
Após décadas de sucesso na redução da excreção de fósforo (P), a suinocultura mundial volta suas atenções para um desafio complexo e urgente: o gerenciamento do nitrogênio (N). Sendo o segundo nutriente mais oneroso na dieta animal e um precursor significativo de emissões de amônia (NH₃) e óxido nitroso (N₂O), o controle do nitrogênio exige uma abordagem sistêmica que integre nutrição de precisão e manejo avançado de dejetos.
Abaixo, detalhamos um roteiro técnico com 20 estratégias essenciais para mitigar emissões, reduzir custos e transformar passivos ambientais em ativos agronômicos de alto valor.
Nutrição de Precisão: O Combate Começa no Cocho
A eficiência na conversão do nitrogênio ingerido em proteína animal é a primeira linha de defesa. Ajustes finos na dieta podem reduzir drasticamente a excreção urinária, principal fonte de volatilização de amônia.
- Redução da Proteína Bruta (PB): O balanceamento exato de aminoácidos permite diminuir o teor total de proteína da dieta, cortando o excesso de N excretado.
- Uso de Aminoácidos Cristalinos: Substituir parte das farinhas proteicas por aminoácidos sintéticos atende à demanda nutricional sem sobrecarregar o metabolismo do animal.
- Formulação via Digestibilidade Ileal: Utilizar o conceito de digestibilidade ileal padronizada otimiza a absorção, podendo reduzir o nitrogênio urinário em até 20%.
- Modulação da Fermentação Intestinal: A inclusão de fibras solúveis (como polpa de beterraba ou DDGS) desvia o N da urina para as fezes, onde é mais estável, convertendo ureia em proteína microbiana.
- Proteínas de Digestão Lenta: Ingredientes como farinha de canola promovem maior aproveitamento microbiano no intestino grosso.
- Sincronia Proteína-Amido: Alinhar as taxas de digestão desses dois componentes maximiza a retenção de nitrogênio pelo suíno.
- Aditivos Estratégicos: O uso de proteases, prebióticos e amido resistente melhora a digestibilidade geral e a captura de N.
- Nutrição por Fases Dinâmica: Ajustar a dieta com frequência, acompanhando o enchimento dos silos, evita o fornecimento de proteína acima da exigência daquela fase de crescimento.
- Alimentação de Precisão (Precision Feeding): Tecnologias de automação que misturam rações em tempo real para atender à curva de crescimento individual de cada animal.
- Saúde Intestinal: Animais saudáveis, com menor estresse ao desmame e livres de doenças entéricas, absorvem melhor os nutrientes e desperdiçam menos nitrogênio.
Gestão Inteligente de Dejetos: Do Passivo ao Fertilizante
Uma vez excretado, o nitrogênio deve ser estabilizado e aplicado com rigor agronômico para evitar perdas para a atmosfera ou lençóis freáticos.
- Separação na Origem: Sistemas como correias em V nas baias separam fezes e urina imediatamente, impedindo a reação química que gera amônia.
- Separação Sólido-Líquido: O uso de centrífugas ou prensas reduz a carga de nutrientes nos efluentes líquidos quando a separação na origem não é possível.
- Acidificação dos Dejetos: A redução do pH mantém o nitrogênio na forma de amônio (NH₄⁺), que não volatiliza, melhorando o ambiente interno da granja.
- Cobertura de Lagoas: Estruturas de cobertura limitam a troca gasosa com a atmosfera e possibilitam a captura de biogás (metano).
- Sincronia de Aplicação: Aplicar o biofertilizante no momento de maior demanda da cultura agrícola (milho, soja, pastagem).
- Aplicação Localizada: Posicionar o dejeto próximo às raízes para maximizar a absorção.
- Incorporação Imediata: A injeção no solo ou incorporação rápida evita perdas por volatilização superficial.
- Janela Climática: Evitar aplicações em dias de vento forte, calor excessivo ou chuva iminente para prevenir deriva e lixiviação.
- Calibração de Equipamentos: Garantir a uniformidade da aplicação para evitar zonas de superdosagem ou carência.
- Monitoramento Analítico: O uso de sensores e análises laboratoriais de solo e dejeto permite a aplicação em taxa variável, fechando o ciclo da precisão.
Referência: Pork Business












