
As recentes ações do governo Donald Trump, incluindo cortes significativos de pessoal em agências-chave como a Food and Drug Administration (FDA) e o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), estão levantando preocupações sobre a integridade do sistema de segurança alimentar do país.
A FDA é responsável por supervisionar cerca de 80% do suprimento alimentar americano — desde fórmulas infantis até hortaliças e aditivos — enquanto o USDA regula os produtos de origem animal. Ambas as agências contam com inspetores federais que realizam auditorias e respondem a surtos de doenças alimentares em parceria com autoridades estaduais e o CDC.
Os cortes no orçamento afetaram diretamente essa estrutura. Estima-se que cerca de 20 mil funcionários do Departamento de Saúde e Serviços Humanos — que abrange FDA e CDC — tenham deixado seus cargos. Como resultado, diversos programas foram suspensos, incluindo iniciativas de controle de qualidade para leite, vegetais frescos e testes relacionados à gripe aviária.
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Além disso, uma divisão especializada do Departamento de Justiça que tratava da responsabilização criminal por violações de segurança alimentar foi dissolvida. A ausência dessa força legal, segundo especialistas, reduz drasticamente a possibilidade de punições severas a empresas negligentes, mesmo em casos de morte ou fraude.
O governo também estuda transferir a supervisão rotineira da segurança alimentar para autoridades estaduais. Embora isso possa manter a fiscalização em funcionamento, especialistas alertam para o risco de uma resposta desigual a surtos, já que os recursos e capacidades variam amplamente entre os estados.
Apesar da permanência de padrões elevados em setores como o leite, especialistas como Nicole Martin, da Universidade Cornell, e Travis Waller, do Departamento de Agricultura de Utah, alertam para a redução da capacidade federal de auditoria, o que compromete o avanço em direção aos padrões nacionais de segurança alimentar.
“Não é como se as rodas do ônibus tivessem caído, mas todas as porcas estão soltas e o ônibus está descendo”, resumiu o professor Donald Schaffner, da Rutgers University, ilustrando o risco crescente na proteção da cadeia alimentar norte-americana.