
A Holanda se estabeleceu como um modelo global no combate à resistência antimicrobiana (RAM), conseguindo reduzir o uso de antibióticos veterinários em mais de 76% desde 2009, ao mesmo tempo em que melhorou a saúde e a produtividade dos suínos. O que começou como uma ameaça se transformou em uma história de sucesso orientada por políticas e focada na gestão.
Com a urgência de reduzir a RAM, o uso de antibióticos veterinários na Holanda caiu 76,4%. Um relatório recente (Maran 2024) confirmou essa redução em todas as espécies de gado e, mais crucialmente, observou uma diminuição na resistência antimicrobiana para a maioria das principais classes de antibióticos utilizados, como tetraciclinas e penicilinas. A resistência antimicrobiana em Salmonella Typhimurium, associada a suínos e bovinos, também diminuiu em isolados humanos.
Estratégias e Desafios
O sucesso holandês se baseia na modificação das práticas de manejo. Um questionário entre criadores de suínos indicou que as medidas mais implementadas para melhorar a saúde de seus animais foram:
- Evitar o uso rotineiro de antibióticos (81,8%).
- Uso de mais vacinas preventivas (81,5%).
- Uso de mais controle da dor (76,4%).
- Mais atenção ao controle de pragas (74,5%).
O veterinário desempenha um papel central nesse modelo, atuando como consultor de confiança e trabalhando em conjunto com especialistas em nutrição, genética e higiene para superar os desafios.
Outros países, como a Tailândia, estão seguindo o exemplo holandês, promovendo o uso responsável de antimicrobianos. Na Europa, cerca de 65% das vendas totais de antimicrobianos para animais produtores de alimentos pertencem à categoria D, que deve ser usada como tratamento de primeira linha.
Inovações na Prevenção
A modificação do microbioma é uma área em desenvolvimento para evitar antimicrobianos. A inclusão de fibra alimentar (FA) na dieta, como o farelo de trigo, está sendo estudada para otimizar a saúde intestinal. A fibra fermentável produz Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCCs), que são benéficos no controle de bactérias patogênicas, reduzindo a contagem de E. coli no trato digestivo.
A vacinação também é uma ferramenta fundamental. A vacina viva oral Enterisol Ileitis, por exemplo, combate o patógeno intestinal Lawsonia intracellularis e mostrou-se benéfica para o microbioma, estimulando bactérias fermentadoras e levando ao aumento da produção de butirato (um AGCC importante). Um estudo de desafio demonstrou que animais vacinados contra ileíte tiveram significativamente menos eliminação de Salmonella Typhimurium.
Essas inovações demonstram que é possível transformar o desafio da redução do uso de antimicrobianos em uma oportunidade para aumentar a produção sustentável e eficiente de carne suína.
Referência: Pig Progress