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Biosseguridade na Avicultura: Um Investimento Essencial para a Sustentabilidade do Setor, por Paulo Raffi

Biosseguridade na Avicultura: Um Investimento Essencial para a Sustentabilidade do Setor, por Paulo Raffi

A biosseguridade na avicultura é um conjunto de práticas preventivas destinadas a reduzir o risco de introdução e disseminação de patógenos nas granjas. Embora frequentemente vista como um custo adicional, a biosseguridade deve ser considerada um investimento essencial para a sustentabilidade e lucratividade da produção avícola. O impacto econômico de surtos de doenças pode ser devastador, afetando a produtividade, a exportação e a saúde pública. Este artigo discute a importância da biosseguridade como estratégia econômica, analisando seu impacto na redução de perdas e no aumento da eficiência produtiva, baseando-se em estudos recentes e diretrizes internacionais (MAPA, 2021; Siekkinen et al., 2012; FAO, 2020; Biosecurity Costs Explained, 2021).

O Conceito de Biosseguridade e sua Importância

A biosseguridade pode ser definida como um conjunto de medidas que visam prevenir, controlar e erradicar a introdução de doenças infecciosas na produção animal. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2021), a biosseguridade é essencial para garantir o status sanitário dos plantéis e, consequentemente, a competitividade da avicultura brasileira no mercado global.

A avicultura brasileira é uma das maiores do mundo e altamente dependente da manutenção de padrões sanitários rígidos para exportação. Os surtos de doenças como Influenza Aviária e Salmonelose podem levar a embargos comerciais e perdas milionárias para a indústria. Além disso, o impacto na saúde pública devido às zoonoses reforça a necessidade de medidas preventivas robustas. Estudos indicam que a implementação de programas eficazes de biosseguridade pode reduzir significativamente a ocorrência de doenças, garantindo a segurança alimentar e a sustentabilidade econômica (FAO, 2020).

Custos versus Benefícios da Biosseguridade

A percepção da biosseguridade como um custo adicional muitas vezes impede sua adoção eficaz. No entanto, os custos decorrentes de surtos de doenças superam amplamente o investimento em medidas preventivas. De acordo com um estudo europeu sobre custos de biosseguridade na produção avícola, o investimento médio por ave para prevenir doenças foi de 3,55 centavos de euro (intervalo de confiança de 90%: 2,56-4,40 centavos por ave), enquanto os custos associados a surtos foram significativamente maiores (Siekkinen et al., 2012). Para produtores de ovos incubáveis, os custos de biosseguridade foram consideravelmente mais altos, com uma média de 75,7 centavos por ave (39,34-115,49 centavos por ave). Apesar do número reduzido de propriedades produtoras de ovos incubáveis na amostra, é possível concluir que o custo por ave nesse segmento é substancialmente maior do que na produção de frangos de corte.

Tabela 1 – Custos por ave para medidas preventivas de biosseguridade na produção avícola finlandesa

Tipo de ProduçãoMédia (eurocent)Mediana (eurocent)Mínimo (eurocent)Máximo (eurocent)Intervalo de Confiança de 90% (eurocent)
Produtores de frangos de corte3,553,602,524,902,56-4,40
Produtores de ovos incubáveis75,7382,9837,39122,1139,34-115,49

A Tabela 1 destaca a diferença significativa nos custos de biosseguridade entre os dois setores. Enquanto os produtores de frangos de corte enfrentam custos relativamente baixos por ave, os produtores de ovos incubáveis precisam arcar com despesas substancialmente maiores. Esse fator pode ser atribuído a requisitos mais rigorosos de biosseguridade nesse segmento, incluindo monitoramento contínuo, instalações especializadas e barreiras sanitárias mais rígidas. A variação entre o mínimo e o máximo dos custos registrados indica que a estrutura e o nível de implementação das práticas de biosseguridade impactam diretamente os custos finais, tornando essencial a adaptação das estratégias conforme a necessidade de cada tipo de produção.

A Figura 1 do estudo de Siekkinen et al. (2012) detalha os custos de biosseguridade por categoria na produção de frangos de corte. A análise revela que a maior parte do custo está associada à prevenção, com um custo significativamente mais alto por ave em comparação com outras categorias. Medidas como controle de pragas, aquisição de equipamentos, educação e treinamento de funcionários também representam custos importantes, mas de menor impacto.

Tabela 2 – Custos de biosseguridade por categoria na produção de frangos de corte (eurocent por ave)

CategoriaMediana (eurocent)
Plano de biosseguridade0,099
Prevenção2,10
Controle de pragas0,30
Equipamentos0,25
Educação0,20
Limpeza adicional0,15
Custos com compra de materiais0,20
Construção de barreiras sanitárias0,30
Monitoramento de saúde animal0,40
Programas organizacionais0,55
Monitoramento da produção0,20
Seguro0,10
Controle de infecções0,25

Outro aspecto relevante é o custo com programas organizacionais de biosseguridade, que varia consideravelmente entre produtores. Essa variação pode ser explicada pela diferença nos protocolos adotados e na infraestrutura disponível em cada granja. Além disso, o monitoramento da saúde animal e as medidas de controle de infecção são essenciais, mas possuem um impacto financeiro menor em comparação com as medidas preventivas.

Esse levantamento demonstra que o foco principal dos custos de biosseguridade está na prevenção de surtos, o que reforça a tese de que investir em biosseguridade reduz significativamente as despesas com medidas corretivas e minimiza perdas produtivas.

Conclusão

A biosseguridade não deve ser vista como um custo, mas sim como um investimento estratégico para a sustentabilidade da avicultura. Os benefícios superam os custos, resultando em maior segurança sanitária, melhor desempenho produtivo e proteção contra perdas financeiras severas. A conscientização e o treinamento contínuo dos colaboradores são fundamentais para garantir a eficácia dos protocolos de biosseguridade. Dessa forma, os avicultores que adotam medidas preventivas robustas estarão melhor preparados para enfrentar desafios sanitários, garantindo a competitividade e longevidade de seus negócios. A biosseguridade deve fazer parte da cultura da empresa e para que todas as pessoas contribuam para o sucesso do programa. Realizar uma correta identificação dos Pontos Críticos de cada proceso para atuar nos pontos de corte e com isso evitar a disseminação da enfemidades e problemas sanitários na empresa.

Pense no curto e no longo prazo. Acredito que existem desafios e  dificuldades devido aos inúmeros processos e setores, por isso, primeiro as mudanças devem iniciar por biosseguridade operacional, que é a de menor impacto nos custos. E a médio e a longo prazo a estrutural.

E portanto, a biosseguridade  é o caminho mais fácil e econômico.

Referências

  1. MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2021). Manual de Mensuração de Risco em Estabelecimentos Avícolas.
  2. Siekkinen, K.-M. et al. (2012). The Costs of Biosecurity at the Farm Level: the Case of Finnish Broiler.