
Como era de se esperar, o recente e isolado episódio de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), registrado em uma granja comercial do Rio Grande do Sul, não teve impacto direto na suinocultura, pois as doenças que afetam os suínos têm características diferentes. No entanto, também não passou despercebido pelos integrantes da cadeia produtiva. Representantes do setor enxergaram ali uma oportunidade para revisar protocolos de biosseguridade e assegurar que estejam atualizados, testados e integrados. A prevenção, já um diferencial significativo do Brasil, ganhou ainda mais atenção.
Mais que isso, ampliou a sinergia entre os setores produtivos, como afirma o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. “Além de intensificar e promover mais conscientização sobre a responsabilidade coletiva na manutenção da saúde animal”, diz o dirigente. Santin reforça que a suinocultura brasileira opera com um dos mais avançados sistemas de biosseguridade do mundo. “Os protocolos adotados nas granjas são rigorosos e seguem normas internacionais de vigilância, controle e prevenção de enfermidades.”
Para um país que exporta mais de 25% de sua produção, atendendo a quase 90 nações diferentes, o alto nível de segurança sanitária é sinônimo de visto aprovado para entrar nos mercados internacionais mais exigentes. “Desde o campo até o frigorífico, há uma cultura consolidada de boas práticas sanitárias, com foco em compartimentação, controle de acessos, rastreabilidade e vigilância ativa e passiva”, afirma Santin. Tal condição resulta de décadas de investimentos em infraestrutura, qualificação técnica e políticas de prevenção, o que ainda garante a capacidade de responder prontamente a qualquer situação adversa no campo da sanidade.
Essa agilidade é essencial para a atividade suinícola, pois, como se viu no caso da IAAP, a reação de importadores também ocorre em alta velocidade, assim como as consequências das interrupções nas negociações. A ação emergencial para evitar danos maiores é consequência, ainda, da articulação entre o setor privado e os serviços oficiais de defesa agropecuária, em especial com o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
De acordo com Santin, a combinação de todos esses fatores se traduz em credibilidade internacional, garantindo o reconhecimento de fornecedor seguro de proteína animal. “Graças a isso tudo, o país permanece livre de enfermidades severas, como a Peste Suína Africana (PSA) e a Diarreia Suína Endêmica (PED)”, acrescenta o presidente da ABPA.
Estrutura moderna e rotina segura
A preocupação com doenças emergentes impulsiona o aprimoramento da estrutura de biosseguridade. Grandes empresas do setor têm adotado medidas estratégicas para manter a segurança sanitária dos rebanhos. A Frimesa Cooperativa Central, que atua na região oeste do Paraná, abate 12 mil suínos por dia e exporta 25% de sua produção, utiliza um protocolo com mais de 140 itens.
Segundo a gerente de Suprimentos da Frimesa, Luana Rocha, a proteção externa é um dos pontos da biosseguridade que mais demandam atenção. A própria legislação paranaense contém uma portaria com definição de critérios mínimos, como a obrigatoriedade de cercas e telas para impedir o acesso de agentes contaminantes, separação de área limpa e área suja, não deixar enfermidades saírem – não basta impedir a entrada – e bloquear o acesso de outros animais que possam transportar patógenos. “Ratos são um problema muito sério, porque buscam comida e água, tudo o que encontram na granja. Os roedores podem manter, por vários meses, diversos micro-organismos em seus sistemas digestivo e respiratório”, explica Luana.
A executiva comenta que, muitas vezes, a implementação e a manutenção dos protocolos de biosseguridade esbarra na conscientização das pessoas. “A infraestrutura você pode facilmente resolver com investimento”, diz Luana. Sua opinião é compartilhada pela gerente de Parcerias – Creche e Terminação – da Master Agroindustrial, Mônica Santi. “Temos percebido certa resistência a alguns protocolos. Precisamos trabalhar constantemente a capacitação dos colaboradores, mostrando o que não podem fazer e por qual razão”, afirma.
A Master Agroindustrial, dona da marca Sulita, mantém sua atividade concentrada em Santa Catarina e tem uma unidade em Rio Verde (GO). O abate diário é de 3 mil suínos, e 65% dessa produção vai para exportação, negociação que responde por 55% do faturamento. Daí a atenção redobrada com a biosseguridade. Devido ao comprometimento com o tema, a empresa se tornou parceira da Embrapa em um projeto piloto de um sistema multifatorial de biosseguridade, iniciado em agosto do ano passado, envolvendo 100 das mais de mil granjas que abastecem a indústria. A empresa aproveitou esse trabalho conjunto para fazer um controle mais minucioso em relação ao Senecavirus (Seneca Valley Virus). “Esse agente exótico chegou ao Brasil em torno de 2014 e virou um problema endêmico na nossa região. O principal sintoma é a rachadura nos cascos dos animais, que provoca dores e reduz a produtividade”, comenta Mônica. Desde então, conforme a executiva, os produtores passaram a entender melhor a necessidade da prevenção.











