
Imagine uma suinocultura em que os leitões não morrem de frio ao nascer, em que doenças virais devastadoras como a Peste Suína Africana e a Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRS – Porcine Reproductive and Respiratory Syndrome, em inglês) são neutralizadas, que um animal possa produzir muito mais carne e que a carne produzida não cause alergias ou inflamações em humanos. Essa realidade está cada vez mais próxima graças à edição gênica — uma tecnologia que permite reescrever com precisão o DNA dos animais, promovendo melhorias que antes levavam décadas para acontecer. Desta forma, atualmente, nos laboratórios de ponta do Brasil e do mundo, cientistas têm reescrito o código genético dos suínos para enfrentar desafios urgentes: epidemias que devastam granjas, demandas por carne mais saudável e de melhor qualidade e a pressão por sistemas mais sustentáveis.
Mas qual a diferença entre Edição gênica e Transgenia? A transgenia coloca no genoma do animal genes que vêm de outras espécies, que não do próprio suíno. Já a edição gênica mexe nos próprios genes do animal, realizando alterações pontuais: pode-se “apagar”, “corrigir” ou “trocar” trechos específicos do DNA sem adicionar nada de fora. Para entender bem a diferença, pense que a transgenia é como colar um parágrafo inteiro de um livro de outro autor no seu texto, enquanto a edição gênica seria só corrigir uma palavra com erro de digitação. Ou seja, é uma mudança muito mais precisa, discreta e parecida com o que acontece naturalmente. À primeira vista, a diferença pode parecer sutil, mas é importante. Ao contrário da transgenia, que faz o animal produzir proteínas de outras espécies, a edição gênica apenas modifica ou silencia genes que o próprio animal já possui. Isso significa que os animais editados não passam a produzir novas proteínas, apenas deixam de produzir alguma proteína específica ou têm a quantidade de sua produção ajustada. Foi essa precisão que levou, em 2020, à aprovação, pelo FDA (em inglês, Food and Drug Administration) dos Estados Unidos, dos porcos GalSafe — os primeiros suínos editados geneticamente liberados para consumo humano e uso médico. Tais animais não produzem o açúcar alfa-Gal, responsável por reações alérgicas em alguns pacientes, mas continuam sendo suínos como qualquer outro, do ponto de vista genético e fisiológico. Por isso, foram classificados como não transgênicos. Essa distinção muda a forma como o público enxerga esses animais e também como os órgãos reguladores lidam com sua liberação. Países como Japão, Argentina e, mais recentemente, o Brasil, têm adotado posições semelhantes, tratando animais editados — sem inserção de genes externos — como não transgênicos.