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FALA AGRO

Exclusivo: Pedro Lupion aponta Brasil como chave para alimentar o mundo

Em entrevista à Gessulli Agrimídia, Pedro Lupion compartilha perspectivas e desafios do agronegócio brasileiro

Exclusivo: Pedro Lupion aponta Brasil como chave para alimentar o mundo

Pedro Lupion compartilha perspectivas e desafios do agronegócio brasileiro e o papel da Frente Parlamentar na defesa dos interesses dos produtores rurais

Por_Camila Santos

Com uma linhagem política que remonta a Moysés Lupion, ex-governador do Paraná e bisavô de Pedro, e o legado de seu pai, Abelardo Lupion, deputado federal por seis mandatos, o caminho de Pedro Lupion na política estava predestinado. No entanto, sua jornada, somada a herança política, foi uma busca ativa por preparação e expertise, adquirida pela formação em Comunicação Social, mestrado em Ciências Políticas na Espanha e especializações em Comunicação Política, campanhas eleitorais e Administração Pública nos Estados Unidos.

No cenário brasileiro, a figura do deputado federal se destaca como um elo crucial na defesa dos interesses dos produtores rurais e no impulsionamento do setor no país. Hoje, como presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion lidera a maior e mais coesa bancada temática do Congresso Nacional, com 349 deputados e senadores unidos em um propósito comum: proteger os interesses e direitos dos produtores rurais brasileiros. Na entrevista, ele revela os principais objetivos que almeja alcançar durante seu mandato de 2023-2024, com ênfase na defesa do direito de propriedade dos produtores rurais e na busca pela segurança jurídica em meio a desafios como as invasões de terras e a questão do marco temporal.

Lupion também discute as oportunidades intrínsecas aos desafios enfrentados pelo agro brasileiro, destacando a capacidade do país de aumentar sua produção sem desmatamento adicional, graças à tecnologia e à produtividade. Além disso, ele ressalta a importância de desmistificar equívocos sobre a atuação dos produtores rurais e de promover a verdade sobre seu papel na preservação ambiental.

A seguir, o entrevistado conta sobre a sua trajetória, desde suas raízes familiares até sua ascensão à presidência da FPA. Lupion compartilha sua visão clara e apaixonada sobre os desafios e oportunidades que moldam o panorama agrícola brasileiro nos próximos anos. Confira.

Avicultura Industrial – Pode nos contar um pouco sobre sua jornada até chegar à Assembleia Legislativa e à presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)?

Pedro Lupion – Tenho grandes referências da política desde cedo na minha família. O ex-governador do Paraná, Moysés Lupion, é meu bisavô. Meu pai, Abelardo Lupion, foi deputado federal por seis mandatos. Graças a ele, comecei a buscar meu caminho na política, sempre como um defensor dos produtores rurais. Fiz questão de me preparar. Graduei-me em Comunicação Social com ênfase em Publicidade. Fiz mestrado em Ciências Políticas nas Universidades Francisco de Vittoria e Rey Juan Carlos, na Espanha. E me especializei em Comunicação Política e Campanhas Eleitorais. Na Georgetown University, nos Estados Unidos, especializei-me em Administração Pública e Governança. A partir daí, fui para minha primeira campanha de deputado estadual pelo Paraná, tendo as bandeiras da defesa do campo, do municipalismo, dos produtores rurais, do cooperativismo e das liberdades e direitos do cidadão de bem, como o da legítima defesa. De lá para cá, são dois mandatos de deputado estadual, e estou no meu segundo de deputado federal.

AI – Qual é o papel central desempenhado pela FPA no cenário político e no setor agropecuário brasileiro?

Pedro Lupion – A Frente Parlamentar da Agropecuária, nossa FPA, é a maior e mais coesa bancada temática do Congresso Nacional. Temos 349 deputados e senadores, todos imbuídos do mesmo objetivo: defender os interesses e direitos dos produtores rurais brasileiros, sem distinção. E assim temos feito, com reuniões semanais para unificar o discurso de nossa bancada, tratar das pautas e projetos que afetam os produtores no Congresso Nacional e receber ministros e autoridades para discutir temas relevantes aos produtores.

AI – Como presidente da FPA, quais são os principais objetivos que o senhor espera alcançar durante o biênio 2023-2024 em termos de apoio ao agronegócio brasileiro?

Pedro Lupion – Nosso principal objetivo, hoje, é garantir o direito de propriedade dos produtores rurais, que está inscrito em nossa Constituição e tem sofrido severas ameaças desde o início do atual governo. Primeiro, com as invasões de movimentos satélites do PT, como o MST, que, sob a falsa desculpa de “promover reforma agrária”, invadiram mais de 50 propriedades. Na verdade, o objetivo dos comandantes desses grupos é conseguir nomeações, cargos e mandar recado para o governo. Além disso, temos a questão do marco temporal, em discussão no STF. Entendemos que o marco é uma garantia de segurança jurídica aos produtores rurais. Sem ele, podemos assistir a um festival de laudos suspeitos surgirem, e inclusive cidades inteiras estariam ameaçadas de desapropriação. Terra Rôxa e Guaíra, por exemplo, lá no Paraná, são dois exemplos. Seria um duro golpe contra a segurança jurídica no campo. Estamos tramitando o projeto que garante o marco temporal no Senado (PL 2309/2023). Começa a surgir, na Câmara, um clamor pela PEC 132, que trata de indenizações para pessoas que tenham terra desapropriada em razão de demarcação indígena. Além disso, temos outros temas importantes como o projeto dos pesticidas no Senado, o Licenciamento Ambiental, entre outros.

AI – O agronegócio brasileiro enfrenta desafios variados, desde questões ambientais até demandas de mercado internacional. Quais oportunidades o senhor enxerga nesses desafios?

Pedro Lupion – Já fui a eventos de grandes produtores rurais, nos Estados Unidos, que diziam que o Brasil era o único país capaz de duplicar e até triplicar a sua produção. Hoje, com a tecnologia, podemos ter essa produtividade sem a necessidade de desmatar novas áreas. Já somos um país capaz de gerar duas safras por ano. O que precisamos é destravar ainda mais o ambiente de negócios e o arcabouço legal brasileiro, para que os produtores rurais possam obter recursos mais facilmente, o que já fizemos com as duas Leis do Agro de minha autoria (Lei 13.986/2020 e Lei 14.421/2022). Também é importante cuidarmos da legislação, garantir os direitos dos produtores, principalmente num país onde, infelizmente, ainda se dissemina a ideia errada de que o produtor rural é responsável por desmatamentos em série, queimadas e outros absurdos que vemos por aí. Vencer essa guerra de narrativas com a verdade, de que o produtor rural é o principal interessado na preservação ambiental, também é nosso papel.

AI – Como podemos encontrar um equilíbrio entre a busca por produtividade e crescimento no setor agropecuário e a necessidade de preservação ambiental?

Pedro Lupion – A legislação ambiental brasileira é uma das mais avançadas do mundo. Temos o Código Florestal, principal política pública nacional para a proteção da vegetação nativa em propriedades privadas. Trata de controle de desmatamento e queimadas, regulamenta a exploração florestal, cria o CRA e o PRA (Cadastro Ambiental Rural e Programa de Regularização Ambiental), entre outros avanços. O problema é que a segurança jurídica, aqui também, tem sofrido ameaças. Está em discussão no STF, a mudança no entendimento do Código Florestal sobre como o produtor pode compensar a área de Reserva Legal que ele porventura utilize para plantio. No Código, e na legislação de 17 estados e do DF, estão previstas formas de compensação. A Suprema Corte pode não só alterar esse entendimento, como deixar de reconhecer as compensações já feitas, o que geraria uma tremenda “dor de cabeça” a milhares de produtores pelo Brasil.

AI – Sobre as relações comerciais internacionais, quais estratégias o Brasil pode adotar para fortalecer sua posição no mercado global de produtos agropecuários?

Pedro Lupion – Tenho acompanhado a busca por novos parceiros desde o governo passado, com o trabalho excepcional da ministra Tereza Cristina, para abrir mercados na Ásia e África aos produtos brasileiros. Recentemente, visitei Japão, Coreia do Sul, China e Israel. Tive a oportunidade de conhecer a SIAL, feira de alimentos na China. Vi formas de uso de tecnologia israelense para irrigar e produzir alimentos e gerar energia no meio do deserto. Essa é uma forma de troca de experiências. Por outro lado, enfrentamos uma guerra de narrativas vinda, principalmente, de concorrentes europeus que tentam atacar a boa imagem do Brasil como produtor de alimentos. Declarações, ainda no governo passado, do então primeiro-ministro francês Emmanuel Macron, com ataques ao agro brasileiro por queimadas na Amazônia, são exemplos de como nossos concorrentes, que têm uma produção muito mais subsidiada que a nossa, tentam nos atacar. É preciso responder a isso com informação, inclusive para dentro de nosso próprio país, onde muitos veem o agro como vilão.

AI – A tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante na agricultura moderna. Como a FPA está trabalhando para incentivar a adoção de tecnologias inovadoras no agronegócio brasileiro?

Pedro Lupion – Nosso trabalho, enquanto Frente Parlamentar, é muito mais de conhecer tais iniciativas, ao recebê-las em nossas reuniões ou em feiras e eventos pelo país, entender os gargalos que possam impedir a adoção de tais práticas e encontrar meios de modificar as leis para permitir o trabalho dos produtores rurais. Eventos como a Agrishow, em Ribeirão Preto, levam inovação e, agora, a inteligência artificial começa a aparecer como um elemento a mais nesse processo. Cabe a nós entender as implicações legais que isso possa trazer, e trabalhar para que os produtores possam aproveitar as inovações da melhor maneira possível.

AI – Sabemos que o setor agropecuário tem impactos diretos nas comunidades locais. Como a FPA aborda questões sociais e promove o desenvolvimento sustentável das áreas rurais do Brasil?

Pedro Lupion – Novamente, enquanto Frente Parlamentar, o nosso trabalho é ouvir as demandas dos produtores e entidades que os representam, e trabalhar para solucionar gargalos legais no Congresso Nacional. Sobre sustentabilidade, posso dizer que a ninguém interessa mais a preservação do meio ambiente que ao produtor rural brasileiro. Produzimos em apenas 25% do nosso território, temos o Código Florestal, uma legislação rigorosa que prevê o cumprimento de obrigações pelos produtores. Expressões como “ogronegócio” representam uma ínfima minoria de pessoas que sequer representam os produtores rurais de verdade. Estes, estão interessados em colocar comida na mesa dos brasileiros, gerar oportunidade e renda para suas famílias e sua região.

AI – Quais são suas perspectivas sobre a contribuição do agronegócio brasileiro para a economia nacional nos próximos anos?

Pedro Lupion – Basta ver as previsões. A Confederação Nacional da Agricultura prevê que o PIB do agro pode crescer 35,9% neste ano, e alcançar R$2,65 trilhões. O agro é o setor que movimenta a economia brasileira, garante a nossa balança comercial, representa 1/3 de nosso PIB e gera mais de 20% dos empregos. Temos não apenas uma, mas duas safras. Certa vez, estava em uma reunião com produtores americanos e foi dito, por um dos palestrantes, que o mundo precisa triplicar a produção para alimentar 8 bilhões de habitantes do planeta. E o mais importante: o único local do mundo capaz de fazer isso, com tecnologia e boas práticas, é o Brasil. Dá pra concluir que nossos concorrentes temem o crescimento e o protagonismo brasileiro.

AI – Como a FPA está se preparando para lidar com os desafios futuros que o agronegócio brasileiro pode enfrentar, como mudanças climáticas e flutuações nos mercados globais?

Pedro Lupion – Se formos focar no futuro, deixaremos de lado questões importantes que temos hoje no presente. A guerra de narrativas contra projetos como dos pesticidas, as decisões do STF que podem ferir de morte o direito de propriedade brasileiro – seja com a derrubada do marco temporal de terras indígenas, seja com a proibição de reintegrações de posse em imóveis rurais. Entendemos o impacto que mudanças climáticas e o mau humor em mercados globais podem causar. Recentemente, tivemos a questão dos fertilizantes, ocasionada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Ou a questão do leite, que ainda vivenciamos aqui, com uma concorrência desleal de Argentina e Uruguai, entrada irregular de produtos da Nova Zelândia, e um mercado desbalanceado e que prejudica a produção de leite do Brasil. Sem contar as dificuldades com períodos de seca na região sul, ou mesmo as recentes chuvas no Rio Grande do Sul. Mantemos a atenção aos impactos causados aos produtores rurais, e trabalhamos em medidas, projetos e leis que minimizem os danos e protejam nossos produtores.

AI – Como o senhor avalia a importância do setor de avicultura no panorama econômico do Brasil?

Pedro Lupion – Sou do Paraná, principal estado exportador de frango halal para o mundo. Estive em Dubai, no ano passado, para estreitar relações com o povo árabe, principal mercado consumidor. Recentemente, no Japão, tive a oportunidade de comer frango produzido por uma cooperativa paranaense em um estabelecimento local. É a presença dos nossos produtos em dois grandes centros mundiais. Os dados também impressionam. A ABPA acredita em uma alta de 3% neste ano na produção de carne de aves, com quase 15 milhões de toneladas. E previsão de alta nas exportações para até 5,2 milhões de toneladas, alta de 8% em relação a 2022. A produção e exportação de frango cresce a olhos vistos, e a de ovos também. Isso é geração de oportunidade e renda para nossos produtores, nossas cooperativas, e todos aqueles que trabalham e vivem no campo.

AI – A Influenza Aviária pode impactar tanto a produção interna quanto às exportações de carne de frango. Como a FPA colabora com o governo e a indústria para garantir a segurança sanitária e a continuidade das operações?

Pedro Lupion – Estivemos recentemente com o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, na Coreia do Sul e no Japão. Fomos tratar do protocolo adotado para mitigação e controle da influenza aviária no Brasil. Aproveitamos a oportunidade para mostrar a força do nosso parlamento em apoio a essas iniciativas dos produtores de carne do Brasil, além de buscar novos mercados. É um momento delicado, com essa situação da gripe aviária e precisamos vencer as barreiras sanitárias, fazer com que a população asiática tenha acesso aos nossos produtos. Tivemos reuniões com o ministro da Agricultura, com o ministro responsável por essa questão do licenciamento sanitário para acesso desses mercados. Tem sido reuniões muito positivas para aumentar o mercado de carnes brasileiras para o mundo.

AI – Recentemente o senhor declarou que o acordo ambiental proposto pela União Europeia é inconcebível. Poderia nos falar um pouco sobre isso?

Pedro Lupion – Temos o setor agropecuário mais organizado do mundo. Nós somos recordistas na produção e os maiores exportadores de alimentos do mundo. Isso só é possível porque cumprimos a Legislação Brasileira, que é extremamente rígida. O Código Florestal é a lei mais restritiva do mundo, nossos produtores mantêm áreas preservadas, produzimos em apenas 25% do nosso território. Sabemos das nossas potencialidades. Seguir uma orientação da União Europeia para redução de impactos no nível que eles querem, simplesmente inviabiliza a produção de alimentos no Brasil. Isso precisa ficar muito claro. Enquanto a União Europeia não tem mais suas áreas naturais e de reserva, e sua produção agropecuária ocupa a maior parte do seu território, nós temos um cenário distinto e sabemos das nossas responsabilidades. É preciso deixar claro o que é responsabilidade de um e responsabilidade do outro. Chegar a um consenso. Preocupa-nos bastante que exista uma narrativa, uma propaganda internacional contrária ao agro brasileiro, e nosso papel aqui é também o de desmistificar essa conversa.