esterco de poedeiras devido às questões ambientais e às exigências do MAPA (Anexo IV, IN n°25/2009) que por motivo de segurança, os resíduos de animais devem passar obrigatoriamente pelo tratamento.
Um projeto de compostagem comercial de residuos avicolas é substancialmente diferente de outras instalações de compostagem de lixo doméstico (RSU) ou resíduos agroindustriais. Detalhes de projeto e de condução do processo são essenciais para garantir ao produto final qualidade superior a da matéria prima inicial, sem riscos ambientais e sanitários.
ASPECTOS BIOQUÍMICOS
Por se tratar de um processo natural de decomposição da matéria orgânica os microorganismos aeróbios quebram a matéria orgânica produzindo dióxido de carbono (CO2), amoníaco, água, calor e humus.
O calor gerado acelera a degradação de proteínas, gorduras e carboidratos complexos, como a celulose e hemi-celulose encurtando o tempo do processo. Além disso, o calor também destroi os patógenos termosensíveis quando mantido por determinado período de tempo.
Na primeira fase da compostagem, onde as pilhas ou leiras são formadas e periodicamente revolvidas, a ação dos microorganismos se intensifica sobre os açúcares e aminioácidos prontamente disponíveis da matéria prima a ser decomposta. Devido ao seu metabolismo acelerado, geram calor e a temperatura das pilhas sobe até 70-80° C. Esta fase se extende até a degradação de grande parte dos nutrientes presentes e inativação dos patógenos presentes. Tudo isso, se bem conduzido e monitorado, pode levar de 30 a 45 dias (dependendo dos materiais) quando se inicia a segunda fase, ou fase de cura, e a temperatura diminui gradualmente.
A segunda fase pode ser identificada ao se fazer o revolvimento sem que haja desprendimento de vapor, indicando que a temperatura não está tão elevada. A partir deste momento o material já não oferece grandes riscos ambientais e agronômicos, quando aplicado em taxas adequadas no solo, o que a utilização do esterco sem tratamento poderia causar. Isso devido a eliminação ou severa redução dos patógenos que estavam presentes na cama/esterco.
Apesar disso, os minerais oriundos da matéria prima ainda não estão devidamente mineralizados, ou seja, não estão totalmente disponíveis às plantas as quais deverão ser cultivadas no solo adubado. Portanto a fase de cura serve como fase de refinamento e agregação de valor fertilizante ao produto final e só então será denominado a ele composto orgânico.
Na segunda fase, a pilha se torna mais uniforme e menos ativa biologicamente, embora alguns organismos ainda possam recolonizar o composto. O produto torna-se de coloração escura, partículas pequenas, homogêneas e consistentes. Há a neutralização do pH, equilíbrio da relação entre nitrogênio e carbono e aumento da capacidade de troca catiônica.
PLANEJAMENTO
As instalações de um projeto de compostagem de cama de frango/esterco de poedeiras devem garantir condições ideais para o processo ser conduzido corretamente. Detalhes como características dos materiais utilizados, quantidade produzida e frequência de produção, são dados inciais e imprescindíveis para a sua realização. As condições ideiais se resumem em construção correta das pilhas ou leiras em dimensão, forma de confecção, materiais utilizados, ordem de tais materiais e suas características; manutenção e controle de temperatura durante, pelo menos, a primeira fase; relação entre os nutrientes que deve contemplar C, N, P, K como os mais efetivos para processo e qualidade final do produto; umidade adequada que garanta a vida dos microrganismos realizadores da compostagem; e fluxo de oxigênio para o mesmo fim.
A caracterização e tomada de decisão para confecção inicial das pilhas/leiras são importantes desde o planejamento e startup do processo. A partir daí o monitoramento e controle destes parâmetros podem ser realizados manualmente ou através de equipamentos e softwares (conforme escala de projeto) especiais para este fim.
EQUIPAMENTOS
Quanto aos equipamentos utilizados, podemos destacar principalmente os equipamentos para revolvimento das leiras, que podem ser pás comuns, pás carregadeiras, equipamentos mecânicos, artesanais e automatizados. Há um certo número desses equipamentos no mercado, que visam revolver o material e garantir a introdução de ar no interior das pilhas, tranformando num material mais uniforme. É muito importante manter um calendario de reviramento das pilhas. Quanto a frequencia vai depender da taxa de decomposição, teor de umidade e porosidade da matéria prima, diminuindo conforme o tempo de processo.
Como ocorre uma redução intensa do volume durante o processo, depois de algumas semanas a altura das pilhas pode estar abaixo do requerido, sendo prudente a união de duas ou mais pilhas para formar dimensões adequadas e seguir com o calendário de revolvimento, sempre monitorando suas anotações de controle.
Outros equipamentos disponibilizados para a compostagem são os termômetros e medidores de gases portateis ou instalados dentro de galpões. A temperatura deve ser monitorada no ambiente e dentro das pilhas/leiras, em diversos pontos diferentes para acompanhamento da atividade microbiológica e caminhamento das fases. Por se tratar de um processo aeróbio, o controle de Oxigênio e CO2 são importantes além de outros gases que podem indicar alterações importantes durante o período de tratamento do resíduo.
Softwares também podem ser usados para armazenamento e gerenciamento de dados. Mesmo em pequenas escalas, podem ajudar a esclarecer dúvidas corriqueiras que apenas um técnico presente na propriedade poderia solucionar.
Outros equipamentos servem a compostagem no momento de beneficiar o produto final que é o composto orgânico. Sua aplicação depende do mercado que ditará a qualidade granulométrica e condições de beneficiamento que o produto deve ter para ser facilmente comercializado. Peneiras, secadores e trituradores podem servir para tornar o composto mais atraente ao consumidor final.
Este tema é cada dia mais discutido pelo setor avícola devido a importância da avicultura no mercado brasileiro e seus impactos gerados no meio ambiente. Por conta disso, foi formada uma Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial, a SBERA e a cada dois anos é realizado o SIGERA – Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais. O objetivo principal do SIGERA é reunir a comunidade técnico-científica para discutir os avanços do conhecimento na área de gestão e tratamento dos resíduos das produções agropecuária e agroindustrial.
A próxima data para realização do evento é 12 a 14 de março de 2013 na cidade de São Pedro – SP. http://www.sbera.org.br/sigera2013/
Karolina Von Zuben Augusto é Gestora de Projetos em Manejo e Tratamento de Resíduos Agroindustriais pela BITA Tecnologia Animal











