
A avicultura paranaense, reconhecida mundialmente por sua excelência sanitária e força exportadora, vive um paradoxo financeiro que ameaça a base de sua cadeia produtiva. Um levantamento detalhado realizado pelo Sistema FAEP aponta que a remuneração paga aos produtores integrados não tem sido suficiente para cobrir os custos totais da atividade. O estudo, que ouviu avicultores das 14 Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) do estado, revela que a receita obtida com a entrega dos lotes e a venda da cama de aviário cobre, em média, apenas os custos variáveis.
O cenário desenhado pelos técnicos do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP é de descapitalização progressiva. Ao não cobrir os custos fixos e totais, os produtores acumulam saldos negativos anuais que variam entre R$ 89 mil e R$ 217 mil. “Ano após ano, as condições dos produtores estão se complicando. Os reajustes que os produtores estão recebendo não acompanham os custos de produção”, alerta Diener Santana, presidente da Comissão Técnica de Avicultura do Sistema FAEP.
Pressão por Modernização em Cenário de Margem Negativa
O impasse se agrava diante das exigências contratuais das agroindústrias integradoras. Para manter o alto padrão sanitário que abre as portas do mercado internacional para o frango brasileiro, as empresas demandam investimentos constantes em automação e melhorias estruturais nos galpões. No entanto, a atual estrutura de remuneração inviabiliza esses aportes para a maioria dos integrados, especialmente aqueles com estruturas mais antigas que não recebem os mesmos incentivos dos novos modais.
Produtores relatam a dificuldade de equilibrar as contas diante de aumentos expressivos nos custos operacionais no último ano. Segundo o DTE, a alta nos custos variáveis oscilou entre 5% e 15%, impulsionada por três fatores principais:
- Mão de obra: Escassez e valorização salarial no campo;
- Manutenção: Encarecimento de peças e serviços para conservação dos equipamentos;
- Energia Elétrica: Oscilações tarifárias que impactam diretamente a climatização dos aviários.
Risco Sistêmico para a Cadeia Produtiva
A sustentabilidade da integração avícola no Paraná está em xeque. Enquanto o mercado externo absorve o produto com boa remuneração para a indústria, a base produtiva enfrenta dificuldades para realizar a manutenção básica e a renovação tecnológica necessária. O avicultor Maurício Gonçalves Pereira, de São Tomé, resume o sentimento da classe: “Temos que investir somas significativas para manter a ótima qualidade dos frangos […] mas não somos remunerados na mesma medida”.
Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP, reforça que, apesar do cenário desafiador, o produtor continua investindo, confiando na reputação do frango brasileiro. A entidade segue atuando através das Cadecs para buscar um reequilíbrio nas negociações, visando evitar um colapso que poderia impactar desde a geração de empregos rurais até o volume de exportações do estado.
Referência: Sistema FAEP












