
Leio no Boletim Diário[1] do dia 22 de maio que me envia a Avicultura Industrial uma notícia interessante: Em SP, calor faz a produção de ovos vermelhos cair e o preço sobe[2]. Tenho escrito sobre vários aspectos de ciência da construção que se aplicam a galpões industriais de criação de animais. O controle de fluxos de água, calor, ar e vapor e suas interações com o ambiente construído e seus ocupantes é o foco do trabalho que meu grupo realiza a fim de proporcionar conforto, durabilidade, segurança, saúde e eficiência energética às edificações. No caso de galpões industriais de animais, o conforto térmico e a produtividade estão intimamente ligados e a publicação da notícia acima expõe de maneira contundente a ligação para poedeiras.
Há um número razoável de pesquisas que relacionam bem a produtividade de galpões de frango de corte com o conforto térmico, mas não encontramos muito na área de galpões de matrizes. Assim, estamos medindo as condições térmicas de diferentes galpões de matrizes para determinar o efeito do conforto térmico na produtividade de ovos dentro de um projeto que a Owens Corning tem com o USDA-ARS[3]. Além dos artigos técnicos em periódicos, espero escrever aqui em primeira mão algumas notas sobre os resultados obtidos.
Mas a matéria publicada no dia 22 de maio foi sobre poedeiras. No ano passado, Jody Purswell e colaboradores fizeram um trabalho interessante sobre a produtividade de ovos submetidas a diferentes condições térmicas[4]. As poedeiras foram expostas a diferentes velocidades de ar a uma mesma temperatura e parâmetros de produtividade foram medidos. Eles alojaram aves (W-36, Hy-Line International) com 24 semanas de idade em câmaras térmicas em um túnel de vento com temperatura e umidade relativa mantidas a 27,7°C e 82%, respectivamente. Variou-se então a velocidade do vento sobre as aves para investigar o efeito do resfriamento na produtividade de ovos.
Jody e colaboradores realizaram experimentos com grupos de 8 poederias colocadas sob três diferentes velocidades de ar: 0, 0,76 e 1,52 m/s. Ração e água foram disponibilizadas à vontade e o programa de iluminação foi o mesmo, conforme as instruções da empresa genética. Ovos foram coletados e pesados para cada grupo de poedeiras durante 28 dias (quatro períodos de uma semana) e o consumo de ração foi medido uma vez por semana. Foram medidos os seguintes parâmetros: postura diária média, consumo de ração, peso do ovo, consumo de ração por dúzia de ovos, e fator de conversão alimentar. Detalhes da análise estatística usada pelos autores foram omitidos aqui, mas podem ser lidos no artigo original. A Tabela 1 apresenta os resultados principais do estudo.
O efeito da velocidade do ar na produtividade fica claro ao analisar a média semana da postura diária de ovos das aves. Uma velocidade de 1,52 m/s eleva a postura em 5,2% e 3,8% em relação à situação de ar estagnado, respectivamente. Houve também um aumento de consumo de ração e, como os outros fatores não foram significativamente diferentes, especula-se que a melhora na postura é resultado do maior consumo de ração.
Colocar ventilação em galpões existentes de poedeiras ou de matrizes pode ser tarefa difícil. Uma alternativa viável para galpões não isolados é aumentar o isolamento da cobertura. É importante aqui relacionar as várias trocas de calor que acontecem em torno de uma ave para poder entender que a velocidade do vento é somente um dos fatores que podem influenciar o balanço energético sobre uma poedeira. Veja a Figura 1 abaixo para podermos discutir todas as trocas existentes. A variação da velocidade do ar afeta diretamente o tamanho da convecção de calor para o ar: quanto maior for a velocidade do ar, maior será a convecção.
Incluí o balanço energético acima para lembrar que em galpões não-isolados, com telhados ou forros quentes, aumento na velocidade do ar é equivalente à redução na temperatura do telhado ou do forro, que pode ser conseguida com um maior isolamento. A radiação das aves para as superfícies pode ser positiva ou negativa, dependendo da temperatura das superfícies. No caso de um dia quente ensolarado, ela é negativa porque vai do telhado ou do forro para a ave.
A fim de ter a mesma perda de calor total para manter a ave com uma temperatura interna constante, é possível trocar a velocidade do ar por uma menor temperatura média radiante. Ou seja, com o aumento da velocidade do ar, aumentam-se as perdas de calor por convecção de forma que as perdas de calor por radiação para as superfícies externas podem ser menores. Alternativamente, uma menor velocidade do ar demanda uma diminuição na temperatura média radiante para elevar as perdas de calor por radiação ou diminuir os ganhos de calor por radiação. A Figura 2 ilustra como a temperatura média radiante que envolve a ave deve variar para diferentes valores de velocidade do ar sobre a ave. A ausência de isolamento térmico em superfícies expostas à radiação solar aumenta o valor da temperatura média radiante, de forma que é necessário mais velocidade do ar para obter-se o mesmo equilíbrio térmico entre a convecção e a radiação, assumindo que as outras trocas sejam constantes.
Uma forma de ler a Figura 2 é se referir às duas setas. Quanto maior for o isolamento do telhado, menor pode ser a velocidade do ar para manter conforto térmico. Alternativamente, quanto menor for o isolamento térmico do telhado, maior há de ser a velocidade do ar para remover o calor adicional absorvido pelas aves.
Conclusões
Experimentos em túnel de vento para determinar o efeito da velocidade do ar sobre a produtividade de poedeiras mostra que há um ganho significativo com a diminuição do estress térmico de calor sobre poedeiras. A ventilação de poedeiras é uma estratégia que deve ser considerada em galpões novos.
Em galpões cujos telhados não sejam isolados, uma estratégia alternativa é adicionar isolamento no telhado para reduzir a temperatura média radiante percebida pelas aves. O efeito de isolar é semelhante a aumentar a velocidade do ar no sentido que diminui a carga térmica sobre as aves em climas quentes.
[1] O boletim é gratuito e basta se cadastrar para receber: https://www.aviculturaindustrial.com.br/cadastro.
[2] https://www.aviculturaindustrial.com.br/noticia/em-sp-calor-faz-a-producao-de-ovos-vermelhos-cair-e-o-preco-sobe/20140522-092607-U497
[3] A Owens Corning e o USDA-ARS têm um acordo de cooperação de pesquisa em conforto térmico de galpões industriais de aves.
[4] Purswell, J. L., Branton, S. L., Luck, B. D., and Davis, J. D., 2013, “Effects of Air Velocity on Laying Hen Production,” 2013 ASABE Annual International Meeting, Kansas City, Missouri, July 21 – 24, 2013











