
O setor avícola brasileiro enfrenta uma semana de desafios, com a confirmação de um caso de Influenza Aviária de Alta Patogenecidade (IAAP) e a tradicional queda de preços no mercado doméstico. Enquanto a doença gera preocupação com as exportações, o recuo nos preços da carne de frango e dos ovos reflete principalmente a retração sazonal da demanda.
Carne de frango: estabilidade no RS e queda sazonal na Grande São Paulo
A confirmação de um caso de IAAP em um matrizeiro no município de Montenegro (RS) em 15 de maio mantém o setor em estado de alerta, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em levantamento de 23 de maio. As principais preocupações são o risco de prolongamento das suspensões das exportações brasileiras de carne de frango e a possibilidade de novos casos.
No entanto, o Cepea ressalta que a cadeia avícola nacional está preparada para controlar rapidamente a situação sanitária e negociar a retomada dos embarques com os parceiros comerciais, visando minimizar os impactos.
Em termos de preços, o Cepea aponta estabilidade da carne de frango no Rio Grande do Sul. Já no atacado da Grande São Paulo, as cotações estão em queda. Este movimento, contudo, é atribuído ao comportamento sazonal típico da segunda quinzena do mês, quando o poder aquisitivo da população tende a diminuir, resultando em menor demanda.

Ovos: desvalorização acima de 10% em maio
Os levantamentos do Cepea (23/05) mostram que os preços dos ovos já registram uma queda de mais de 10% nesta parcial de maio. As médias mensais alcançaram os menores patamares desde janeiro de 2025 em todas as praças acompanhadas.
Essa desvalorização é atribuída à retração da demanda e ao aumento da oferta em algumas regiões, e não diretamente ao registro de IAAP em Montenegro (RS). Colaboradores do Cepea estão em alerta e preocupados com os desdobramentos da doença, mas destacam que ainda é cedo para mensurar possíveis impactos no mercado de ovos.


Comparativo semanal
Na semana anterior, o cenário era de ganho de competitividade da carne de frango em relação à suína, mas perda frente à bovina. Os preços médios das proteínas avícola e suína apresentavam alta na parcial de maio em comparação ao mês anterior, enquanto os do boi estavam em queda. As cotações da carne de frango vinham avançando desde o início do mês, sustentadas pela demanda aquecida devido ao pagamento de salários. Já os ovos, na semana passada, já mostravam queda nas cotações, decorrente principalmente da demanda enfraquecida e da pressão dos compradores por descontos.
Perspectivas
A avicultura brasileira atravessa um período de dualidade. A confirmação de um caso de Influenza Aviária, embora isolado e sob controle, impõe um desafio sanitário e comercial, exigindo agilidade nas ações governamentais e privadas para mitigar riscos às exportações. Paralelamente, o mercado doméstico reage à sazonalidade da demanda, com preços em declínio para a carne de frango e ovos. A capacidade do setor de gerenciar a crise sanitária e a recuperação do poder de compra dos consumidores serão cruciais para a retomada dos preços e a manutenção da estabilidade econômica da avicultura nos próximos meses.
Fatores que influenciam o mercado da avicultura
- Status sanitário e doenças: A ocorrência de doenças como a Influenza Aviária é o fator de maior impacto, podendo levar à interdição de granjas, sacrifício de aves e, mais gravemente, à suspensão ou restrição das exportações, afetando drasticamente a oferta e os preços.
- Oferta e demanda doméstica: O equilíbrio entre a produção de carne de frango e ovos e o consumo interno é fundamental. Fatores como renda disponível da população, feriados e épocas de maior ou menor poder aquisitivo influenciam diretamente a demanda e, consequentemente, os preços.
- Custos de produção: Os preços dos principais insumos, como milho e farelo de soja (que representam a maior parte do custo da ração), energia, medicamentos e mão de obra, afetam a lucratividade do produtor e podem impactar a oferta.
- Concorrência com outras proteínas: A carne de frango e os ovos competem com outras fontes de proteína, como carne bovina e suína. Variações nos preços e na disponibilidade dessas outras proteínas podem desviar a demanda e influenciar o consumo de produtos avícolas.
- Mercado internacional e taxas de câmbio: O desempenho das exportações de carne de frango é crucial para o setor. A abertura de novos mercados, a valorização ou desvalorização do real em relação ao dólar e a dinâmica da oferta e demanda global impactam diretamente a competitividade e os preços do produto brasileiro no exterior.
Aquicultura: preços apresentam variações regionais

O setor da aquicultura brasileira registrou variações nos preços do peixe em diferentes regiões produtoras no dia 16 de maio, conforme levantamento do Cepea. A análise dos valores por quilo revela um cenário diversificado, influenciando diretamente a rentabilidade dos produtores e a economia local.
A região do Norte do Paraná apresentou o preço mais elevado entre os pontos pesquisados, com o quilo do peixe comercializado a R$ 8,65. Este valor pode refletir custos de produção específicos da região, demanda aquecida ou diferenciais logísticos que impactam o preço final.
Em contrapartida, o Oeste do Paraná registrou o preço mais baixo, atingindo R$ 7,43 por quilo. Essa diferença de mais de um real em relação ao Norte do estado aponta para dinâmicas de mercado distintas, que podem incluir maior oferta, concorrência acirrada ou condições de produção mais favoráveis.
Outras regiões importantes também tiveram suas cotações:

Essas oscilações regionais nos preços são um fator crucial para os produtores de aquicultura, que precisam acompanhar de perto as tendências de mercado para otimizar suas operações e tomadas de decisão. Acompanhar esses dados é fundamental para entender a saúde econômica do setor e planejar investimentos futuros.
Grãos: pressão de preços no cenário doméstico em meio a safra recorde

O mercado de grãos no Brasil e no mundo é marcado, nesta semana, por um cenário de preços enfraquecidos para soja, milho e trigo. A expectativa de safras recordes, tanto no Brasil quanto globalmente, aliada a fatores específicos de demanda e concorrência internacional, tem impulsionado essa desvalorização.
Soja: oferta elevada e concorrência internacional pressionam preços
Os preços da soja no mercado spot brasileiro continuam em queda, de acordo com levantamentos do Cepea, divulgados em 19 de maio. A principal razão é a produtividade satisfatória da safra atual, que mantém uma oferta doméstica elevada. As projeções indicam, inclusive, um crescimento da área plantada para a próxima temporada, o que pode agravar esse cenário de oferta.
Do lado da demanda, a trégua comercial entre Estados Unidos e China é um fator importante que pode limitar o aumento dos embarques brasileiros de soja. O governo norte-americano reduziu as tarifas de importação da China de 145% para 30%, e, em contrapartida, a China diminuiu as tarifas sobre produtos dos EUA de 125% para 10%. Essa flexibilização nas tarifas favorece as exportações americanas e, consequentemente, intensifica a concorrência para o Brasil.
Um relatório divulgado em 12 de maio pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reforça a pressão sobre os preços, projetando uma produção mundial de soja recorde na safra 2025/26, estimada em 426,82 milhões de toneladas. No Brasil, a expectativa é de uma nova marca histórica de 175 milhões de toneladas.
Confira os valores da soja (22/05):
- Paranaguá: R$ 133,76
- Paraná: R$ 128,15
Milho: produção abundante no Brasil e EUA reduz valores internos
As estimativas de produção elevada de milho no Brasil e no mundo continuam a pressionar os valores internos do cereal. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP), conforme o Cepea (19/05), está operando no menor patamar nominal desde janeiro.
As boas condições climáticas na maior parte das regiões produtoras de segunda safra no Brasil sustentam a expectativa de uma boa produtividade. Nos Estados Unidos, a semeadura em ritmo acelerado e o clima favorável também contribuem para melhorar as perspectivas de produção.
Nesse contexto de oferta abundante, parte dos consumidores brasileiros prefere se afastar do mercado, aguardando novas desvalorizações para recompor seus estoques. Já os vendedores buscam negociar os lotes remanescentes da safra 2023/24 e da atual safra de verão 2024/25.
- O valor do milho (22/05) é de R$ 71,22
Trigo: avanço da semeadura e expectativa de safra maior derrubam cotações
As cotações do trigo registraram queda na última semana, segundo levantamentos do Cepea (20/05). A pressão sobre os preços deriva do avanço da semeadura no Brasil, de dados que indicam uma safra maior e produtividade mais elevada, e das boas condições das lavouras até o momento.
As moageiras ativas no mercado buscam negociar a valores menores, encontrando vendedores mais flexíveis e com certa necessidade de realizar vendas imediatas. Os dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam que a produção de trigo deve somar 8,255 milhões de toneladas na safra 2025/26, um aumento de 4,6% sobre o volume da temporada anterior, refletindo uma elevação estimada na produtividade de 18,6%.
Confira os valores do trigo (22/05):
- Paraná: R$ 1.547,79
- Rio Grande do Sul: R$ 1.381,28
Perspectivas
O mercado de grãos no Brasil enfrenta um cenário de pressão de preços impulsionado por safras robustas e um aumento da oferta global. Embora a elevada produtividade seja positiva para o agronegócio, ela desafia a rentabilidade dos produtores. A competição internacional e a dinâmica da demanda, especialmente da China, continuarão sendo fatores cruciais para a estabilização ou aprofundamento das tendências de preços. Os olhos do mercado estarão voltados para o ritmo dos embarques e a evolução das condições climáticas nas próximas semanas, que podem alterar o balanço de oferta e demanda.
Fatores que influenciam o mercado de grãos
- Oferta e demanda global: A produção e o consumo mundial de grãos são os principais balizadores dos preços. Safras recordes em grandes produtores como Brasil e EUA tendem a aumentar a oferta global e pressionar os preços para baixo.
- Condições climáticas: Fatores como chuvas adequadas, secas ou geadas em regiões produtoras podem impactar significativamente a produtividade das lavouras, afetando a oferta e, consequentemente, os preços.
- Taxas de câmbio: A valorização ou desvalorização da moeda local (Real) frente ao dólar afeta a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e os custos de importação, influenciando os preços internos.
- Políticas comerciais e geopolítica: Acordos comerciais, imposição ou redução de tarifas (como no caso EUA-China), subsídios e conflitos geopolíticos podem alterar os fluxos de comércio e as relações de demanda e oferta entre países.
- Estoques e projeções de safra: Os níveis de estoques de passagem e as projeções de safras futuras, divulgadas por órgãos como USDA e Conab, servem como indicadores para o mercado, influenciando as expectativas de preços e as decisões de compra e venda.