
Em maio de 2025, o Brasil alcançou um feito inédito na história da sanidade animal: o reconhecimento oficial, pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), como país livre de febre aftosa sem vacinação. Para a suinocultura nacional, o novo status representa um divisor de águas, não apenas por abrir novos mercados, mas por elevar as exigências técnicas e sanitárias a um novo patamar.
Embora os bovinos sejam os principais hospedeiros do vírus da febre aftosa, os suínos também são suscetíveis. Para o pesquisador Luizinho Caron, da Embrapa Suínos e Aves, o impacto da certificação é profundo e estratégico.
“A presença do vírus da febre aftosa em uma região, ainda que os suínos não sejam os principais transmissores, representa uma barreira sanitária e comercial relevante”, afirma Caron. “O novo status permite ao Brasil competir na elite dos mercados internacionais, mas essa posição exige vigilância contínua e alto padrão de biosseguridade”.
Portas abertas para a suinocultura, e pressão também
O novo status sanitário do Brasil muda o jogo para o setor suinícola. Confira os principais impactos diretos:
- Acesso a mercados premium como Japão, Coreia do Sul, México e Taiwan
- Reforço obrigatório da biosseguridade em todas as etapas da produção
- Exigência crescente de rastreabilidade e documentação técnica
- Potencial de expansão na exportação de reprodutores suínos vivos
- Fiscalizações mais rigorosas por parte de importadores
- Pressão por bem-estar animal e sustentabilidade ambiental
- Maior exposição internacional, e menos margem para falhas
Avanço estratégico para o setor
Para Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a nova classificação sanitária amplia possibilidades comerciais e reforça a credibilidade internacional do setor. “É uma conquista histórica, que abre portas em mercados de alto valor agregado. Com isso, ampliamos a competitividade do setor e consolidamos a imagem do Brasil como fornecedor confiável de proteína animal”, aponta.
A diretora técnica da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Charli Ludtke, ressalta que a valorização dos produtos de origem animal deve ser acompanhada de responsabilidade. “Estamos diante de um diferencial competitivo importante. Para os suinocultores, especialmente os independentes, trata-se de uma chance concreta de ampliar mercados e exportar inclusive reprodutores vivos com genética nacional de ponta”.
O exemplo de Santa Catarina
Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a ser reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação, em 2007. Desde então, se consolidou como modelo de excelência sanitária. O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, destaca a importância de manter padrões rigorosos.
“Chegar a esse status não foi fácil, e mantê-lo exige ainda mais atenção. Precisamos registrar tudo, garantir a rastreabilidade, reforçar a transparência e seguir avançando em bem-estar animal. Esse compromisso contínuo é o que garante a confiança do mercado internacional”, afirma.
Para ele, a conquista nacional não deve gerar competição entre estados, mas sim cooperação e evolução coletiva. “A competitividade tem que ser interna, de cada um buscando melhorar, e não uma disputa entre regiões. O objetivo é fortalecer a imagem sanitária do Brasil como um todo”.
Biosseguridade: agora, obrigação formal
O fim da vacinação traz à tona uma exigência inegociável: rigor na biosseguridade. Para Caron, essa passa a ser uma exigência indispensável para a manutenção do status sanitário.
“Sem a vacinação, aumenta o risco de disseminação viral em caso de introdução da doença. Por isso, medidas como controle de acesso, quarentena, barreiras físicas e protocolos de higiene deixam de ser diferenciais, tornam-se obrigações técnicas”, reforça.
A ABCS também enfatiza que o modelo de sucesso do Brasil se deve à integração entre setor público e privado, o que deve continuar e se intensificar. “A vigilância ativa, a capacitação técnica e a atuação coordenada com países vizinhos serão essenciais para manter esse reconhecimento”, diz Ludtke.
Cadeia preparada, mas desafiada
A estrutura da suinocultura brasileira é altamente tecnificada e tem protocolos sanitários consolidados, segundo Santin. O foco agora deve estar em ampliar a rastreabilidade, unificar processos e reforçar o controle sanitário de ponta a ponta.
“Muitas das empresas que já atuam em mercados exigentes como Japão e EUA estão presentes em outros estados. Isso pode acelerar a inserção dessas regiões, desde que todas estejam prontas para atender os mesmos padrões”, explica.