
Na economia mundial e brasileira, na atualização mais recente do Banco Central, o Boletim Focus de 28/11 apresentou nova queda nas projeções para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), estimado em 4,43% para este ano e 4,17% para o próximo. Em relação ao PIB, as expectativas permanecem estáveis, indicando crescimento de 2,16% em 2025 e 1,78% em 2026. O câmbio deve encerrar o ano atual em R$ 5,40 e atingir R$ 5,50 ao final do ano seguinte (ambas expectativas em manutenção). Por fim, a taxa Selic segue projetada em 15% em 2025, mas caiu para 12% em 2026.
No agro mundial e brasileiro, o Índice de Preços de Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) registrou em outubro uma média de 126,4 pontos, queda de 1,6% em relação a setembro (128,5 pontos), mas praticamente estável em relação ao mesmo período de 2024. A ligeira retração foi puxada pelos cereais, laticínios, carnes e açúcar, parcialmente compensada pelo avanço dos óleos vegetais.
Os cereais (-1,3%) apresentaram queda em todos os subgrupos. O trigo recuou diante da ampla oferta global e boas perspectivas de safra no Hemisfério Sul. Apesar disso, acordos comerciais entre China e Estados Unidos e expectativas de menor produção de milho na União Europeia e nos EUA limitaram as quedas do cereal.
O índice de carnes (-2,0%) teve quedas generalizadas puxadas pela suína e de aves. A primeira recuou com oferta elevada na União Europeia e menor demanda chinesa após a imposição de novas tarifas. As aves também registraram forte baixa, pressionadas por preços menores de exportação do Brasil em meio às restrições comerciais impostas pela China. Os laticínios (-3,4%) recuaram em todos os subíndices, enquanto o açúcar (-5,3%) atingiu o menor patamar desde dezembro de 2020. A produção robusta no Brasil, aliada às boas perspectivas para Índia e Tailândia, ampliou a oferta global e pressionou os preços. A queda do petróleo bruto também contribuiu para a desvalorização, ao reduzir a atratividade do uso da cana para biocombustíveis. Em contrapartida, os óleos vegetais (+0,9%) foram impulsionados pelos óleos de palma, canola, girassol e soja, que teve aumento devido à firme demanda interna no Brasil e nos Estados Unidos.
O segundo levantamento da Conab para a safra de grãos 2025/26 foi divulgado. A projeção de produção total é de 354,8 milhões de toneladas, o que significa uma elevação de 0,8% sobre o ciclo 2024/25 (351,9 milhões de toneladas). A área cultivada deve atingir 84,4 milhões de hectares, um crescimento de 3,3%. Inversamente, o rendimento médio é projetado com uma diminuição de 2,4%, fixando-se em 4.203 kg por hectare.
A Conab pondera que, no início de novembro, a semeadura avança em ritmo favorável, sustentada por condições climáticas regulares. Contudo, a área estimada ainda poderá sofrer alterações dependendo de variáveis como o comportamento do mercado e as condições climáticas futuras.
Após o shutdown mais longo do governo dos Estados Unidos, os relatórios mensais de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), assim como em outubro, não foram divulgados no mês de novembro.
No milho, a segunda projeção da Conab para a safra 2025/26 aponta uma colheita total de 138,8 milhões de toneladas. Este volume é 1,6% menor que o ciclo passado (141,1 milhões de toneladas). A estimativa de área cresceu 4,0%, alcançando 22,7 milhões de hectares, enquanto o rendimento médio previsto caiu 5,4%, para 6.110 kg/ha. A divisão da produção entre os ciclos é estimada em: 25,9 milhões de toneladas na primeira safra (um aumento de 3,7%); 110,5 milhões de toneladas na segunda safra (redução de 2,5%) ; e 2,5 milhões de toneladas na terceira safra (queda de 13,1%).
No relatório de 22 de novembro, a Conab informou que o plantio do milho da primeira safra estava 59,3% concluído (considerando 9 estados), um pouco superior ao progresso de 2024 (58,7%), e acima da média das últimas cinco safras (58,7%). A maior parte do avanço do plantio está concentrada na região Sul, onde os três representantes possuem pelo menos 86% da área plantada (RS 87%, PR 100%, SC 98%). São Paulo e Minas Gerais também avançaram (75% e 53%, respectivamente).
Na bolsa de Chicago, em 01/12, os contratos de milho para vencimento em Mar/26 estavam cotados em US$ 4,45/bushel, 3,3% maior do que o preço registrado há um mês (era de US$ 4,38/bushel).
Na soja, a projeção da Conab para a soja na safra 2025/26 é de uma colheita recorde de 177,6 milhões de toneladas, 3,6% acima do ciclo anterior. A área plantada também deve crescer 3,6%, totalizando 49,1 milhões de hectares. A produtividade é de 3.620 kg/ha, permanecendo estável (-0,1%) em relação à safra passada.
No relatório de 22 de novembro, a Conab informou que o plantio da soja estava 78,0% concluído (12 estados). Esse percentual representa um atraso em relação ao ciclo anterior (83,3%), mas está ligeiramente adiantado em relação à média das últimas cinco safras (75,8%). O avanço do plantio foi possibilitado pelo retorno das chuvas após a segunda quinzena de outubro. A Conab pondera que, embora Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná se aproximem da finalização, algumas áreas semeadas no início de outubro sofreram com déficit hídrico, comprometendo o estabelecimento inicial da cultura.
No mercado futuro (Chicago), até 01/12, o contrato de Jan/26 da soja foi cotado a US$ 11,34/bushel, 1,8% maior do que o preço registrado há um mês (era de US$ 11,27/bushel).
No algodão, a segunda estimativa da Conab para o algodão (pluma) na safra 2025/26 aponta uma produção de 4,0 milhões de toneladas, uma leve queda de 1,2%. A projeção de área é de 2,1 milhões de hectares (aumento de 2,4%), mas a produtividade esperada é menor (-3,6%), ficando em 1.885 kg/ha.
O boletim de novembro da Conab reporta que a cultura do algodão está, na sua maioria, em período de vazio sanitário, que deve durar até dezembro. Durante esta fase, os produtores focam em atividades pós-colheita, como o transporte e beneficiamento, e no manejo fitossanitário para controle do bicudo-do-algodoeiro. A semeadura do novo ciclo (2025/26) começou em São Paulo e deve se intensificar em dezembro a fevereiro.
No mercado futuro (Nova Iorque), até 01/12, o contrato de Mar/26 do algodão foi cotado em 64,46 centavos de dólar por libra-peso, 1,7% menor do que o preço registrado há um mês (era de 65,75 cents/lbp).
Nas demais culturas, a Conab projeta a produção das culturas de inverno em 9,9 milhões de toneladas em 2025. A produção por cultura deve estar segmentada da seguinte forma: trigo com 7,7 mi de t; 1,3 milhões de t de aveia; 555,9 mil t de cevada; e 325,1 mil t de canola. A área destinada às culturas de inverno é de 3,3 mi de ha, com uma produtividade média entre as culturas de 2.959 kg por hectare.
Ponderações da Conab: As primeiras estimativas para as culturas de inverno da safra 2026 (ciclo 2025/26) serão divulgadas apenas em fevereiro; por enquanto, os números de 2025 são usados como base.
O agronegócio brasileiro registrou novo recorde de exportações em outubro, alcançando quase US$ 15,5 bilhões, valor 8,5% superior ao mesmo mês de 2024. O avanço de US$ 1,2 bilhão nas vendas externas foi sustentado pelo aumento no volume embarcado (+10,1%), que compensou a queda de 1,4% nos preços médios dos produtos exportados. Já as importações, somaram US$ 1,8 bilhão (+0,9%), com destaque para fertilizantes (US$ 1,6 bi | +7,5%) e defensivos agrícolas (US$ 659,4 mi | -9,4%).
Entre os setores exportadores, os seis mais relevantes responderam por 84,1% do total embarcado: complexo soja (US$ 3,7 bilhões | 23,9%), carnes (US$ 3,1 bilhões | 20,3%), complexo sucroalcooleiro (US$ 1,7 bilhão | 11,2%), café (US$ 1,6 bilhão | 10,5%), produtos florestais (US$ 1,4 bilhão | 8,9%) e cereais, farinhas e preparações (US$ 1,5 bilhão | 9,4%). O complexo soja foi o principal destaque, com recorde histórico para outubro: US$ 2,9 bilhões (+42,7%) e 6,7 milhões de t embarcadas (+42,8%), sendo 92% destinadas à China, que ampliou suas compras em 75%.
A carne bovina in natura também atingiu recordes em valor e volume, com US$ 1,8 bilhão exportado (+40,9%) e 320,6 mil t (+18,6%). O café verde manteve trajetória positiva e alcançou US$ 1,5 bilhão (+16,0%), mesmo com queda de 16,5% no volume, refletindo preços médios de exportação 34% superiores. As compras chinesas cresceram 616% em valor, consolidando o país entre os principais destinos do produto.
A China manteve a liderança absoluta entre os destinos, com US$ 4,9 bilhões (+41,3%), representando 32% das exportações totais do agro brasileiro. O incremento veio principalmente das compras de soja em grãos (+2,6 mi t) e carne bovina (+US$ 165,6 mi). A União Europeia ficou em segundo (US$ 2,2 bi | 14,5%), puxada pelo café e produtos florestais, enquanto os Estados Unidos registraram queda de 34,4% (US$ 696 mi). Egito, Índia e Irã completaram o top 6 dos destinos, com cerca de US$ 420 milhões cada.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atualizou o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em outubro para R$ 1,412 trilhão em 2025, ficando 11,4% superior ao valor registrado em 2024. Do total, R$ 932,6 bilhões (+11,0%) provém das lavouras e R$ 479,6 bilhões (+12,3%) da pecuária. A soja (R$ 326,0 bilhões) e o milho (R$ 167,5 bilhões) continuam liderando as posições na lavoura, enquanto os bovinos (R$ 205,4 bilhões) e frango (R$ 111,2 bilhões) são protagonistas na pecuária.
O Mapa ainda trouxe a 1ª estimativa para o VBP de 2026. Espera-se um total de R$ 1,366 trilhão, valor que seria 3,3% inferior ao de 2025. A projeção se baseia em uma queda no VBP das lavouras (-5,1% x 2025), enquanto a pecuária permaneceria positiva em relação ao ano vigente (+0,2%).
Após meses de negociações tensas, o governo dos Estados Unidos anunciou a suspensão das sobretaxas (o “tarifaço”) que incidiam sobre produtos estratégicos do Brasil: a carne bovina in natura, o café e as frutas frescas. A medida é vista como um respiro fundamental para recuperar a competitividade desses itens nas gôndolas norte-americanas ainda este ano. Contudo, o acordo não foi completo e gerou reações mistas no setor: produtos como o açúcar, mel e pescados permaneceram de fora da isenção e continuam sujeitos às altas tarifas de importação.
Fortes tempestades de granizo atingiram o Rio Grande do Sul e o Paraná na primeira quinzena de novembro, causando prejuízos significativos em pomares de uva, maçã, pêssegos e nectarinas na Serra Gaúcha, além de destelhamento de aviários e danos em lavouras de trigo. Somente em Erechim. 17.800 pessoas foram afetadas, com dezenas atendidas em hospitais. Meteorologistas alertam que este evento é um reflexo da instabilidade atmosférica típica da transição climática atual. As previsões para os próximos meses (dezembro/25 a fevereiro/26) indicam um retorno do fenômeno La Niña, trazendo risco de chuvas irregulares e abaixo da média para a região Sul, o que acende o alerta para o desenvolvimento das lavouras de soja e milho recém-implantadas.
Para finalizar nossa seção de análise do agro, apresentamos os preços mais recentes dos produtos do setor no fechamento da nossa coluna. No milho, considerando dados de cooperativa do estado de São Paulo, o preço físico era de R$ 67,00/sc; já o contrato para mar/26 (B3) estava em R$ 75,49. Na soja, o preço Spot estava em R$ 133,30/sc (FOB) e a entrega para mar/26 em R$ 123,60/sc (FOB). O algodão (Base Esalq) era cotado a R$ 115,13/lb. O trigo, estava em R$ 1.140,00/t (FOB). Demais preços, considerando dados do Cepea são: café arábica em R$ 2.252,95/sc, alta mensal de 2,1%; laranja para indústria em R$ 38,39/cx (40,8kg) a prazo, com queda de 23,8% no mês; e o boi gordo em R$ 321,60/@, alta de 0,9% no mês.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em dezembro são:
- Acompanhar a consolidação da safra 2025/26. O plantio agora avança em clima favorável, mas produtividade ainda pressionada. A Conab reforça uma safra volumosa (354,8 mi t), sustentada pelo crescimento da área (+3,3%), mas com produtividade em queda (-2,4%). Vai ser decisivo monitorar a qualidade do estabelecimento das lavouras após as chuvas irregulares de outubro; a recuperação das áreas que sofreram com déficit hídrico no início do plantio; e possíveis revisões de área, a depender do comportamento do mercado e impactos sobre a janela da safrinha.
- O governo americano suspendeu as sobretaxas sobre carne bovina in natura, café e frutas frescas, um movimento que reabre espaço para o Brasil recuperar competitividade em produtos que foram bastante impactados. O foco agora é acompanhar se haverá avanço nas negociações para incluir itens que permaneceram fora da isenção, como açúcar, mel e pescados, além de como o setor produtivo americano reagirá.
- Os grãos ainda estão em ambiente internacional volátil em meio a falta de relatórios do USDA e alguns preços futuros reagindo. O milho em Chicago subiu para US$ 4,30/bu (+4,1%) e soja avançou para US$ 11,13/bu (+10,6%). Em dezembro, é importante monitorar o comportamento da oferta dos EUA, mesmo sem os dados oficiais do USDA.
- A COP30 fortaleceu a posição do Brasil como referência em agricultura sustentável. O reconhecimento do Plano ABC+ como modelo global de baixa emissão e o anúncio do Tropical Forests Finance Facility (TFFF) podem destravar bilhões em recursos internacionais para conservação e bioeconomia. É preciso ficar de olho nos próximos debates sobre financiamento verde, crédito rural, bioenergia e intensificação sustentável.
- Acompanhar o câmbio, perto de R$ 5,40, com o cenário externo e fluxos comerciais exigindo atenção redobrada devido a diversos fatores que podem gerar volatilidade; a reaproximação comercial entre Brasil e EUA, que pode alterar expectativas de fluxo cambial; a fraqueza dos preços de algumas commodities (açúcar, carnes), que pode reduzir entrada de dólares; e a postura mais cautelosa do Fed diante dos dados de inflação e emprego nos EUA.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto – SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrande é associada na Markestrat Group, engenheira agrônoma pela ESALQ/USP e mestra em Administração na FEA-RP/USP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.
Rafael Barros Rosalino é consultor na Markestrat Group, médico veterinário pela FCAV/UNESP. É especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.












