
O setor produtivo de carne de aves do Rio Grande do Sul vive dias de expectativa e articulação diplomática. Embora a China tenha anunciado a retomada das importações de frango brasileiro, o estado gaúcho permaneceu sob embargo, uma decisão justificada por Pequim com base no caso isolado de Doença de Newcastle registrado em 2024. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) já solicitou esclarecimentos oficiais às autoridades chinesas, e a liderança setorial acredita em um desfecho positivo “nos próximos dias”.
A manutenção da restrição causou surpresa na Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). José Eduardo dos Santos, presidente executivo da entidade, defende que não existem pendências sanitárias que sustentem o veto, uma vez que o episódio de Newcastle foi prontamente solucionado e a condição de sanidade restabelecida foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). “Nós temos fundamentação técnico-científica […] e um trabalho exemplar do nosso serviço oficial”, afirmou Santos, avaliando que o bloqueio se deve a uma necessidade de “atualização de informações” por parte do governo chinês, e não a um risco real.
Impacto em Toda a Cadeia e Pressão de Custos
Os efeitos do bloqueio chinês extrapolam as grandes agroindústrias habilitadas para exportação e atingem o produtor local. Sadi Marcolin, proprietário do abatedouro Mais Frango, explica que a retenção do volume que seria exportado para a China gera um excesso de oferta no mercado interno ou em destinos alternativos, pressionando os preços para baixo e acirrando a competição. “Por menor que seja o produtor do Rio Grande do Sul, está sentindo que não abriu”, analisa o empresário.
O cenário econômico adiciona complexidade ao momento. A avicultura gaúcha tenta se recuperar de uma sequência de desafios severos, que incluem enchentes, o foco de Newcastle e casos de Influenza Aviária. Além das barreiras sanitárias, o custo financeiro tornou-se um gargalo: com a taxa Selic a 15% e os spreads bancários, o custo do capital de giro e das dívidas aproxima-se de 20%, em um ambiente de inflação que eleva os custos operacionais de ponta a ponta na cadeia.
Referência: Agro Estadão












