
A Minerva entrou com um recurso no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que seja reavaliada a fusão entre BRF e Marfrig. A empresa alega que a presença da Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company), acionista relevante tanto da Minerva quanto da MBRF (empresa resultante da fusão), pode prejudicar a concorrência no mercado de alimentos processados no Brasil e no exterior.
A Minerva, que foi incluída como terceira interessada no processo, argumenta que a operação resultaria em uma concentração excessiva em produtos como hambúrgueres, almôndegas e quibes, categorias em que a companhia tem participação marginal, mas nas quais vê risco de aumento significativo de poder de mercado da nova empresa. Além disso, destaca que a fusão reforçaria o poder de compra da MBRF em canais estratégicos de distribuição, com impacto relevante no segmento de food service — que engloba redes de restaurantes e catering, considerado prioritário por todas as empresas envolvidas.
O ponto central da preocupação reside na estrutura acionária da Salic. O fundo saudita detém cerca de 11% do capital da BRF e, com a fusão, passaria a ter 10,6% da MBRF. Na Minerva, essa participação é ainda mais expressiva, chegando a 24,5%, o que a torna a segunda maior acionista, com direito a indicar três membros do conselho de administração e acesso a informações estratégicas. Segundo a Minerva, esse cenário cria riscos de “comunicação indireta” e compartilhamento de dados sensíveis entre companhias que, em tese, deveriam competir.
Além do mercado doméstico, a empresa dos Vilela de Queiroz também aponta riscos de concentração no mercado internacional, já que BRF e Marfrig são grandes exportadoras de alimentos processados. De acordo com a LCA Consultores, que assessora a Minerva, essa estrutura demanda uma investigação aprofundada e, se necessário, a imposição de medidas corretivas para preservar a concorrência.
O recurso foi protocolado na última sexta-feira (28) e não busca necessariamente impedir a fusão, mas garantir que o Cade avalie restrições de governança ou eventual venda de ativos para mitigar os riscos concorrenciais. Os acionistas da BRF devem votar a operação em 14 de julho. Caso seja aprovada, a nova companhia terá faturamento anual superior a R$ 150 bilhões, formando uma das maiores corporações brasileiras do setor de alimentos.