Fonte CEPEA
Suíno Carcaça - Regional Grande São Paulo (SP)R$ 13,35 / kg
Frango Resfriado - Indicador SPR$ 7,98 / kg
Frango Congelado - Indicador SPR$ 7,96 / kg
Suíno - Estadual RSR$ 8,57 / kg
Suíno - Estadual SCR$ 8,48 / kg
Suíno - Estadual SPR$ 9,19 / kg
Suíno - Estadual MGR$ 8,57 / kg
Suíno - Estadual PRR$ 8,80 / kg
Milho - Indicador Campinas (SP)R$ 65,32 / kg
Soja - Indicador PRR$ 133,69 / kg
Soja - Indicador Porto de Paranaguá (PR)R$ 139,33 / kg
Trigo Atacado - Regional PRR$ 1.296,89 / t
Trigo Atacado - Regional RSR$ 1.256,83 / t
Ovo Branco - Regional Gande São Paulo (SP)R$ 151,36 / cx
Ovo Branco - Regional Grande BH (MG)R$ 151,81 / cx
Ovo Vermelho - Regional Gande São Paulo (SP)R$ 166,18 / cx
Ovo Vermelho - Regional Grande BH (MG)R$ 164,98 / cx
Ovo Branco - Regional Bastos (SP)R$ 144,35 / cx
Ovo Vermelho - Regional Bastos (SP)R$ 158,08 / cx
Ovo Vermelho - Regional Santa Maria do Jetibá (ES)R$ 152,08 / cx
Ovo Branco - Regional Santa Maria do Jetibá (ES)R$ 145,87 / cx
Ovo Branco - Regional Recife (PE)R$ 149,55 / cx
Ovo Vermelho - Regional Recife (PE)R$ 164,11 / cx

Rastreamento, um caminho sem volta

Acredita-se que, no futuro, o sistema será uma exigência generalizada nos mercados externo e interno e que a recompensa para quem está ajustado desde já virá na forma de melhores preços recebidos da indústria.

Redação (29/02/2008)- Independentemente dos desacertos comerciais entre Brasil e União Européia (UE) e do fato de sua propriedade não fazer parte da relação de 106 estabelecimentos rurais reabilitados esta semana a exportar carne bovina para o mercado europeu, o produtor gaúcho João Francisco Wolf, de 41 anos, aposta na rastreabilidade como um caminho sem volta para a pecuária brasileira. Ele acredita que, no futuro, o sistema será uma exigência generalizada nos mercados externo e interno e que a recompensa para quem está ajustado desde já virá na forma de melhores preços recebidos da indústria.

Dono da Cabanha dos Tapes, localizada entre os municípios gaúchos de Tapes e Arambaré, a cerca de 120 quilômetros ao sul de Porto Alegre, Wolf tem 958 cabeças de gado, todas rastreadas e a maior parte da raça angus. Nos últimos dias ele viveu a tensão comum a todos os pecuaristas desde a imposição do embargo à carne brasileira, no início de fevereiro, e depois a frustração de ficar de fora da lista das 13 propriedades gaúchas a serem vistoriadas pelos técnicos da UE, de onde já foram selecionadas onze das 106 fazendas reabilitadas em cinco Estados.

"Que é desestimulante [ficar de fora da lista], é, mas de que adianta ficar tenso?", indaga. Para ele, até o fim do ano todas as propriedades que têm o certificado ERAS (Estabelecimento Rural Aprovado pelo Sisbov, o sistema de rastreamento do governo federal) deverão estar habilitadas a vender para a Europa porque os europeus precisam da carne barata e de boa qualidade do Brasil. "É uma questão de respeito ao produtor". Conforme o diretor técnico da Superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, José Euclides Severo, até quinta-feira havia 1.656 fazendas certificadas no Estado, com cerca de 1 milhão de animais no total.

O número ainda é pequeno diante do total de 350 mil propriedades gaúchas e do rebanho de 13,3 milhões de cabeças, mas está avançando rapidamente. No início de janeiro havia 547 fazendas com ERAS no Estado, das quais 467 foram selecionadas para a primeira lista, de 2.681 em todo o país, que foi encaminhada pelo governo federal e rejeitada pela União Européia no fim de janeiro. Mas, nos dois últimos meses, houve uma forte migração de produtores que haviam aderido ao antigo Sisbov (implantado em 2002 e que permitia que apenas parte dos animais fosse rastreada) para o novo sistema, no qual toda a propriedade é certificada.

Com o certificado número três do Estado, obtido ainda em dezembro de 2006, Wolf é um veterano da turma. Ele começou a rastrear os animais em 2002 e no início chegou a receber 10% a 11% a mais dos frigoríficos pela carne diferenciada. Depois, com o aumento do número de propriedades integradas ao sistema, o prêmio foi desaparecendo gradativamente, mas o pecuarista acredita que depois de resolvido o imbróglio com a União Européia a diferença será restabelecida aos poucos em função da demanda pelo produto. Hoje ele recebe cerca de R$ 4,70 pelo quilo-carcaça, contra R$ 4,60 pagos pela carne não rastreada, afirma.

Para Wolf, no fim das contas os produtores gaúchos tiveram até sorte, porque o embargo europeu coincidiu com um período de ajuste entre oferta e demanda de carne no Estado, o que permitiu ao setor resistir às "pressões" dos frigoríficos por reduções de preços. "Não vai sobrar boi no pasto". Conforme o produtor, depois da seca de 2004/05, quando houve abates de matrizes em grande escala no Rio Grande do Sul, só agora a produção de terneiros está retomando o ritmo normal. "Esses animais estarão prontos em 2010, 2011, e se o embargo fosse nesse período é que seria um problema sério".

Segundo o pecuarista, o maior impacto da introdução da rastreabilidade não é o custo. Um boi vendido por R$ 1 mil exige um investimento de aproximadamente R$ 5 com o sistema, incluindo os brincos de identificação com os números de registro para acompanhamento do histórico genético e sanitário de cada animal e os bottons de segurança com as mesas informações, além dos R$ 600 pagos à certificadora pelas vistorias semestrais de revalidação do certificado. A transformação mais significativa imposta pelo novo Sisbov é operacional, a partir da introdução de controles mais rígidos, da mudança da rotina na propriedade e da necessidade de melhor qualificação dos funcionários.

"O tempo para carregar 30 cabeças rastreadas é o mesmo que se levava para embarcar 100 não rastreadas", afirma. "Demora mais porque tem que verificar cada brinco e ver se está tudo certo", reforça o capataz Orvandil de Freitas Munhoz, o "Vandico". Ele comanda uma equipe de oito funcionários e é o responsável pelo registro de todas as ocorrências com o rebanho no campo, incluindo a alimentação e as medicações aplicadas, o nascimento, a entrada e a saída dos animais na propriedade, e, às vezes, precisa até recorrer a baldes e esfregões para limpar os brincos e conferir os registros corretos de cada um.

As anotações feitas por Vandico são consolidadas pela esposa de Wolf, Mariana, no Livro de Registro da Propriedade, que armazena a história de cada animal na fazenda. São três vias de cada formulário. Uma fica na propriedade, outra vai para a Inspetoria Veterinária da Secretaria da Agricultura do Estado e a terceira, para a certificadora Planejar, que é a encarregada de introduzir as informações da Cabanha dos Tapes no banco nacional de dados do Sisbov, do Ministério da Agricultura.

Segundo Mariana, no caso da alimentação e da aplicação de medicamentos, os registros são feitos por lotes de animais. Quando se trata de nascimento, compra, venda, sacrifício ou morte acidental, as anotações são individuais: um terneiro nascido na fazenda deve ser lançado no Sisbov até o desmame ou no máximo em dez meses, enquanto as demais movimentações devem ser informadas em até 30 dias. Conforme Severo, da Superintendência do Ministério da Agricultura, em geral o processo não leva tanto tempo, mas costuma demorar mais de dez dias, o que já pode comprometer a confiabilidade dos dados. "Se todas as etapas fossem informatizadas, levaria dez minutos", compara.

O problema, de acordo com Wolf, é que o tempo transcorrido entre os registros das ocorrências em cada etapa do processo pode acabar permitindo que haja diferenças entre as informações mais recentes armazenadas na propriedade e aquelas depositadas no banco de dados do Sisbov, o que já é suficiente para descredenciar uma fazenda como exportadora para a União Européia. Também há a possibilidade de erro humano no lançamento de informações em cada uma das etapas, o que pode levar à desclassificação de alguns animais ou de todo um lote como rastreados.

De acordo com a instrução normativa 17 do Ministério da Agricultura, de julho de 2006, que estabelece as normas operacionais do novo Sisbov e define a categoria de propriedade com certificação ERAS, por exemplo, o frigorífico exportador deve confrontar os dados do Documento de Identificação Animal (DIA), uma espécie de cédula de identidade que acompanha o exemplar com dados como data de nascimento, sexo e raça, com a guia de trânsito (GTA). Depois, deve checar a GTA com o sumário de animais a serem abatidos, gerados a partir do sistema do Sisbov.

Se o nome do produtor ou da fazenda identificado na guia não coincidir com o apontado no sumário, todo o lote será desclassificado. Se a desconformidade for em relação a outras informações como sexo, idade ou cumprimento de quarentena, a desclassificação vale para o animal individualmente. "O erro zero, como a União Européia está cobrando, é mais fácil de ser alcançado em propriedades com 69 cabeças em média, como na Europa; aqui, com mais de mil animais, é mais difícil", observa Wolf.

Para o produtor, a solução para evitar as divergências dos registros durante o todo o processo poderá vir com a substituição dos brincos pelos chips de identificação que são capazes de armazenar o histórico de cada bovino, mas isto ainda depende da disponibilidade dos microprocessadores em volume e custo compatíveis com o sistema do governo e a demanda atuais. Segundo o técnico da Planejar, Rogério Souza, os chips disponíveis no mercado custam em torno de R$ 6. Já um brinco e um bottom certificados e rastreados saem por aproximadamente R$ 3,50.