Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Biocombustível

Novas culturas impulsionam a diversificação da produção de biocombustíveis no Brasil

Testes com matérias-primas alternativas à soja e ao milho mostram maior produtividade em áreas de baixo potencial agronômico

Novas culturas impulsionam a diversificação da produção de biocombustíveis no Brasil

A busca por matérias-primas alternativas para a produção de biocombustíveis está ganhando destaque no Brasil. Com a redução da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel e a necessidade de diminuir a dependência da soja e do milho, o país está investindo em pesquisas que prometem democratizar a cadeia de biocombustíveis e impulsionar o desenvolvimento regional.

O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) tem como objetivo fomentar a agricultura familiar e diversificar as matérias-primas utilizadas na produção de biocombustíveis. No entanto, até o momento, a produção da agricultura familiar baseada no óleo de mamona não alcançou os resultados esperados. Em 2021, houve uma queda de 6,3% na comercialização da matéria-prima da agricultura familiar em relação ao ano anterior.

De acordo com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, em 2019, seria necessário utilizar 35% de toda a produção nacional de soja para alcançar uma mistura de 20% com o diesel fóssil. Atualmente, essa mistura está em 12%, abaixo dos 15% previstos no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.

No entanto, cerca de 60% da produção de soja em grãos do Brasil é destinada à exportação, principalmente para a China. Diante desse cenário, é estratégico buscar matérias-primas alternativas para a produção de biocombustíveis, a fim de garantir a disponibilidade e reduzir a dependência de uma única commodity.

O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, ressalta a importância de produzir mais óleo, independentemente da espécie, devido ao crescente consumo mundial desse recurso. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o consumo global de óleo vegetal deve atingir 223 milhões de toneladas em 2023/24, um aumento de 3% em relação ao ano anterior.

Embora o setor não veja, nos próximos anos, a necessidade de aumentar significativamente o uso de outras matérias-primas para substituir a soja, reconhece-se a importância de desenvolver novas cadeias produtivas. A diversificação é fundamental para reduzir a dependência de uma única commodity e controlar os preços dos biocombustíveis.

“Nós consideramos importante buscar fontes alternativas, pois quanto menos dependermos de uma commodity cujo preço não controlamos, melhor”, destaca Julio Cesar Minelli, diretor superintendente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).

Culturas alternativas

Pesquisadores estão se dedicando ao estudo de culturas alternativas que sejam adaptadas às diferentes regiões do país. Um exemplo é o cártamo, uma planta altamente adaptada ao semiárido nordestino, que possui um teor de óleo até 2,6 vezes superior ao da soja. Outra opção é o agave, uma suculenta com alta adaptabilidade às condições do semiárido, que tem potencial para produzir até 7 mil litros de etanol por hectare ao ano. Essas pesquisas visam alavancar a produção de óleo para biodiesel e promover o desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste, que atualmente contribuem apenas com cerca de 7% do volume de matéria-prima destinada à produção de biocombustíveis.

No Centro-Oeste, a palmeira macaúba está sendo estudada como uma opção viável para a produção de óleo vegetal com foco em biodiesel. Essa espécie tem uma produtividade dez vezes superior à da soja e permite a produção em pequenas áreas, o que possibilita a inclusão de pequenos produtores na cadeia do biodiesel. Além disso, a macaúba pode ser integrada com a produção de culturas alimentares, como feijão, mandioca e abacaxi, e seus coprodutos têm alto valor energético, podendo ser utilizados na alimentação animal.

Outra cultura em destaque é a mandioca, que apresenta potencial como fonte alternativa de biocombustíveis, contribuindo para a segurança alimentar e o desenvolvimento regional. Estudos estão sendo realizados para produzir etanol a partir da mandioca, visando principalmente o transporte fluvial no Amazonas, onde o diesel é amplamente utilizado. Os resultados iniciais indicam um potencial produtivo de até cinco toneladas por hectare com aproveitamento total da planta.

Com o desenvolvimento dessas novas culturas, o Brasil busca reduzir sua dependência da soja e do milho na produção de biocombustíveis, democratizando a cadeia e promovendo o desenvolvimento regional. Essas pesquisas representam uma oportunidade de diversificação e inclusão social, além de contribuir para a sustentabilidade e a segurança energética do país.