
“A agricultura familiar catarinense possui alta capacidade e competitividade na suinocultura, tanto no mercado interno quanto externo”.
Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e do Bloco Regional de Intendentes, Prefeitos, Alcaides e Empresários do Mercosul (BRIPAEM)
- Dado o destaque da agricultura familiar na produção suinícola catarinense, como você avalia a capacidade e a competitividade desses produtores no mercado interno e externo?
A agricultura familiar catarinense possui alta capacidade e competitividade na suinocultura, tanto no mercado interno quanto externo. Essa competitividade é resultado do profissionalismo, da excelente produtividade proporcionada por modelos cooperativistas e de integração, da responsabilidade ambiental (com exigência de três licenças), da preocupação com o bem-estar animal e, principalmente, da sanidade diferenciada, que permite Santa Catarina ser um dos estados a exportar para mercados exigentes como Japão, Estados Unidos e México.
- Quais desafios os suinocultores enfrentam para se manterem competitivos nesses mercados, considerando escala de produção, custos e exigências dos consumidores?
Os principais desafios para os suinocultores catarinenses incluem: a manutenção da sanidade do rebanho em um cenário de maior trânsito de animais de outros estados; os altos custos de produção devido à distância dos centros de produção de grãos e à dependência do transporte rodoviário (inexistência de ferrovias); as limitações para o crescimento em escala devido ao tamanho das propriedades e à concentração da produção, dificultando o manejo de dejetos; e a busca por alternativas logísticas para reduzir os custos com a alimentação animal, como a importação de milho de países vizinhos, impactada pelo preço do diesel. Apesar desses desafios, atender às exigências dos consumidores é considerado mais prático, enquanto a constante melhoria do status sanitário permanece uma preocupação constante e importante.
- Qual é o papel da suinocultura nas exportações de Santa Catarina?
A suinocultura desempenha um papel relevante nas exportações de Santa Catarina, contribuindo significativamente para os bilhões que ingressam anualmente no estado, fortalecendo a economia, cuja base é o agronegócio (mais de 50%). Como o maior estado exportador de carne suína do Brasil, a suinocultura impulsiona não apenas as exportações diretas, mas também toda a cadeia econômica associada, incluindo transporte, postos de combustível, hotelaria, entre outros. O sucesso nas exportações para mercados exigentes como o internacional eleva o ânimo e o orgulho dos produtores, refletindo positivamente na qualidade dos produtos também para o mercado interno.
- Como você apoia os suinocultores na adoção de práticas sustentáveis que conciliem viabilidade econômica e preservação ambiental?
Apoiamos os suinocultores catarinenses na adoção de práticas sustentáveis há muitos anos, visando a otimização de recursos nas propriedades. Isso inclui o investimento crescente em energias renováveis, como placas fotovoltaicas para consumo próprio e venda de excedente. Acreditamos que a implementação do biogás nas propriedades rurais, inclusive para o tratamento de carcaças (após processo adequado), trará um avanço significativo. Já existem muitas propriedades utilizando biogás, com tecnologias mais acessíveis. Além disso, incentivamos o reuso da água através de sistemas de filtragem para a primeira lavagem e a construção de cisternas, com apoio governamental através de programas e incentivos financeiros. Essas ações demonstram o compromisso dos produtores e do governo com a sustentabilidade e a preservação ambiental, contribuindo para a viabilidade econômica e a melhoria da qualidade de vida no meio rural.
- Como você avalia a adaptação dos suinocultores às novas exigências do mercado, como rastreabilidade, segurança alimentar e inovações tecnológicas?
A modernização da agricultura familiar em Santa Catarina, impulsionada pela tecnologia, tem capacitado os suinocultores a se adaptarem às novas exigências do mercado. A evolução de sistemas de alimentação (de semi-automáticos a robôs com foco em bem-estar) e tecnologias como câmeras infravermelhas para rastreabilidade e detecção precoce de problemas de saúde demonstram essa adaptação. Mesmo que nem todas as propriedades consigam investir imediatamente em tecnologias de ponta, há um reconhecimento da direção do mercado e uma busca por aprimoramento, inclusive com soluções adaptadas. Essa modernização é importante para manter os produtores na atividade, especialmente considerando o envelhecimento da mão de obra rural. As tecnologias tornam-se mais acessíveis e o apoio de empresas, cooperativas e governo é fundamental para garantir a continuidade e o crescimento sustentável da suinocultura, com rentabilidade e qualidade de vida para os produtores, facilitando a sucessão familiar.