
A Pressão da Produção: Uma Realidade Contínua
Dentro da dinâmica de uma fábrica de rações, o gestor da produção e sua equipe operacional vivem sob constante pressão. A demanda do cliente, a urgência do campo, a programação de vendas e os compromissos contratuais muitas vezes exigem uma resposta imediata — e por vezes inflexível. Em meio a isso, o gestor se vê diante de uma decisão difícil: produzir, mesmo quando as condições não são ideais? A resposta, na maioria das vezes, é sim — e o custo dessa resposta pode ser alto.
O que se observa, com frequência, é uma priorização da entrega a qualquer preço. Nessa lógica, o foco no volume supera o foco na qualidade, o que compromete não apenas o produto final, mas também a reputação da marca, a saúde animal, os índices zootécnicos e, por consequência, os resultados econômicos do cliente e da própria empresa.
O Dilema do Gestor: Produzir ou Decidir?
Para o gestor de produção, a decisão de produzir não é meramente técnica — é também emocional, política e estratégica. Ela envolve conciliar interesses, gerir expectativas e, muitas vezes, decidir entre o certo e o urgente. A falta de ferramentas de apoio à decisão, de dados atualizados ou de respaldo das demais áreas, torna esse processo ainda mais solitário e arriscado.
O resultado? Produções comprometidas, retrabalhos, não conformidades, desperdício de recursos, aumento de custos logísticos e insatisfação generalizada. A produção que deveria ser a solução, torna-se parte do problema.
A Importância de Mecanismos de Decisão Eficientes
Para reverter esse cenário, é indispensável o estabelecimento de mecanismos de tomada de decisão estruturados, multidisciplinares e objetivos. O gestor precisa ter à disposição um conjunto claro de critérios — técnicos, legais, econômicos e operacionais — que o ajudem a decidir o melhor caminho para cada situação.
Isso exige, por exemplo:
- Indicadores de qualidade e produtividade em tempo real;
- Avaliação de risco para cada lote ou matéria-prima;
- Sistemas de rastreabilidade eficazes;
- Comunicação direta com os setores de qualidade, compras, comercial, nutrição e logística;
- Protocolos de exceção com critérios previamente definidos.
Cada Situação Exige uma Decisão Específica
A grande armadilha nas fábricas é a generalização de soluções. Aquilo que funcionou ontem pode ser desastroso amanhã. Cada lote, cada pedido, cada condição de produção traz consigo variáveis únicas. Por isso, a melhor decisão é sempre aquela que considera o contexto específico, respeita os limites do sistema e prioriza o equilíbrio entre custo, qualidade, segurança e resultado.
Produzir com base em decisões generalizadas é fácil. Difícil — e mais inteligente — é tomar a decisão certa para cada momento.
Decisão Coletiva: Um Papel de Todos, com Liderança do Gestor
Embora o gestor da produção seja o responsável final pela decisão operacional, essa não pode — e não deve — ser uma decisão isolada. Para garantir os melhores resultados, é fundamental que as áreas estejam integradas e treinadas para contribuir com informações, análises e sugestões relevantes.
Isso só é possível quando:
- O departamento de qualidade é respeitado e ouvido, não apenas consultado no final do processo;
- A área de nutrição atua de forma próxima à produção, entendendo os impactos reais das fórmulas nas operações;
- A área comercial compreende as limitações da planta e contribui com previsibilidade e comunicação clara;
- A área de compras atua com critérios técnicos, alinhada à estratégia de produto, e não apenas ao custo;
- A liderança promove e sustenta uma cultura de colaboração, integridade e responsabilidade compartilhada.
Equipes Coesas, Treinadas e Autônomas Tomam Melhores Decisões
Não há processo robusto sem pessoas capacitadas, conscientes de seus papéis e com liberdade para agir com responsabilidade. Uma equipe que entende seu impacto no todo é mais crítica, mais colaborativa e mais engajada.
Treinamento técnico é fundamental, mas não basta. É preciso investir também em:
- Capacitação em análise crítica e tomada de decisão;
- Integração interdepartamental;
- Cultura de melhoria contínua e gestão de riscos;
- Empoderamento com responsabilidade.
Conclusão: Tomar Decisões Não É um Ato Solitário — É um Ato de Inteligência Coletiva
A produção de rações é um sistema complexo, vivo, sensível e de alto impacto. Decidir o que, como e quando produzir não pode ser um reflexo automático da pressão externa, mas sim o resultado de um processo estruturado, integrado e sustentado por conhecimento, dados e cultura organizacional forte.
A decisão é, sim, papel do gestor. Mas ela só será eficaz e sustentável quando toda a empresa entende o seu papel e está preparada para contribuir. Isso exige que cada setor conheça profundamente seus impactos sobre o sistema, seus indicadores de desempenho, seus riscos e sua contribuição para o resultado final.
Ignorar esse princípio é permitir que decisões técnicas sejam tomadas por impulso, sob pressão ou com base em percepções limitadas. E isso, inevitavelmente, compromete a qualidade, eleva os custos, enfraquece a confiança dos clientes e, em última instância, ameaça a sobrevivência do negócio.
Em um mercado cada vez mais exigente e competitivo, a vantagem não está em quem produz mais rápido — mas em quem decide melhor. E decidir melhor é algo que se aprende, se constrói e se pratica em equipe.
Pense nisso!
Nos vemos em Breve!