Da Redação 07/07/2005 – Os produtores agrícolas brasileiros terão pela frente, nas duas próximas safras, um cenário internacional de novas reduções de preços. E, nesse cenário, a competitividade dependerá mais estreitamente da política monetária a ser adotada pelo país. A avaliação é de Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor do Instituto de Economia da Unicamp, apresentada ontem em seminário na Câmara Americana de Comércio, em São Paulo.
Para ele, é um risco para o agronegócio a combinação, nos próximos anos, do real apreciado em relação ao dólar – em caso de manutenção da política monetária – e da desaceleração da economia mundial, principalmente nos EUA e na China, que certamente levarão à queda nos preços das commodities por redução da demanda mundial. “Não é uma tendência imediata, mas deve ocorrer em um ano ou um ano e meio”, afirmou.
A avaliação de Belluzzo “casa” com relatório recente da FAO – braço da ONU para agricultura e alimentação- , que prevê queda nos preços das commodities agrícolas no longo prazo devido ao excesso de produção, maior produtividade e políticas distorcivas de subsídios dos países ricos. Segundo a FAO, o preço real dos produtos caiu 2% ao ano nos últimos 40 anos, prejudicando a renda de mais de 2,5 bilhões de produtores de países em desenvolvimento.
Para Belluzzo, a solução para o país se manter competitivo deverá passar por uma mudança na política monetária, que ele considera “inadequada”, com câmbio valorizado e juros altos. Ele compara o quadro brasileiro com o da China, que tem juros baixíssima e luta, desde a década de 90, para manter o seu yuan desvalorizado.
“Com uma combinação de câmbio desvalorizado e superávit primário alto – de US$ 600 bilhões, contra US$ 35 bilhões do Brasil – , a China conseguiu criar uma política interna de crédito muito generosa, que garantiu investimentos nas indústrias”, disse. Segundo ele, enquanto a relação entre crédito privado e PIB na China é de 200%, no Brasil, é de 28%. No Chile, a relação é de 80%.
Ele disse que se a política monetária atual está longe da ideal, a proposta do governo de déficit nominal zero – que pretende aumentar o superávit primário – também apresenta riscos. “O aumento do superávit não necessariamente implicará em queda de juros”. Para ele, será necessário reduzir a taxa real dos juros para atrair investimentos ao setor produtivo”, afirmou.











