
Um marco simbólico e preocupante foi atingido pela suinocultura francesa no primeiro semestre deste ano. Pela primeira vez desde o início do século XXI, a França deixou de ser autossuficiente na produção de carne suína. Dados da FranceAgriMer, agência nacional para agricultura e pesca, revelam que o índice de cobertura da demanda interna caiu para 98,6%, um recuo em relação aos 100% registrados em 2024 e distante dos picos históricos de 108% em 2011 e 107% em 2020.
A perda da soberania alimentar no setor é resultado de um declínio estrutural profundo. O cálculo de “consumo aparente” expõe a incapacidade da indústria local em acompanhar o apetite do consumidor francês. O cenário é agravado por um êxodo produtivo acelerado: entre 2014 e 2024, cerca de 3% dos suinocultores deixaram a atividade anualmente, uma taxa de abandono que é mais que o dobro da média geral da agricultura francesa (1,4%). Atualmente, restam apenas 5.700 produtores especializados no país, detendo um plantel que encolheu de 14 milhões de cabeças em 2010 para 11,7 milhões em 2024.
Dependência Externa e Barreiras Regulatórias
Para suprir a lacuna entre oferta e demanda, a França tem recorrido cada vez mais ao mercado internacional, gerando descontentamento no setor produtivo local. Em 2024, as importações de carne suína somaram 337 mil toneladas, um aumento de quase 7% sobre o ano anterior. A Espanha, vizinha e maior produtora da União Europeia, consolidou-se como principal fornecedora, enviando cerca de 220 mil toneladas ao mercado francês. Adicionalmente, o país importou 240 mil toneladas de produtos processados e charcutaria.
A Inaporc, organização que representa a cadeia suinícola, alerta que a estagnação produtiva é consequência direta de um ambiente de negócios hostil. “O setor está com dificuldades para manter a produção em linha com a demanda devido a regulamentações inadequadas, que impedem os investimentos necessários para o futuro”, declarou a entidade. O grupo apela às autoridades para que removam os entraves burocráticos à expansão das granjas, alertando que, sem mudanças, a renovação geracional e a soberania alimentar do país não estão asseguradas.












