
Por Lucas Rocha Valfré, mestrando em Zootecnia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
A suinocultura moderna passa por uma transformação impulsionada por avanços científicos, novas regulamentações e a crescente demanda por sistemas mais éticos e sustentáveis. O modelo tradicional de gaiolas de gestação, embora facilite o manejo, tem sido criticado por restringir o comportamento natural das matrizes, comprometendo seu bem-estar. Por outro lado, o alojamento coletivo, apesar de proporcionar maior liberdade, pode gerar disputas por alimento (Spoolder et al., 2009).
Para uma transição eficiente, é essencial garantir espaço adequado para as fêmeas exibirem comportamentos naturais, como a fuga em situações de conflito, especialmente na área do cocho, onde há maior índice de agressões (Remience et al., 2008). Ribas et al. (2015) destacam que o sistema de gestação coletiva permite a manifestação do comportamento natural das matrizes, influenciando positivamente seu bem-estar.
Além disso, esse modelo pode melhorar o conforto térmico e a qualidade ambiental nas instalações, desde que sejam adotadas estratégias adequadas de manejo nutricional e controle de interações entre os animais.
MODELOS DE GESTAÇÃO COLETIVA
Baias estáticas:
Baias Estáticas: Os grupos de fêmeas são formados no início da gestação e permanecem juntos até o pré-parto. Esse sistema exige um manejo criterioso para evitar conflitos no início da formação do grupo, pois a hierarquia social se estabelece logo nos primeiros dias.
Baias dinâmicas:
De acordo com Ribas et al. (2015), o sistema de baias dinâmicas, é ideal para grupos de 60 a 200 suínos, permite a introdução e retirada de fêmeas a qualquer momento, formando subgrupos sociais que minimizam interações negativas.
A introdução de novos indivíduos ao longo do período gestacional pode aumentar a incidência de brigas, o que exige maior atenção dos manejadores. Para evitar disputas por alimentos e lesões, é essencial agrupar suínos de tamanho semelhante, separando leitoas e primárias.
Além disso, nunca se deve introduzir uma fêmea sozinha no grupo; pelo menos três indivíduos devem ser inseridos simultaneamente para evitar agressões. Embora novas fêmeas sejam constantemente adicionadas ao grupo conforme entram na gestação, a característica tende a se estabilizar entre 24 e 36 horas após a introdução, aumentando a intensidade das disputas.
A instalação de zonas de fuga para separação dos subgrupos e um hospital da baía para animais debilitados também é recomendada para garantir o bem-estar animal.
Diversas granjas realizaram relatos indicando que não observaram diferenças significativas em relação ao trabalho, à produtividade ou ao bem-estar dos animais ao adotar o sistema de baias de gestação coletiva. Essa constatação sugere que a implementação desse sistema, em comparação com os métodos tradicionais, pode não acarretar alterações substanciais nesses aspectos operacionais e no desempenho zootécnico, nem comprometer o estado de saúde e o conforto das fêmeas em gestação, isso pode ser observado.
De acordo com a normativa do MAPA, novos projetos de reforma, ampliação ou construção deverão adotar o sistema de gestação coletiva para matrizes. O uso de gaiolas após a cobertura será permitido por até 35 dias. Já as granjas que utilizam gaiolas de gestação terão até 1º de janeiro de 2045 para se adaptarem ao novo sistema.
Benefícios da gestação coletiva
A transição para a gestação coletiva proporciona melhorias significativas na produção suinícola, impactando diretamente o bem-estar das fêmeas, a eficiência produtiva e a aceitação do sistema pelo mercado consumidor.
De acordo com Santos (2013), às baias de gestação coletivas proporcionam melhores condições de bem-estar para as matrizes, quando comparadas aos sistemas de gaiolas individuais de gestação
3.1. Bem-estar animal
A adoção da gestação coletiva melhora substancialmente o bem-estar das fêmeas suínas, permitindo maior liberdade de movimento e a expressão de comportamentos naturais. Entre os principais benefícios, destacam-se:
Liberdade de movimento – As fêmeas podem caminhar, deitar e levantar-se livremente, reduzindo a incidência de problemas musculoesqueléticos e melhorando sua condição física geral.
Segundo Silva (2008), os animais alojados em baias coletivas apresentam menor incidência de comportamentos resultantes do estresse ambiental, como estereotipias e interações agressivas.
Maior interação social – O convívio em grupo possibilita a manifestação de comportamentos naturais, como a formação de hierarquias e a socialização, reduzindo o isolamento social imposto pelas gaiolas.
Redução do estresse crônico – Segundo Fraser e Broom (1990), a estereotipia é uma sequência repetitiva e invariável de movimentos sem um objetivo óbvio. A gestação coletiva reduz a ocorrência de comportamentos estereotipados, como a mordedura de barras e a mastigação sem alimento, que são indicativos de estresse crônico em sistemas de gaiolas.
Além desses aspectos, pesquisas demonstram que o aprimoramento do bem-estar também pode resultar em melhor desempenho reprodutivo e maior longevidade das matrizes suínas, tornando o sistema de gestação coletiva uma alternativa sustentável e competitiva para a suinocultura moderna. Porcentagem das estereotipias das matrizes gestantes de acordo com o tipo de alojamento.
Segundo Santos (2013), a inatividade dos animais correspondeu a aproximadamente 49,88% do tempo total de observação, sendo 0,8% superior em baias individuais. Nos comportamentos ativos, os suínos em baias coletivas permaneceram 2,08% mais tempo inativos em alerta, indicando maior possibilidade de exploração do ambiente. Esse comportamento exploratório foi evidenciado pelo ato de cheirar o piso em movimentos circulares, registrado em 1,74% do tempo nas baias coletivas, enquanto nas individuais foi de apenas 0,69%, devido à restrição de espaço e liberdade de movimento.
Atendimento às demandas do mercado e padrões éticos
A crescente preocupação dos consumidores e de grandes redes varejistas com o bem-estar animal impulsiona a transição para sistemas de alojamento sem gaiolas, favorecendo a aceitação dos produtos suinícolas.
Facilidade na obtenção de certificações e acesso a mercados diferenciados:
Segundo a FUNAG (2021), “A União Europeia é o principal ator global na área do bem-estar animal, destacando-se pelo volume de pesquisas científicas realizadas, pela complexidade de sua legislação e pelo seu pioneirismo e protagonismo no cenário internacional.” Além disso, “normativas internacionais, como as da União Europeia, já exigem sistemas de alojamento que minimizem o confinamento extremo, promovendo melhores condições para os animais e possibilitando acesso a mercados premium.” Desde 1992, com a Declaração de Proteção dos Animais anexada ao Tratado de Maastricht, a UE integra o bem-estar animal em suas políticas, compromisso reforçado pelo Tratado de Amsterdã em 1999, que estabeleceu diretrizes para criação, transporte e abate humanitário, respeitando as tradições culturais e religiosas dos Estados-Membros (FUNAG, 2021).











