
Na edição nº 929 da revista Avicultura Industrial, publicada em 1987, um experimento pioneiro chamou a atenção ao avaliar o uso da cama de aviário, composta por casca de amendoim, na alimentação de bovinos confinados. A pesquisa, realizada com trinta e seis animais de alto grau de sangue Nelore, inseriu-se em um contexto de busca por alternativas alimentares economicamente viáveis para o confinamento, especialmente diante dos altos custos dos concentrados tradicionais. O estudo, ao demonstrar a viabilidade do uso desse subproduto sem prejuízo ao ganho de peso dos animais, antecipou debates importantes sobre sustentabilidade, reciclagem de resíduos avícolas e redução de custos na pecuária brasileira.
Cama de aviário (matrizes) em rações para bovinos Nelore em confinamento
Um experimento realizado com trinta e seis bovinos inteiros, com alto grau de sangue Nelore, avaliou o uso da “cama de aviário (matrizes)” — composta por casca de amendoim — como componente das rações de engorda em confinamento. Os animais, com aproximadamente vinte meses de idade e pesos entre 215 e 280 kg, foram submetidos a um período pré-experimental de 30 dias, seguido de sete dias de ajuste.
Os resultados não apresentaram diferenças estatísticas significativas no ganho de peso entre os tratamentos, o que permite recomendar o uso da cama de aviário à base de casca de amendoim na alimentação de bovinos em confinamento.
A prática surge como alternativa estratégica para mitigar os custos da engorda, especialmente na região do Brasil Central, onde a atividade frequentemente esbarra na dificuldade de alcançar um balanço econômico favorável. O principal desafio reside nos elevados preços dos concentrados proteicos e energéticos tradicionais, além da ausência de incentivos oficiais para a comercialização de carcaças oriundas de animais jovens terminados em confinamento.
A cama de aviário de matrizes é um resíduo resultante da mistura de excrementos de galinhas mantidas em galpões com piso de chão, sendo que a base da cama é composta por materiais como bagaço moído ou casca de amendoim. Esses subprodutos estão disponíveis em quantidades suficientes para sustentar programas de engorda em regiões com elevada concentração avícola.
Nos Estados Unidos, embora existam restrições quanto ao uso desse material na alimentação de bovinos, o “Food and Drug Administration” (FDA) já considera sua liberação, dada a possibilidade de reciclagem de nutrientes provenientes dos excrementos das aves, o que pode reduzir significativamente os custos de produção.
No Brasil, pesquisas anteriores também indicam o potencial dessa prática. Velloso e equipe, por exemplo, trabalharam com cama de frangos na alimentação de bovinos mestiços em confinamento, utilizando até 45% da dieta. Os resultados mostraram ganhos médios de aproximadamente 0,800 kg/dia, com dados econômicos bastante promissores.
Por outro lado, Souza e colaboradores utilizaram cama de aviário de matrizes, com base de cepilho de madeira, na recria de novilhos mestiços em confinamento. Contudo, os ganhos médios foram mais modestos, situando-se ao redor de 0,300 kg/dia, mesmo em dietas com até 3,0 kg desse resíduo.
Esses estudos reforçam a importância de avaliar a composição e a base da cama de aviário utilizada, bem como o perfil dos animais e o sistema produtivo, para garantir eficiência na engorda e viabilidade econômica no confinamento de bovinos.