
Provavelmente os leitores desta coluna sabem que podem submeter comentários no final do artigo: valem críticas, sugestões, perguntas, desabafos, etc. Pois é: logo no meu primeiro artigo, em abril, uma leitora submeteu uma pergunta sobre a produção de amônia em galpões de frangos de corte e eu somente a vi muitos meses depois. Pesquisei e respondi, mas ficou o tema na cabeça.
Ressalto que ciência da construção tem como objetivo fazer um ambiente construído que seja
- 1. Durável
- 2. Confortável
- 3. Saudável
- 4. Seguro
- 5. Eficiente
A presença de amônia em galpões de frango afeta a todos estes objetivos, de forma que é importante tratar do assunto no meu pequeno espaço nesta coluna. Como um bom estudante, fui pesquisar a respeito para poder entender o processo de geração de amônia e como ela afeta as aves. Tive a incrível sorte de me deparar com o trabalho de Dana Miles[1], uma pesquisadora colega de Jody Purswell no ARS-USDA da Mississippi State University. Esta coluna é baseada naquele trabalho.[2]
A geração de amônia em galpões de frango é causada pela quebra dos compostos de nitrogênio presentes na cama, que é constituída de maravalha, excremento, penas, ração e água. O bom manejo da cama pode reduzir a concentração de amônia em galpões de frango. Dana Miles e colaboradores[3] (2011) mediram a concentração de amônia gerada na cama de galpões de frango e chegaram às seguintes conclusões:
- 1. O aumento da umidade na cama causa um aumento na emissão de amônia
- 2. Temperaturas mais elevadas causam um aumento na emissão de amônia
- 3. Há um nível crítico de umidade na cama que maximiza a geração de amônia
Mais da metade do nitrogênio produzido pelas aves nas suas fezes é perdido para a atmosfera como amônia antes que a cama seja removida do galpão. A redução nos níveis de amônia nos galpões de frango melhora a produtividade do galpão através do aumento do peso final das aves, de uma melhor conversão alimentar e de uma menor mortalidade. Além disto, a redução nos níveis de amônia cria melhores condições ambientais para as aves e para os granjeiros, mantendo mais nitrogênio na cama e diminuindo o impacto negativo da amônia no meio ambiente próximo ao galpão.
Miles e colaboradores verificaram que pequenos aumentos na umidade causam um grande aumento na emissão de amônia da cama. A tabela abaixo, baseada no gráfico do artigo de Miles, mostra o efeito da umidade e da temperatura na produção de amônia. Usou-se a geração de amônia com 20% de umidade na cama e a uma temperatura de 24°C como o padrão comparativo. Com um pequeno aumento de umidade para 25%, a geração é multiplicada por 1,4 (40% a mais de amônia) e assim por diante. Reparem que para uma temperatura de 35°C, a geração de amônia dobra a 20% de umidade, e chega a 6,5 vezes com uma umidade entre 42 e 46%.
Geração de Amônia na Cama de Galpões de Frango de Corte
Umidade | Temperatura de 24°C | Temperatura de 35°C |
20% | Padrão | 2 × Padrão |
25% | 1,4 × Padrão | 3 × Padrão |
30% | 1,8 × Padrão | 4 × Padrão |
42-46% | 2,4 × Padrão | 6,5 × Padrão |
Miles e colaboradores[4] (2004) estimaram que um aumento da amônia no ar de 25 para 50 partes por milhão causa uma redução de 227 g no peso de um frango de sete semanas de idade: é uma perda de 4,6 g por dia no ganho de peso.
Pelos resultados mostrados na tabela, há duas estratégias claras que podem ser utilizadas para diminuir a geração:
- A) Reduzir a umidade na cama
- a. Eliminar vazamentos nos bebedouros e nas linhas de água.
- b. Trabalhar com evaporadores (cooling pads) de maneira apropriada – evitar usar os evaporadores quando não são necessários ou quando a umidade relativa externa estiver próxima a 100%.
- c. Prevenir condensação nas superfícies interiores do galpão[5] – ventilação e isolamento de telhado são fundamentais para prevenir a condensação durante o clima frio.
- d. Ventilar o galpão entre alojamentos para secar a cama.
- B) Reduzir a temperatura da cama
- a. Ventilação apropriada para remover calor das aves e da cama.
- b. Isolamento de telhado para evitar o aquecimento da cama por radiação infravermelha.
Simples e objetivo, é preciso tratar das condições de umidade e de temperatura do galpão; o mesmo que deveríamos fazer para casas e edificações comerciais.
[1] Poultry Litter Moisture Management to Reduce Ammonia
[2] Com comentários e modificações minhas.
[3] Miles, D. M., D. E. Rowe, and T. C. Cathcart. 2011 . High litter moisture content suppresses litter ammonia volatilization. Poultry Science 90:1 397-1 405.
[4] Miles, D. M., S. L. Branton, and B. D. Lott. 2004. Atmospheric ammonia is detrimental to the performance of modern commercial broilers. Poultry Science 83:1 650-1 654.
[5] Ver minha coluna sobre condensação em julho.











