
Frequentemente, nos debruçamos com mais detalhes sobre as nossas exportações, que no caso da carne de frango representa 35% aproximadamente (dados de 2024 – ABPA – Relatório Anual). Mas é importante destacar que a carne consumida dentro do país, é produzida sob os mesmos cuidados, uma vez que as estruturas necessárias para o sistema produtivo da carne é exatamente o mesmo, pois são as mesmas matrizes produtoras de ovos férteis, os mesmos incubatórios produtores de pintainhos, as mesmas fábricas de ração para alimentar os plantéis e os mesmos frigoríficos, inclusive, são as mesmas pessoas que fazem esse negócio acontecer.
Dito isso, é verdade que a produção de aves para exportação representa um dos pilares do agronegócio brasileiro, consolidando o país como referência mundial tanto na criação quanto no fornecimento de carne de frango e, em paralelo, de suínos, bem como de bovinos. Este cenário é resultado direto de décadas de aprimoramento tecnológico e científico, principalmente na área da nutrição animal, aliada ao rigoroso cumprimento das legislações nacionais e internacionais que regem o setor. Este texto tem como objetivo apresentar as principais estratégias nutricionais adotadas no setor avícola, traçando a evolução histórica das práticas alimentares, conectando os aspectos legais sob a supervisão do MAPA e alinhando-os às exigências dos mercados internacionais, incluindo os desafios relacionados aos contaminantes físicos, químicos e microbiológicos.
Evolução da Nutrição de Aves nos Últimos 50 Anos
A trajetória da nutrição de aves no Brasil pode ser dividida em três principais fases ao longo das últimas cinco décadas:
- Décadas de 1970 e 1980: O início da produção integrada e o uso de rações convencionais, baseadas principalmente em milho e farelo de soja, marcaram o período. A nutrição era voltada para o fornecimento dos nutrientes essenciais (proteínas, energia, minerais e vitaminas) em níveis considerados suficientes para garantir o desenvolvimento e a produção básica das aves. Foi o momento em que o desafio era o ajuste do perfil nutricional das dietas de acordo com o potencial ou requerimentos nutricionais das aves.
- Décadas de 1990 e 2000: O avanço da pesquisa científica e a introdução de tecnologias analíticas permitiram o desenvolvimento de rações balanceadas de forma mais precisa, com a introdução de aditivos nutricionais, enzimas, prebióticos e probióticos. Nesse período, além da preocupação com o desempenho zootécnico e eficiência alimentar, surge a busca por melhor rendimento de cortes nobres da carcaça. Foi também nesse período que foram introduzidas as rações pré-iniciais e a formulação de dietas passa a considerar o conceito de proteína ideal, consolidando o maior uso de aminoácidos industriais. Foi também nessa década em que aspectos como a granulometria ou qualidade da moagem dos ingredientes passou a ser monitorada na indústria, sendo também difundido o uso de rações peletizadas e a consequente preocupação com a qualidade do pellet.
- Década de 2010 até o momento atual: A nutrição de precisão tornou-se palavra de ordem, com formulações baseadas no conceito de nutrição ideal, considerando não só a maximização do desempenho, mas também a saúde animal, o bem-estar, a sustentabilidade ambiental e a rastreabilidade. O uso de ferramentas como modelagem matemática, avaliação da biodisponibilidade dos nutrientes e monitoramento em tempo real do desempenho das aves tornou-se prática corrente. A preocupação com resíduos, contaminantes e restrições impostas pelos mercados internacionais guiou a formulação e o controle de qualidade das rações.
O resultado desse contínuo aprimoramento é a elevação dos padrões produtivos e sanitários do Brasil, colocando o país na posição de maior exportador mundial de carne de aves.
Hoje, a indústria de rações balanceadas precisa estar atenta e alinhada à legislação pertinente, para seu próprio êxito. A legislação que trata da produção de rações, em última instância, visa o sucesso das nossas criações, seja da porteira para dentro, seja da porteira para fora, disponibilizando alimentos seguros nas mesas dos nossos consumidores dentro e fora do nosso país.











