
Por Leandro Mariani Mittmann
A avicultura brasileira, que responde por mais de um terço das transações globais de carne de frango, começa a dar seus primeiros passos – ou voos – para se tornar um player global também nas exportações de ovos. Mais do que os números expressivos dos embarques no início do ano, inclusive a destinos estratégicos e exigentes como o americano, as movimentações de fusões e aquisições internacionais protagonizadas pelas empresas brasileiras Mantiqueira e Granja Faria, que se tornaram ainda mais gigantes e expressivas em nível global, são marcos de que o ovo verde-amarelo pode ter começado uma escalada para também conquistar o mundo
O início foi bem modesto e atendeu aos mercados de Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Japão. O ano era 1975 e o Brasil promovia a primeira exportação de carne de frango: 3.469 toneladas. Pouco mais de um quarto de século depois, em 2001, o país superava, enfim, a marca de 1 milhão de toneladas comercializadas num único ano. E, então, no ano passado, já na condição de maior exportador mundial de frango ao longo de mais de duas décadas, embarcou o seu recorde, de 5,294 milhões de toneladas, para mais de 150 mercados. Ou um volume 1.526 vezes maior ante aquele começo.
Pois talvez uma história de conquista semelhante à do frango esteja no começo para outro derivado da galinha, o ovo. Afinal, o produto brasileiro está inserido num universo e em condições semelhantes às que catapultaram internacionalmente a carne de frango: ambiente favorável para gerar alimentos para as aves, como terras abundantes para o insumo fundamental milho, espírito empreendedor dos produtores e incorporação de tecnologias modernas, rigor sanitário e adoção de boas práticas como bem-estar animal e rastreabilidade, ótimas relações com todos os países – de ativa diplomacia ao estabelecimento de acordos bilaterais com mercados exigentes -, e muitos, muitos outros atributos e ações que deixam a avicultura de postura brasileira em promissoras vantagens competitivas.
Mais recentemente, dois movimentos em nível global deixaram o ovo brasileiro em um mais alto patamar: a crise generalizada de influenza na avicultura americana, com focos em todos os estados e que chegaram até no rebanho leiteiro, e iniciativas de fusão e aquisições de empresas brasileiras que já eram gigantes e agora se tornaram ainda maiores. A Mantiqueira Brasil teve 48,5% do capital total e 50% das ações com direito a voto adquiridos pela JBS, a maior empresa do mundo em processamento de carnes, enquanto a Granja Faria comprou a Hevo, segunda maior produtora de ovos da Espanha, a também espanhola Legaria, e a americana Hillandale Farms, além de adquirir outros grandes empreendimentos brasileiros. E, entre possíveis futuras investidas semelhantes em nível internacional, a Faria planejava (mas adiou por ora) uma oferta pública inicial de ações (IPO) na Bolsa de Nova York.
“A entrada da JBS no setor de ovos demonstra um horizonte positivo para o setor, trazendo forte expertise de logística exportadora, apesar de esta já ser uma das forças da Mantiqueira. É a ampliação de um trabalho muito bem executado pelo Leandro Pinto como líder empresarial, reforçando a posição de uma grande produtora brasileira no cenário nacional e internacional”, destaca Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Ao mesmo tempo, a atuação internacional da Granja Faria também tem contribuído para a visibilidade do ovo brasileiro em mercados estratégicos. Essas iniciativas fortalecem a imagem do setor, ampliam sua capacidade de resposta às demandas globais e estimulam a profissionalização da cadeia como um todo”.
Conforme o dirigente, o setor de ovos, cujo Valor Bruto de Produção no Brasil no ano passado superou os R$ 26 bilhões, vive um momento de fortalecimento e diversificação de mercados. “Tradicionalmente voltado ao mercado interno, o Brasil tem se consolidado como um player emergente no comércio internacional de ovos”, esclarece. “A produção nacional, superior a 52 bilhões de unidades anuais, aliada à capacidade de atender a requisitos internacionais, têm permitido ao setor responder de forma eficiente à demanda global, sem comprometer o abastecimento interno”.
Realmente, o mercado externo assumiu um protagonismo jamais visto. Os embarques (ovos in natura e processados) foram excepcionalmente significativos em maio, 295,8% superiores ao mesmo mês de 2024, ou 5.358 toneladas ante 1.354 toneladas. Em receita, US$ 13,756 milhões, 356,2% mais que em maio/24, em US$ 3,015 milhões. Já o acumulado nos primeiros cinco meses igualmente teve um crescimento vertiginoso: 18.357 toneladas, alta de 165,6% em comparação ao mesmo período de 2024 (6.912 toneladas), e a receita atingiu em US$ 42,1 milhões, +195,8% sobre os US$ 14,235 milhões do período anterior.
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