
O protocolo de intenções firmado entre a Marfrig Alimentos e os frigoríficos Margen e Mercosul para o arrendamento de 11 plantas de abate de bovinos e uma indústria de charquearia não atinge Mato Grosso. A opinião é do veterinário Carlos Augusto Zanata, do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato). A intermediação da parceria foi feita pela Rosenberg Partners.
Segundo Zanata, a operação envolve diretamente as plantas localizadas em outras regiões do País. Em Mato Grosso, a Marfrig possui duas plantas em funcionamento, uma em Tangará da Serra (242 quilômetros ao norte de Cuiabá) e outra em Paranatinga (373 quilômetros ao sul de Cuiabá).
As plantas de abate arrendadas pelo Marfrig e os frigoríficos Margen e Mercosul adicionam uma capacidade estática de 8,8 mil bovinos/dia à empresa. O Marfrig, portanto, alcança uma capacidade de abate de 22.350 bovinos/dia no Brasil e de 30.150 bovinos/dia no total. Já a charquearia tem capacidade de produção de 1,7 mil toneladas de produtos industrializados por mês.
Com a operação, a Marfrig no Brasil eleva sua participação na capacidade estática de abate brasileira (estimada em 60 milhões de cabeças/ano) para quase 11%.
Vale lembrar que a fusão entre JBS-Friboi e Bertin já havia criado uma nova empresa com capacidade estática de abate equivalente a 19% do total nacional.
Dessa forma, duas empresas passam a responder por 30% da capacidade estática de abate do Brasil e por quase 70% das exportações nacionais de carne bovina.
Cartel- A concentração da atividade frigorífica coloca o setor nas mãos de um menor de indústrias. Porém, ninguém vê qualquer indício de formação de cartel, prática de combinação de preços para prejudicar os fornecedores. Produtores e indústria apostam em práticas salutares e no fortalecimento da cadeia pecuária no Estado.
“De forma alguma podemos atribuir qualquer movimento neste sentido. Os frigoríficos são nossos parceiros e acreditamos em boas práticas comerciais”, afirma o pecuarista Ronaldo Silveira, da região de Pontes e Lacerda (448 quilômetros ao oeste de Cuiabá). Segundo ele, não existem também sinais que possam indicar a formação de oligopólio no Estado.
Silveira diz que os fazendeiros estão empenhados na busca de uma solução para o saneamento financeiro das indústrias. “Queremos que as plantas paradas voltem a funcionar com saúde financeira para que possamos recuperar um pouco do tempo perdido. Pecuaristas e indústria devem caminhar juntos”.
O pecuarista da região de Juara (709 quilômetros ao norte de Cuiabá), Silvino Almeida, diz que “não podemos falar em cartelização do setor, e sim, buscar uma solução para a cadeia pecuária antes que este processo se inicie em nosso Estado”.
Para o diretor executivo da Associação dos Proprietários Rurais de Mato Grosso (APR/MT), Paulo Resende, os pecuaristas estão atentos e vão continuar trabalhando para que a situação atual seja revertida com o retorno de todos os frigoríficos ao mercado.
Sindifrigo– O presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado (Sindifro), Luiz Antônio Freitas Martins, diz que não há qualquer movimento das empresas mato-grossenses no sentido de combinar preços para forçar queda sobre o preço da arroba do boi.
“As indústrias jamais irão recorrer a esta prática, mesmo porque existem grandes grupos atuando em Mato Grosso e disputando o mercado de uma forma salutar, de acordo com a lei da oferta e da procura”.
Segundo ele, em Mato Grosso, são muitos fornecedores e o que a indústria tem a fazer é buscar as regiões onde estão sendo praticados os melhores preços. “Na verdade, os preços ainda estão altos para os importadores e temos perdido muitas vendas por causa disto”.
Martins admitiu que existem frigoríficos em dificuldades financeiras, mas todos estão procurando cumprir e honrar seus compromissos com os fornecedores. “Nossa preocupação é o respeito aos pecuaristas, que serão sempre nossos parceiros, não importando as circunstâncias momentâneas de mercado que possamos enfrentar”, afirmou.











