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FALA AGRO

FALA AGRO: Liderança feminina no agronegócio brasileiro

FALA AGRO: Liderança feminina no agronegócio brasileiro
Por Christiane Leles Rezende de Vita e Camila Benatti Mourad, professoras do PENSA da FIA Business School

Em 2023, o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) contou com a presença de 3.300 mulheres de 26 estados brasileiros, sendo essa a maior edição da história do evento. O número crescente de participantes no CNMA ilustra o expressivo aumento da mobilização e sensibilização de mulheres ligadas à produção rural nos últimos anos.

Dados do Censo Demográfico de 2022 indicam que há cerca de 6 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil, equivalente a 51,5% da população. No entanto, quando olhamos a liderança em propriedades rurais temos como proporção média 81% de homens e 19% de mulheres (Censo Agropecuário 2017). A partir disso, podemos pensar em três questões: Por quê? Quais os impactos dessa desigualdade? O que pode ser feito?

A desigualdade de gênero nas posições de liderança está relacionada a diferentes aspectos sociais e culturais. Dados da ONU indicam que, em média, no mundo, as mulheres gastam cerca de três vezes mais horas em trabalhos não remunerados (doméstico e cuidados) do que os homens (4,2 horas em comparação com 1,7, respectivamente). Como consequência ao nível desproporcional de responsabilidades, temos o impacto na capacidade das mulheres tanto para entrar, quanto para avançar no mercado de trabalho. Na produção rural também temos como agravante a desigualdade entre filhos e filhas no processo sucessório da fazenda.

Em relação aos impactos, um relatório da FAO de 2011 já apontava que, se as mulheres nas zonas rurais tivessem o mesmo acesso que os homens à terra, à tecnologia, aos serviços financeiros, à educação e aos mercados, a produção agrícola poderia aumentar de 20 a 30% nos países em desenvolvimento. A FAO coloca a igualdade de gênero como crucial para o desenvolvimento agrícola e a segurança alimentar

O estudo do PENSA/FIA de 2022 sobre desequilíbrio de gênero reforçou as conclusões da FAO ao identificar que produtoras possuem sua atuação limitada por barreiras no acesso a: financiamento, extensão rural, treinamento, tecnologia, direitos equitativos à terra, como também falta de informação em relação a seus direitos.

Ao analisarmos os resultados do último Censo Agropecuário veremos que apenas 11% das produtoras rurais declararam que recebem orientação técnica (seja do governo, de cooperativas, empresas, ONGs, Sistema S ou outra) e 5% delas possuem equipamentos como semeadeiras e adubadeiras. Também observamos que as produtoras participam menos de atividades associativas, reuniões técnicas e cursos. Ora, esta desigualdade no acesso à informação, tecnologia e financiamento claramente tem impactos na produtividade, logo, gera menos valor econômico e fica evidente o quanto não apenas a produtora, mas toda a sociedade perde.

A questão que nos resta é: o que pode ser feito? Este é um problema complexo, que envolve a ação conjunta de diversos setores, mas também é necessário que as pessoas percebam que todos podem e devem colaborar no âmbito pessoal e profissional.

Estamos caminhando, é possível perceber que a mudança social e cultural começou, mas ela pode ser bem lenta. Estimam que mudanças culturais demorem de 100 a 1.000 anos para se concretizarem totalmente. Já as mudanças provocadas por estratégias de empresas acontecem de forma muito mais rápida, em cerca de 10 anos.

Um exemplo de ação que combina a união de esforços do setor privado é a Academia de Liderança para Mulheres do Agronegócio (ALMA), resultado de uma parceria entre Corteva, ABAG e FIA Business School, cujos resultados apontam para um despertar das participantes para se reconhecerem como empresárias e líderes em seus negócios rurais, além da formação de uma rede de relacionamento.

Para direcionar os esforços tanto do setor privado, como a experiência relatada acima, quanto das entidades de governo na concepção de políticas públicas, é necessário um esforço coletivo de geração de dados mais assertivos e atuais. É necessário conhecer em cada região as reais necessidades locais e, a partir delas traçar planos de ação e políticas, seja com cursos, facilitação do acesso a financiamento, documentação, estímulo às ações coletivas, entre outras.

Embora ainda haja um longo caminho, a percepção é de que este tema tem sido pauta de discussão frequente no setor com avanços significativos. O tempo para essa evolução será maior ou menor de acordo com a conscientização de que é um problema de todos, com prejuízos culturais, sociais e econômicos.

Acompanhe a coluna dos pesquisadores do Grupo PENSA | Fia Business School em nosso portal de notícias, clicando aqui