Em baixa desde outubro de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro registrou uma nova variação negativa de 0,53% no primeiro trimestre deste ano, apontou a pesquisa conjunta de Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) e Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) divulgada ontem. O PIB global brasileiro recuou 0,8% entre janeiro e março.
A crise financeira mundial prejudicou especialmente os segmentos da agricultura básica, cujo PIB recuou 1,9%, e de insumos (baixa de 1,16%). A pecuária registrou leve crescimento de 0,17% de janeiro a março.
A pesquisa Cepea-CNA também mostrou o bom resultado da soma das riquezas geradas pelo campo em 2008. Houve variação positiva de 6,97% no período, resultado superior ao crescimento de 5,1% do PIB global brasileiro em 2008. No total, as riquezas do campo somaram R$ 764,6 bilhões, ou 26,4% do PIB brasileiro.
Mas o cenário para 2009 é desanimador, de acordo com previsão da CNA. Para crescer de forma semelhante ao ano passado, seria necessário crescer 0,8% até o fim deste ano. “Se o governo tomar medidas para viabilizar o setor e garantir acesso ao crédito, podemos igualar 2008. Se não, perderemos o atual boom de preços das commodities”, afirmou a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
Principal liderança ruralista, a senadora é cética em relação ao novo Plano de Safra 2009/10 a ser anunciado pelo Ministério da Agricultura anuncia na segunda-feira. “Anunciar o que não vai ser contratado é uma judiação”. O governo precisaria oferecer, segundo ela, um fundo garantidor de crédito (FGC) ao setor, além de alterar as regras de reclassificação de risco do Banco Central para permitir acesso dos produtores a novos créditos.
“Mas a Fazenda está muito morosa com isso”, disse Kátia Abreu. Segundo ela, um estudo do Banco do Brasil aponta a necessidade de R$ 7 bilhões para o FGC da agropecuária. “O BB ajudou a fazer esse estudo que mostra que podemos reincluir 15% dos produtores hoje fora do crédito oficial”, afirma a senadora.
A CNA aponta sinais preocupantes adicionais para o agronegócio neste ano. O recuo do PIB pelo sexto mês consecutivo deve ser somado à queda de 6,5% no faturamento bruto da agropecuária. À exceção de carne bovina, trigo, cana e algodão, todas as demais atividades agropecuárias importantes devem sofrer retração de VBP neste ano, segundo a CNA. As vendas de fertilizantes recuaram de 9 milhões nos primeiros cinco meses de 2008 para 6,6 milhões de toneladas no mesmo período deste ano. Em defensivos, foram vendidos 27% menos, segundo a CNA.
“O produtor não está conseguindo acesso ao crédito. Faltou dinheiro para comprar insumos e está sobrando até recursos a juros controlados”, afirmou ela.
Nesta composição do cenário adverso, mesmo com a demanda aquecida da China por commodities agrícolas, também está a queda dos preços médios dos produtos exportados pelo agronegócio. De janeiro a maio deste ano, quase a maioria absoluta dos embarques foram realizados com preços em forte retração. O resultado de um ano de performance negativa pode ser o abandono da atividade por alguns produtores e a elevação na concentração das terras em mãos de outros poucos.
“Talvez o governo não se preocupe com a saída desses joões, marias e josés, mas isso gera concentração de propriedades e da produção. Se a cada crise dessas eliminarmos 100 mil produtores, o negócio só vai ficar bom para alguns poucos, como indústrias vêm fazendo conosco”, avalia a presidente da CNA.











