
A Alemanha e a Comissão Europeia intensificaram, nesta semana, uma última rodada de articulações para convencer a Itália a apoiar o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Segundo um importante parlamentar europeu, o avanço do tratado depende de uma decisão rápida e corre o risco de fracassar caso não seja assinado em breve.
Após cerca de 25 anos de negociações, o acordo com o Mercosul — bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — é considerado o maior da União Europeia em termos de redução tarifária. Países como Alemanha, Espanha e nações nórdicas defendem que o tratado pode impulsionar as exportações europeias, hoje pressionadas pelas tarifas dos Estados Unidos, além de reduzir a dependência da China e ampliar o acesso a matérias-primas estratégicas.
Apesar disso, o acordo enfrenta resistência interna. Setores contrários temem que a abertura comercial resulte em aumento da entrada de commodities a preços mais baixos, com impactos sobre a agricultura europeia. A Polônia mantém oposição firme, enquanto a França atua para adiar a votação, o que deslocou o foco das negociações para a Itália.
O presidente da Comissão de Comércio do Parlamento Europeu, Bernd Lange, afirmou à agência Reuters que houve uma reunião decisiva na noite de segunda-feira entre a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o chanceler alemão, Friedrich Merz, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Segundo Lange, sem o apoio italiano, o acordo dificilmente avançará. “Se a Itália não estiver de acordo, acabou. Espero que hoje a situação fique mais clara”, declarou.
De acordo com fontes próximas às negociações, Meloni e o presidente francês Emmanuel Macron teriam concordado em trabalhar por um adiamento da votação, o que aumenta a incerteza sobre o cronograma.
A União Europeia e o Mercosul chegaram a um acordo de princípio em dezembro do ano passado. Von der Leyen planeja viajar ao Brasil neste fim de semana para formalizar a assinatura, mas, para isso, é necessária a aprovação do Conselho da UE, que reúne os governos dos países-membros. Para bloquear o tratado, é preciso a oposição de pelo menos quatro países que representem 35% da população do bloco, e diplomatas avaliam como provável que outra nação, como a Hungria, vote contra.
Bernd Lange afirmou acreditar que, caso o acordo não seja assinado ainda neste ano, a oportunidade poderá ser perdida. “Os países do Mercosul estão perdendo a paciência. Se não for possível assinar agora, essa janela se fecha e eles podem voltar sua atenção para parceiros estratégicos que a Europa não considera prioritários”, alertou.
Ainda nesta terça-feira, parlamentares europeus devem votar propostas de reforço às salvaguardas para os agricultores, ponto sensível nas negociações e uma das principais exigências da França para avançar no acordo.











