
A atual temporada de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) apresenta um cenário complexo para a cadeia produtiva global. Apesar de governos e produtores estarem tecnicamente mais equipados para lidar com a crise, os dados mostram que o número de surtos registrados desde outubro já supera o volume do mesmo período da temporada anterior. Especialistas reunidos em um webinar global sobre doenças transfronteiriças alertaram que, embora o pico de contágio possa ter ficado para trás no hemisfério norte neste ano, o panorama geral “está longe de ser tranquilizador”.
O perfil epidemiológico da doença revela contrastes regionais importantes e novos perigos biológicos. Enquanto a Europa lidera em número absoluto de focos, as Américas sofrem o maior impacto econômico devido à mortalidade massiva em plantéis comerciais. A Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) reforçou a preocupação com a transmissão para animais de estimação, recomendando rigor para evitar que cães e gatos tenham contato com aves mortas ou ração crua contaminada.
Diante da persistência do vírus, a mentalidade estratégica do setor produtivo está passando por uma transformação profunda. Na América Latina, medidas de biosseguridade antes vistas apenas como “custos operacionais” agora são tratadas como investimentos indispensáveis para a sobrevivência do negócio. Paralelamente, no Japão, onde a doença deixou de ser esporádica para se tornar um evento anual recorrente desde 2020, o governo instituiu grupos de trabalho para debater abertamente a implementação da vacinação como ferramenta de controle oficial.
O maior desafio para o futuro, contudo, reside na capacidade evolutiva do H5N1. O Instituto Pasteur, do Camboja, destacou que o vírus está ocupando nichos ecológicos inéditos, circulando não apenas entre aves domésticas e selvagens, mas adaptando-se cada vez mais a mamíferos terrestres e marinhos. Essa diversidade de genótipos em diferentes regiões mantém a ameaça ativa e imprevisível. A FAO encerrou as discussões com um aviso claro: a vigilância global precisa ser contínua e integrada, pois a “nova normalidade” da gripe aviária exige adaptação constante das defesas sanitárias.
Referência: Watt Poultry












