Da Redação 08/01/2005 – Uma parceria firmada entre o governo de Mato Grosso e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) qualificou, em Primavera do Leste (231 km ao Sul de Cuiabá), 30 trabalhadores em armazenagem de grãos. Esta turma foi a primeira do projeto Parceria Rural Agricultura II e além destes, mais 60 alunos serão capacitados dentro do programa. O objetivo do curso é garantir que os grãos colhidos cheguem com qualidade ao mercado consumidor, evitando perdas.
Durante cinco dias, os alunos receberam noções teóricas e práticas sobre recepção dos grãos no armazém, o processo de limpeza e secagem, aeração, armazenagem, classificação dos grãos, noções sobre segurança no trabalho e ética e cidadania. O treinamento teve duração de 40 horas/aulas e os trabalhadores participantes puderam verificar na prática todo o processo de secagem e armazenagem de grãos até a expedição do material. O treinamento foi ministrado pelo Centrenar (Centro Nacional de Treinamento em Armazenagem), que tem parceria com a Conab.
De acordo com o doutor em Engenharia de Processamento de Produtos Agrícolas, Paulo César Corrêa, que foi o professor das disciplinas de secagem, armazenagem e aeração de grãos do curso, no Brasil perde-se muito na hora da comercialização da produção agrícola justamente por não haver investimentos no pós-colheita.
“O que observamos é que há uma grande preocupação com o aumento da produtividade, investindo-se massivamente em tecnologias de sementes, insumos e não há o mesmo investimento no pós-colheita. Se o produtor não se preocupar com o processo da secagem e armazenagem dos grãos pode perder tudo o que ganhou na colheita”, explicou o professor, que tem doutorado na área, feito em Madri, na Espanha, e é o sub-chefe de gabinete da reitoria da Universidade Federal de Viçosa.
Outra observação feita por Paulo César refere-se à carência de profissionais habilitados para trabalharem em unidades armazenadoras. Ele ressalta que isto ocorre tanto na área de profissionais com nível superior, tanto com os trabalhadores que vão desenvolver as atividades nos silos. “Nas universidades não há a disciplina de armazenagem e isto compromete muito o desenvolvimento do País, no que se refere à competitividade com o mercado internacional. São poucos os profissionais na área das ciências agrárias que dominam possuem conhecimento no segmento de armazenagem de grãos. Daí voltamos ao problema da perda de qualidade dos produtos”, ressaltou o professor.
Tentando justamente minimizar a carência de profissionais habilitados para o pós-colheita é que o governo de Mato Grosso investiu neste treinamento. A coordenadora do curso, a assessora da Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Cidadania, Rosamaria Ferreira de Carvalho, afirmou que a parceria com o Centrenar, por meio da Conab, possibilitará qualificar pessoas para atuarem no segmento. “O governo já treinou mais de dois mil trabalhadores no curso de operadores de máquinas e implementos agrícolas, o que está diminuindo a carência de profissionais qualificados para trabalharem nas fazendas no período de plantio e colheita. Agora estamos investindo no pós-colheita, reconhecendo a necessidade de formar mão-de-obra nesta área”, explicou Rosamaria.
O professor do Centrenar destacou ainda que o governo de Mato Grosso deve desenvolver um plano agressivo de qualificação profissional para o pós-colheita e que o projeto Parceria Rural Agricultura II é um começo. “O Estado é campeão em produtividade em diversas culturas, mas deve se preocupar também com a qualidade do grão depois que ele sai das fazendas”.
Desta primeira turma, poucos são os que já tinham algum conhecimento em armazenagem e secagem de grãos, mas isto não foi empecilho. Segundo o professor, ele nunca havia ministrado este curso para alunos sem experiência na área, contudo os treinandos de Primavera apresentaram grande potencial e apreenderam com facilidade o conteúdo.
O Centrenar já capacitou mais de 15,5 mil pessoas em todo o Brasil, incluindo-se neste número trabalhadores de diversos países da América do Sul, alguns da África, que falam o português e até dos Estados Unidos.











