
Um estudo aprofundado da Embrapa Pesca e Aquicultura delineou um mapa estratégico para a expansão da tilápia brasileira nos competitivos mercados dos Estados Unidos e da Europa. Sendo o carro-chefe da piscicultura nacional, a tilápia do Brasil, que já figura como a quarta maior produção mundial, possui um vasto potencial de crescimento, amparado por condições naturais favoráveis. A pesquisa, financiada por emendas parlamentares e apoiada pela Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), revela cenários distintos e oportunidades claras para o setor.
Nos Estados Unidos, o consumo de tilápia é consolidado e robusto, atingindo uma média de 460 gramas por habitante ao ano. O peixe de carne branca rompeu os nichos étnicos e hoje é amplamente popular em todo o país, tanto em sua forma fresca quanto congelada. Na Europa, o cenário é de oportunidade a ser explorada, com um consumo per capita de apenas 39 gramas anuais, concentrado principalmente em grupos de origem latino-americana, asiática e africana.
Resiliência e Oportunidades no Mercado Norte-Americano
Apesar do recente aumento de tarifas de exportação imposto pelos EUA, a tilápia brasileira demonstrou resiliência. Em agosto de 2025, primeiro mês de vigência da medida, a queda nos embarques foi de 32% em toneladas na comparação com agosto de 2024, um recuo menor do que o projetado por especialistas. “O resultado mostra que o setor continua presente no mercado norte-americano, mesmo no cenário atual”, afirma Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa e um dos autores do estudo.
A pesquisa aponta que, além do já estabelecido mercado de filés frescos, há uma grande oportunidade para o Brasil ampliar a exportação de tilápia congelada para os EUA, um segmento com demanda significativamente maior. Outras tendências a serem exploradas incluem:
- A valorização do produto brasileiro em nichos premium devido à sua alta qualidade.
- A crescente demanda por rastreabilidade e produtos com maior valor agregado, como empanados e novos cortes.
Estratégias para Conquistar o Consumidor Europeu
No continente europeu, o caminho para a expansão passa pela diferenciação e pela construção de mercado. A pesquisa da Embrapa sugere que o Brasil pode capitalizar a boa reputação de seu filé fresco, aproveitando a vasta malha aérea para garantir a entrega de um produto de alta qualidade. “Será necessário um trabalho robusto de divulgação dos produtos brasileiros e desenvolver a demanda por tilápia fresca, que atualmente é baixa na Europa”, projeta Pedroza.
Um fator conjuntural favorável é o aumento nos custos da tilápia chinesa, principal concorrente, devido à alta nos preços de ração e transporte, o que torna o produto brasileiro mais competitivo. O principal desafio no mercado europeu será posicionar a tilápia para além dos nichos étnicos, competindo com outros peixes de carne branca e destacando a qualidade como um diferencial estratégico.
O Brasil consolidou sua posição no cenário global da piscicultura, saltando da oitava para a quarta posição entre os maiores produtores mundiais de tilápia entre 2013 e 2023, com um crescimento de 161% na produção, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O estudo da Embrapa oferece, agora, as diretrizes para que essa força produtiva se traduza em uma presença ainda mais marcante no comércio internacional.
Referência: Embrapa











