
Enquanto o setor avícola concentra esforços massivos em protocolos de biosseguridade para conter a Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), uma crise silenciosa e persistente afeta quem está na linha de frente das operações de emergência sanitária. Dados apresentados pela AgriSafe Network revelam um cenário alarmante: mais da metade dos trabalhadores envolvidos em ações de despovoamento (abate sanitário de plantéis) manifestam problemas de saúde mental durante e até seis meses após o evento. O impacto vai muito além dos prejuízos econômicos, atingindo a estabilidade emocional de produtores, funcionários, veterinários e até de suas famílias.
O fenômeno é impulsionado pelo que especialistas denominam “paradoxo do cuidado e da morte”. Tara Haskins, diretora de saúde da AgriSafe, explica que esse conflito surge quando profissionais, cuja vocação e rotina são dedicadas a proteger e cuidar das aves, são subitamente encarregados de realizar a eutanásia em massa dos animais. Esse choque moral pode desencadear o Estresse Traumático Induzido pela Perpetração (PITS), uma condição distinta do estresse pós-traumático tradicional, observada anteriormente em veteranos de combate e agora identificada em trabalhadores rurais.
Os sintomas desse trauma são variados e afetam a capacidade laboral e a vida pessoal:
- Físicos: Fadiga crônica, dores de cabeça, distúrbios do sono e alterações no apetite.
- Cognitivos: Dificuldade de concentração e lapsos de memória.
- Emocionais: Sentimentos profundos de culpa, isolamento, tristeza e perda de autoconfiança.
Para mitigar esses danos, a Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA) defende que o suporte psicológico deixe de ser uma medida apenas reativa. A recomendação é integrar o aconselhamento sobre estresse mental diretamente nos planos de contingência e preparação para desastres das granjas. Estratégias como programas de apoio entre pares (onde trabalhadores experientes orientam os novatos) e reuniões de equipe para normalizar a discussão sobre o luto e o estresse são ferramentas essenciais para construir resiliência e reduzir o impacto humano das crises sanitárias.












