
A avicultura da Irlanda atravessa um momento de paradoxo operacional. Embora projetada como a única proteína animal com perspectiva de aumento real no consumo per capita no país, a atividade enfrenta uma tempestade perfeita de desafios estruturais e sanitários. O diagnóstico consta no Relatório e Perspectivas Anuais do Departamento de Agricultura, Alimentação e Marinha (DAFM), que aponta a pressão por novos padrões de bem-estar animal e a ameaça constante da Influenza Aviária como gargalos decisivos para o futuro do setor.
A transição dos sistemas de produção é um dos pontos mais críticos. O setor sofre intensa pressão de grandes varejistas e ONGs para abandonar as gaiolas enriquecidas, exigindo investimentos massivos de capital em um cenário onde os custos de implantação de infraestrutura dispararam nos últimos cinco anos. Para agravar a equação financeira, os produtores relatam dificuldades em firmar contratos de longo prazo com as redes de varejo, o que compromete a segurança necessária para amortizar esses investimentos em modernização e adequação tecnológica.
Apesar dos entraves, os fundamentos de mercado permanecem sólidos e em expansão. O Valor Bruto da Produção (VBP) do setor saltou 9% em 2024, atingindo € 237,4 milhões, impulsionado por um crescimento de 9,5% no volume, mesmo com uma leve deflação de 0,6% nos preços. O abate total superou 114 milhões de cabeças (sendo 89,8% de frangos de corte). A carne de aves mantém a preferência do consumidor devido à sua imagem de saudabilidade e competitividade de preço, com previsão de alta de 1,6 kg no consumo per capita. As exportações também reagiram, somando € 294,8 milhões, tendo o Reino Unido como principal destino.
No segmento de postura comercial, a mudança no perfil de alojamento é acelerada e visível. O número de aves criadas em sistemas de piso (barn) saltou de 9% para 20% do plantel total em apenas um ano, refletindo a adaptação às novas demandas. Em 2024, a Irlanda produziu cerca de 938 milhões de ovos (59.100 toneladas) em 272 granjas registradas. No entanto, o DAFM ressalta que surtos de doenças exigiram o despovoamento sanitário de diversos lotes, impactando a oferta momentânea e testando a resiliência do plantel nacional, estimado em 3,95 milhões de aves.
Referência: Poutry World











