Redação (23/02/06) – A disseminação do vírus letal da gripe aviária na Europa, derrubando o consumo de carne de frango, já pressiona as cotações da soja no mercado internacional.
Segundo analistas deste mercado, há expectativa de redução na demanda por farelo de soja (componente que constitui 20% da ração das aves) na Europa, já que a gripe aviária deve levar a uma diminuição do plantel desses animais. Além de derrubar os preços internacionais, isso pode significar impacto nas exportações brasileiras de soja em grão e de farelo, já que a Europa é um importante mercado para o Brasil.
Esse quadro cinzento traz mais incertezas aos produtores brasileiros, que sofreram com a quebra da safra em 2004/05 e vivem, no atual ciclo, uma crise de endividamento que levou à uma queda de 5% da área plantada. Além disso, só no setor de soja, a renda agrícola no país caiu de R$ 33,126 bilhões em 2004 para R$ 25,776 bilhões em 2005, segundo o Ministério da Agricultura.
Recentemente, a gripe aviária foi detectada em cisnes na França, onde está a maior produção de frango da Europa. No continente, já são oito os países afetados pelo vírus H5N1, incluindo a França: Alemanha, Áustria, Eslováquia, Eslovênia, Grécia, Hungria e Itália. Estimativas indicam que o consumo de carne de frango chegou a cair 50% na Itália.
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, estima que o consumo mundial de farelo de soja deverá recuar entre 5% e 8% este ano, em relação a 2005, devido à redução na produção de aves. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) previa em fevereiro consumo global de 143,77 milhões de toneladas, ante 137,41 milhões o ano passado. Para os 25 países da UE, o USDA estimava demanda de 32,95 milhões de toneladas de farelo, pouco abaixo dos 33,21 milhões em 2005. Na opinião de Sayeg, o USDA deve rever para baixo esses números em relatórios futuros em função da esperada queda na demanda.
O último relatório do USDA também estimava o aumento do estoque global final de farelo de 5,09 milhões em 2004/05 para 5,17 milhões de toneladas no atual ciclo – número que tende a ser ampliado com a redução do consumo global.
Pelas estimativas de Fernando Muraro, da Agência Rural, o consumo global de farelo de soja deve recuar entre 1,8 milhão e 2,2 milhões de toneladas este ano, se for confirmado um recuo projetado de 5% na produção mundial de aves este ano.
Diante da esperada queda na demanda por farelo, Sayeg prevê um quadro pessimista para a soja, mercado que já vinha sendo pressionado pelos estoques mundiais recordes e safras “cheias” nos EUA e América do Sul. Por isso, o analista prevê que o preço médio da soja em Chicago no primeiro semestre ficará em torno de US$ 5,45 por bushel, abaixo dos US$ 5,50 estimados pelo USDA.
Para Fernando Muraro, da Agência Rural, a grande oferta mundial de soja e a gripe aviária devem derrubar o preço médio do farelo de soja neste primeiro semestre. A estimativa é de que a tonelada do farelo fique em US$ 190 no Porto de Paranaguá contra US$ 212 em igual período de 2005.
Para André Pessôa, da Agroconsult, os fundamentos para a soja já são tão negativos que a gripe aviária “não tem potencial para derrubar muito mais o mercado”. Ele observa ainda que a atuação dos chamados “fundos de índice” e dos fundos de hedge na bolsa de Chicago tem sustentado as cotações em patamares acima do esperado dados os fundamentos do mercado. “Os preços em Chicago não estão correspondendo aos fundamentos. A soja deveria estar entre US$ 4,50 e US$ 5,00”, diz.
Um outro analista concorda que tais fundos podem ajudar a limitar a queda nas cotações da soja. Em sua análise, porém, mesmo a manutenção do consumo de farelo de soja na Europa já é uma notícia ruim para o mercado.
No mercado internacional de milho, o efeito da menor produção de frango deve ser mais ameno, diz Muraro. O motivo é que os principais países consumidores têm produção própria do grão. Segundo dados do USDA, o consumo mundial de milho é de 686,21 milhões de toneladas, sendo que o comércio internacional corresponde a 72,73 milhões de toneladas.
A redução do consumo de frango devido ao temor da gripe aviária já pode ser verificada nos estoques do produto nos países importadores. Segundo estimativas do mercado, os estoques de frango na Europa são suficientes para 60 dias, quando a média histórica é de 30 dias. No Japão, os estoques correspondem a 80 dias de consumo. Em países do Oriente Médio, equivalem a 60 dias de consumo e, na Rússia, chegam a 90 dias.











