
Publicado na edição nº 930 da revista Avicultura Industrial, de 1987, o artigo a seguir aborda um tema crucial para a avicultura moderna: o impacto da cama e da qualidade do ar sobre a saúde e o desempenho zootécnico dos frangos de corte. Com base em pesquisas realizadas em galpões de criação nos Estados Unidos, especialmente na região de Delmarva, o estudo evidencia como práticas de manejo inadequadas — como o reuso prolongado da cama e a insuficiência na ventilação entre lotes — afetam diretamente os níveis de amônia, comprometendo o bem-estar das aves, a qualidade da carne e os resultados econômicos da produção. As análises apresentadas ainda hoje são referência para programas de biosseguridade e eficiência ambiental em granjas comerciais.
Controle do meio ambiente nos galpões de frango de corte
O ambiente em que os frangos de corte são criados em sistemas comerciais representa uma complexa interação de fatores interdependentes. Dentre esses fatores, a cama — material utilizado no piso dos galpões — destaca-se como a principal fonte de contaminação ambiental. A qualidade do ar dentro dos galpões é influenciada, em grande parte, pelas condições da cama e pelo seu manejo adequado. Entre os componentes mais críticos que afetam essa qualidade está a produção de amônia, gás resultante da decomposição de resíduos orgânicos na cama, especialmente de fezes e urina das aves.
Em termos quantitativos, a importância da qualidade do ar torna-se evidente quando se considera que os frangos respiram aproximadamente dez vezes mais ar do que consomem de ração. Assim, a inalação contínua de ar contaminado com amônia pode afetar negativamente o desempenho zootécnico dos animais. Entre os efeitos adversos associados à presença de amônia no ambiente estão: ceratoconjuntivite, redução no ganho de peso, menor ingestão de ração, diminuição da frequência respiratória, lesões no trato respiratório, aumento na suscetibilidade a infecções, imunossupressão, maior ocorrência de alterações nas carcaças, queda na qualidade da carne e aumento nas taxas de condenações em frigoríficos.
A amônia no interior dos galpões é regulada por variáveis como temperatura, ventilação, umidade relativa do ar, quantidade de matéria orgânica acumulada na cama e a carga microbiana presente. Em regiões como Delmarva, nos Estados Unidos, observou-se que o reuso prolongado da cama — por conta do custo de substituição e da sua disponibilidade limitada — contribui para uma pior qualidade do ar. Há casos em que até 18 lotes de frangos são criados sobre a mesma cama sem que haja uma limpeza completa, comprometendo significativamente as condições sanitárias do ambiente.
Outro fator agravante é o curto intervalo entre a retirada de um lote e a chegada do próximo, o que não permite tempo suficiente para o chamado “air-out” — ventilação do galpão vazio — e compromete o controle dos níveis de umidade e amônia. Essas práticas, motivadas por pressões econômicas e contratos que incentivam a maximização da eficiência da ração, frequentemente resultam na negligência dos parâmetros ambientais ideais.
Em uma pesquisa iniciada em novembro de 1984, foram monitorados três galpões de criação em Delmarva por três lotes consecutivos. Avaliaram-se semanalmente as concentrações de amônia, umidade da cama, pH, temperatura e níveis bacterianos em pontos próximos aos comedouros, bebedouros e em áreas centrais dos galpões. As medições também incluíram a temperatura interna dos galpões e a umidade relativa do ar, obtidas diariamente. Um dos galpões, o Galpão 3, iniciou o experimento com cama nova, o que contribuiu para melhores condições ambientais ao longo dos lotes.
Os dados revelaram diferenças expressivas entre os galpões, refletindo o manejo adotado por cada produtor. O Galpão 3 apresentou os menores níveis de amônia (em média, 3 ppm) e uma umidade média da cama de 27%, dentro dos padrões considerados ideais. A ventilação adequada, o controle da temperatura e a boa qualidade da cama foram decisivos para esses resultados. Em contrapartida, outros galpões apresentaram valores significativamente mais altos de amônia, chegando a ultrapassar 30 ppm, o que foi associado a maiores taxas de mortalidade e desempenho inferior das aves.
Nos lotes subsequentes do Galpão 3, foram adotadas práticas adicionais, como a adição de sulfato ferroso à cama — substância que ajuda a neutralizar a amônia — e o uso de ventiladores de teto para recirculação do ar. Tais medidas contribuíram para manter a qualidade do ar dentro dos padrões desejáveis.
Em resumo, o manejo adequado da cama e do sistema de ventilação dos galpões tem impacto direto na qualidade do ar e, consequentemente, no bem-estar e produtividade dos frangos de corte. Estratégias que priorizem a substituição periódica da cama, o espaçamento adequado entre os lotes, o monitoramento constante da umidade e da amônia e o uso de aditivos absorventes ou neutralizantes são essenciais para manter um ambiente saudável e economicamente viável para a produção avícola. Negligenciar esses fatores pode comprometer não apenas o desempenho zootécnico, mas também a sanidade e a qualidade final do produto destinado ao consumo.











