
Os mercados de carbono representam uma extraordinária oportunidade para a pecuária da América Latina e seu potencial deve ser desenvolvido com trabalho de colaboração entre governos, o setor privado, o setor acadêmico, a sociedade civil e produtores, de acordo com as conclusões de um seminário realizado na sede central do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
A capacidade da atividade pecuária na região para o sequestro de carbono nas terras pastoris contribui para a mitigação da variabilidade climática e é uma atraente possibilidade que pode trazer investimentos, concordaram os participantes no evento.
Durante o seminário, que contou com diferentes painéis de exposição e debate, foi discutido quais são os mercados de carbono, foram exploradas as alternativas para financiar projetos de captura de carbono na pecuária, foi revisada a realidade atual na região e se compartilharam metodologias e ideias para atingir, por meio de passos concretos, o seu verdadeiro potencial.
Assistiram funcionários de ministérios e organismos internacionais, representantes do setor privado e do setor financeiro e associados de federações e cooperativas.
Durante a abertura da jornada participaram o Ministro de Agricultura e Pecuária da Costa Rica, Víctor Carvajal, e o Subdiretor Geral do IICA, Lloyd Day.
“A pecuária contribui para a segurança alimentar e nutricional e para gerar renda para as comunidades rurais, empoderar mulheres e dar emprego aos jovens. Consideramos que existe uma grande oportunidade para produtores pecuários e para governos, por meio da vinculação com os mercados de carbono, e precisamos tornar esse potencial uma realidade”, disse um dos representantes.
“Para isso é necessário trabalhar as políticas, a ciência e as finanças necessárias”, explicou. “Devemos nos concentrar nas estruturas regulamentares e em incluir a agricultura familiar. Estamos pedindo a colaboração entre os diferentes atores.”
Carvajal, pelo seu lado, deu detalhes da recente negociação da Costa Rica com um organismo internacional de crédito para investimento no setor agropecuário, por meio de um esquema de pagamentos por resultado:
“Incorporamos diferentes elementos importantes para a pecuária costarricense, como a metodologia para a quantificação efetiva do carbono nos solos e a estratégia para comercializar esse carbono, agrupando pequenos criadores de gado. Daqui a quatro anos devemos ter mil criadores de gado recebendo pagamentos por serviços ambientais, graças à captura de carbono no solo.”
Lloyd Day se concentrou no extraordinário valor do setor pecuário em geral e do de laticínios em particular nas Américas e no mundo:
“Na nossa região, a pecuária e os laticínios estão dando passos muito importantes para implementar práticas tendentes a reduzir o seu impacto no meio ambiente. E é fundamental que os setores alheios ao agro saibam disso. Hoje o setor agropecuário alimenta 8 bilhões de pessoas no planeta de forma mais eficiente que nunca e nos próximos 25 anos serão 2 bilhões de pessoas mais”, assegurou.
O Subdiretor Geral do IICA sublinhou que 1,3 bilhão de pessoas dependem da pecuária no mundo para gerar renda. E é imperativo deixar clara a contribuição dessa atividade para as três dimensões da sustentabilidade: econômica, social e ambiental.
“Por tudo isso, devemos trabalhar arduamente para desbloquear os mercados de carbono para a pecuária na América Latina, o que aumentará a competitividade dos nossos criadores de gado.”
Atividade prioritária
Na América Latina há cerca de 4 bilhões de cabeças de gado para carne e leite, quase a metade no Brasil, destacou um dos especialistas presentes.
“A atividade é muito importante e prioritária para todos os nossos países, apesar da grande heterogeneidade. O Brasil e a Argentina são exportadores e outros são importadores netos, e por isso é difícil generalizar o que acontece na América Latina. De todas as formas, produzimos 23% da carne do mundo e esse parâmetro tem crescido. Na produção de laticínios, somos responsáveis por 11% e 12% da produção mundial”, explicou.
O dirigente advertiu que não há uniformidade de critérios ou significados sobre o conceito de “pecuária sustentável” na região e que a construção de indicadores e objetivos no nível regional é uma agenda ainda pendente. Também considerou que é necessário avançar com uma estratégia de comunicação regional para fortalecer a defesa das boas práticas pecuárias que se empregam no continente ante o âmbito internacional.
Outro especialista explicou o funcionamento dos mercados de carbono regulamentados no artigo 6 do Acordo de Paris e disse que o grande desafio estratégico na tomada de decisões empresariais é deixar de investir em ativos que não poderão ser amortizados e investir nos que têm futuro.
Destacou, nesse sentido, a centralidade das soluções baseadas na natureza para atingir os objetivos do Acordo de Paris e se referiu à grande oportunidade do setor agropecuário como o único âmbito de produção que pode se transformar em um grande capturador de carbono.
Porém, advertiu sobre o extraordinário volume dos investimentos necessários para transformar os sistemas de produção e atingir as metas de mitigação estabelecidas em Paris: entre 130 e 250 trilhões de dólares até 2050, dos quais os mercados de carbono contribuirão com 5% a 10%.
“Os mercados de carbono são essenciais para que as externalidades negativas tenham um custo e as externalidades positivas recebam uma renda. Devem ser gerados os recursos e capacidades para que os produtores pecuários monetizem suas boas práticas”, concluiu.
Outro participante assegurou que já existem no mundo e na região muitos exemplos de sucesso e que é necessário escalar esses programas. Nesse sentido, explicou que o tamanho potencial dos mercados de carbono na América Latina está em uma faixa de entre 25 e 60 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, o que pode representar mais de 6 bilhões de dólares em 2030.
“A oportunidade é enorme e podemos aproveitá-la, se entendermos a magnitude do tema. Existe demanda para os créditos de carbono e a pecuária tem a solução, mas precisamos de investimentos para que as coisas aconteçam”, concluiu.