Fonte CEPEA
Milho - Indicador Campinas (SP)R$ 70,30 / kg
Soja - Indicador PRR$ 135,45 / kg
Soja - Indicador Porto de Paranaguá (PR)R$ 141,75 / kg
Suíno Carcaça - Regional Grande São Paulo (SP)R$ 12,75 / kg
Suíno - Estadual SPR$ 8,82 / kg
Suíno - Estadual MGR$ 8,44 / kg
Suíno - Estadual PRR$ 8,31 / kg
Suíno - Estadual SCR$ 8,28 / kg
Suíno - Estadual RSR$ 8,35 / kg
Ovo Branco - Regional Grande São Paulo (SP)R$ 136,02 / cx
Ovo Branco - Regional BrancoR$ 139,36 / cx
Ovo Vermelho - Regional Grande São Paulo (SP)R$ 149,66 / cx
Ovo Vermelho - Regional VermelhoR$ 151,76 / cx
Ovo Branco - Regional Bastos (SP)R$ 129,00 / cx
Ovo Vermelho - Regional Bastos (SP)R$ 144,66 / cx
Frango - Indicador SPR$ 8,10 / kg
Frango - Indicador SPR$ 8,16 / kg
Trigo Atacado - Regional PRR$ 1.183,62 / t
Trigo Atacado - Regional RSR$ 1.042,10 / t
Ovo Vermelho - Regional VermelhoR$ 144,47 / cx
Ovo Branco - Regional Santa Maria do Jetibá (ES)R$ 136,56 / cx
Ovo Branco - Regional Recife (PE)R$ 128,40 / cx
Ovo Vermelho - Regional Recife (PE)R$ 155,00 / cx

Fala Agro

O abismo entre a inovação e o básico: a ponte que ainda precisamos construir, por Ednilson Zotesso Fávaro

Descubra como a inovação no agro pode ser desafiadora. Estamos realmente prontos para sustentar essa inovação na operação?

O abismo entre a inovação e o básico: a ponte que ainda precisamos construir, por Ednilson Zotesso Fávaro

Querido Leitor, hoje venho até você para fazer uma provocação, um alerta e uma análise junto contigo.

Em muitos momentos nos já ouvimos, vimos e falamos que o setor agropecuário é aclamado como um dos mais inovadores da economia brasileira. De fato, é difícil negar os avanços: automação, inteligência artificial, sensores remotos, biotecnologia, rastreabilidade e nutrição de precisão estão cada vez mais presentes em propriedades, fábricas e centros de distribuição.

Mas há uma pergunta que poucos ousam fazer com a devida profundidade, talvez por medo da resposta: estamos realmente prontos para sustentar essa inovação na base da operação? Ou melhor: estamos formando os alicerces dessa ponte, ou estamos apenas pintando o arco sem jamais fixá-lo ao chão?

O que se vê com frequência, é o surgimento de um abismo entre a inovação e o básico. Um vão perigoso que separa a ambição tecnológica da realidade vivida por operadores, técnicos e gestores no dia a dia das unidades agroindustriais. Aqui vem o meu alerta.  Essa ponte, se mal planejada, ou construída sem alicerce, não apenas não se completa — ela ruirá, e com ela cairão expectativas, recursos e, pior ainda, a confiança das equipes.

Figura 1 – A Ponte Entre o Básico e a Inovação

Fonte: Adaptado de Kotter (1996), Fávaro (2025)

A Base é Gente. E Gente se Prepara

A verdade é que nenhuma tecnologia, por mais avançada que seja, conseguirá performar em seu potencial máximo se aplicada em estruturas despreparadas. E aqui estamos falando tanto de estrutura técnica quanto humana.

O treinamento da equipe é, de fato, o grande pilar negligenciado em muitas estratégias de inovação. Fala-se em sensores e software, mas pouco se fala em capacitar operadores para interpretar dados ou entender seu papel dentro de um novo sistema de gestão.

Peter Senge (1990) já dizia que organizações que aprendem são aquelas que expandem continuamente sua capacidade de criar o futuro. E essa expansão não ocorre por decreto, mas por meio de pessoas que aprendem juntas, com propósito e direção.

John Kotter (1996), por sua vez, descreve que mudanças organizacionais bem-sucedidas seguem uma sequência: primeiro se cria um senso de urgência, depois uma visão clara, depois capacitação. Sem isso, a mudança é só cosmética — e será rejeitada pelos mesmos que deveriam colocá-la em prática.

Idalberto Chiavenato (2005), referência nacional em gestão, reforça: não há resultado sustentável sem formação contínua e cultura organizacional alinhada.

Os Pilares da Transformação: De Dentro para Fora

Ao observar as fábricas, granjas, laboratórios e centros logísticos do setor, percebemos que os desafios de implantação de inovações não estão nas tecnologias em si, mas em cinco pontos críticos que precisam ser pensados como pilares de sustentação:

  1. Diagnóstico da maturidade operacional e cultural
    É preciso saber em que ponto estamos antes de definir onde queremos chegar. Muitos projetos falham porque partem de premissas idealizadas sobre o nível de preparo da equipe.
  2. Planejamento formativo estruturado e contínuo
    Não se trata de treinar uma vez. É preciso desenvolver competências de forma modular, prática e adaptada ao público. Aqui se reforça a máxima: quem entende, participa — quem participa, transforma.
  3. Multiplicadores internos como espinha dorsal
    Toda equipe tem líderes informais. Quando bem preparados, eles se tornam os maiores aliados da mudança. Quando ignorados, se tornam obstáculos invisíveis, porém poderosos.
  4. Adoção gradual e validada das tecnologias
    Inovar não é implantar tudo de uma vez. É aplicar, testar, adaptar. Menos ruptura e mais adesão. A pressa tem matado bons projetos.
  5. Reforço de valores e reconhecimento das pessoas
    Ninguém sustenta uma ponte onde não sente pertencimento. Valorizar o conhecimento local e reforçar o papel de cada um no sucesso do todo é essencial.

A Realidade nas Fábricas de Rações: Quando o Futuro Chega e Ninguém Está Pronto

Nas fábricas de rações, onde eficiência, qualidade e biossegurança se entrelaçam o tempo todo, essa discussão se torna ainda mais concreta. O impacto de uma inovação mal implementada é imediato: desvio de fórmula, falhas no controle de umidade, paradas técnicas inesperadas, contaminações cruzadas, perdas, custos, entrega abalados, confiabilidade e imagem deterioradas são algumas das consequências.

Já vimos, por exemplo, equipamentos de dosagem de última geração subutilizados porque os operadores continuaram agindo como faziam há anos. Ou softwares de rastreabilidade funcionando apenas “para inglês ver”, porque a cultura interna não foi preparada para registrar com rigor ou interpretar com precisão os dados gerados.

José Dornelas (2001) afirma que inovação não é sobre ter ideias — é sobre implementá-las com sucesso. E isso exige mais do que orçamento: exige base, disciplina e gente comprometida.

O mais preocupante? Muitas dessas fábricas já investiram pesado em inovação como a salvação ou a bala de prata. Não se trata de falta de recurso. Trata-se de não formar a base da ponte antes de tentar atravessá-la.

O Que Fazer, Então? Como Preparar a Ponte?

Se você, leitor, está envolvido em processos de inovação ou qualquer outro projeto, seja como gestor, coordenador técnico ou investidor, é hora de olhar para dentro e responder:

  • Minha equipe está preparada para aplicar as mudanças que estamos propondo?
  • Nossos líderes intermediários estão engajados no processo ou apenas cumprindo ordem?
  • Temos indicadores reais de aprendizado, aderência e domínio técnico?
  • Estou preparado para arcar com os custos iniciais e de manutenção que são inerentes a qualquer projeto?
  • O novo que estamos implementando resolve um problema real ou é apenas vitrine?

As respostas sinceras a essas perguntas ajudam a desenhar um caminho possível e sólido.

A recomendação dos especialistas converge para um conjunto claro de ações:

  • Diagnosticar antes de intervir
  • Planejar antes de implantar
  • Treinar antes de cobrar
  • Ajustar antes de expandir
  • Reforçar sempre após implantar

E sobretudo: envolver as pessoas — do início ao fim. Não há inovação sem gente. Não há futuro sem base.

Conclusão: A Inovação é o Arco, a Base é o Chão

O setor agropecuário brasileiro tem sido um exemplo global de competitividade, produtividade e reinvenção. Mas todo esse potencial pode ser desperdiçado se insistirmos em construir pontes que não se conectam ao chão.

O abismo entre o básico e o avançado não se resolve com boas intenções ou com um novo investimento. Ele se resolve com preparação, com escuta, com humildade técnica e com estratégia de gente.

Treinar, desenvolver, comunicar, ajustar. Esse é o verdadeiro ciclo da inovação aplicada.

E quando a ponte for, enfim, construída sobre bases firmes, os resultados não tardarão:

  • Aumento da produtividade por operação
  • Maior retorno sobre investimento tecnológico
  • Engajamento de equipes com clareza de propósito
  • Redução de falhas e retrabalhos
  • Maior capacidade de adaptação às transformações do mercado

A pergunta final é: estamos construindo a ponte com base ou apenas tentando pular o abismo? A resposta pode definir o futuro da sua unidade, da sua equipe — e do agronegócio como um todo.