
O Brasil se destaca como o segundo maior produtor mundial de carne de frango, com aproximadamente 14 milhões de toneladas anuais. Essa posição favorável é resultado de investimentos contínuos em genética, instalações, novas tecnologias e alimentação racional. A busca por agilidade, qualidade, eficiência e redução de desperdícios no setor tem tornado a uniformidade do lote de frangos essencial, uma vez que as especificações de peso devem seguir padrões rigorosos, evitando grandes variações entre animais do mesmo lote.
A automação nas plantas de produção exige especificações de peso bastante restritas, pois os equipamentos operam dentro de uma faixa limitada de tamanho das carcaças. Lotes com grandes diferenças de peso podem reduzir a precisão do processo, afetando negativamente o rendimento e a qualidade do produto final. Para aferir a uniformidade, é realizada a média do lote, pesando no mínimo 1% da população total de animais, com uma variação aceitável de ±10% do valor.
Lotes são classificados como excelentes quando 85% a 100% das aves estão dentro do desvio padrão calculado. Valores entre 80% e 85% são considerados bons; de 75% a 80%, satisfatórios; de 70% a 75%, regulares; e abaixo de 70%, não satisfatórios.
Um estudo realizado em 2021 em um abatedouro de aves sob inspeção estadual em Santa Catarina, com capacidade diária de 30 mil aves e que adquire frangos leves (peso médio de 2 kg) de cinco empresas integradoras (EI), revelou elevadas perdas no processo de abate após a modernização e instalação de evisceração automática. O mapeamento de perdas correlacionou os dados com as empresas integradoras durante um período de dois meses de abate.
Resultados da Uniformidade e Causas das Perdas
A uniformidade média encontrada em todos os fornecedores do abatedouro foi de 62,7%, considerada não satisfatória pelos padrões da indústria. A maior média de uniformidade observada foi de 66% na EI 5, seguida pela EI 2 (65%), EI 4 (64%), EI 1 (60%) e EI 3 (56%). O menor valor de uniformidade detectado foi de 28%, enquanto o maior foi de 95%, oriundos da EI 1 e EI 5, respectivamente.
Ao avaliar os motivos das perdas, observou-se que hematomas e fraturas foram prevalentes, somando 19,7%, seguidos de fratura branca (14,8%), contaminação por bile (5,7%), hematoma e fratura de abate (4,3%), mal sangradas (1,53%) e asas cortadas (0,18%).
A EI 2 foi a que apresentou o maior número de perdas totais (13,89%), com perdas de abate correspondentes à uniformidade em 5,2%, sendo a maior causa fraturas com hematomas originários da granja (8,7%). A EI 1 apresentou 8,65% de perdas (5,4% relacionadas à uniformidade e 3,2% a fraturas e hematomas de granja). A EI 3 teve 8,57% de perdas (5,6% relacionadas à uniformidade, sendo a maior causa fraturas brancas em 3,3%). A EI 5 registrou 8,1% de perdas (5,6% relacionadas à uniformidade do lote, com fratura branca sendo a maior causa em 3,2%). Por fim, a EI 4 apresentou 7% de perdas (4,2% relacionadas à uniformidade, sendo a maior causa fratura branca em 2,5%).
A análise dos dados revelou correlações entre a uniformidade dos lotes e a porcentagem de perdas no abate, especialmente para a EI 1. Manejos incorretos na granja podem levar a condenações parciais, afetando negativamente o rendimento e a qualidade do lote. A regulagem dos maquinários automatizados, que exige ajustes para cada lote com médias de peso diferentes, torna-se ineficiente devido ao grande fluxo diário de abate e à variação de peso entre as empresas integradoras.
Conforme Nunes (2016), as condições operacionais restritas geram perdas excessivas de qualidade e rendimento do produto final, necessitando de regulagens precisas para lotes com diferentes pesos médios. Guimarães (2015) destaca que a uniformidade é crucial, pois está ligada à aparência do produto final; carcaças com peso muito diferente têm menor aceitação comercial e são destinadas a produtos menos rentáveis, segundo Nunes et al. (2016).